Em outubro de 2014 o Departamento de Estado dos EUA reconhecia que a organização que identifica pela sigla em inglês ISIS (Islamic State in Irak and Syria) teria “alguns reféns norte-americanos”. Isto depois da execução dos jornalistas James Foley em 19 de agosto e Steven Sotloff a dois de setembro.
Na altura, Peter Kassig, técnico de emergência médica, capturado a 1 de outubro de 2013, era um dos reféns confirmados do EI. Foi executado em 16 de novembro. Uma outra mulher norte-americana de 26 anos, trabalhadora humanitária, raptada em agosto de 2013, permanece em cativeiro mas a sua identidade não é revelada, alegadamente para sua própria proteção. O EI pede por ela um resgate de 6 milhões de dólares.
Mas no início de 2015, ninguém no ocidente arrisca o número exato de reféns do Estado Islâmico, americanos ou de outras nacionalidades.
O próprio Governo do Presidente Bashar al-Assad poderá ter prisioneiros estrangeiros nas suas prisões, mesmo ocidentais, sobretudo se suspeitar de ligações destes a grupos jihadistas.
O que os raptos conhecidos revelam é que os maiores grupos de risco são os jornalistas e os trabalhadores humanitários que operam na Síria. Depois vêm os religiosos, que dão apoio às populações locais.
Reféns e desaparecidos
De acordo com a organização Repórteres sem Fronteiras, há cinco jornalistas estrangeiros reféns.
São eles o americano Austin Tice, Ishak Moctar e Samir Kassab, dois jornalistas da Sky News Arabia raptados em outubro de 2013 em Alepo e ainda um jordano não identificado. O seu paradeiro é desconhecido e acredita-se que possam estar retidos pelo Estado Islâmico. Outro jornalista, o britânico John Cantlie, raptado em novembro de 2012 com James Foley, tem aparecido em vídeos de propaganda a fazer a apologia das conquistas do EI, eventualmente obrigado à encenação.
Dois japoneses, um jornalista e um miliciano, e um dinamarquês não identificado, estarão igualmente detidos nas prisões do Estado Islâmico, além da americana já referida e ainda de três funcionários da Cruz Vermelha Internacional, não identificados.
Um piloto jordano terá ainda sido capturado em dezembro último, após se ter ejetado do seu F16 durante uma missão contra o Estado Islâmico. E um padre jesuíta italiano, Paolo Dall’Oglio, está desaparecido desde julho de 2013.
Bens humanos transaccionáveis
A guerra na Síria é o campo de batalha mais confuso do mundo, com vários grupos a combater entre si. O risco de um estrangeiro ser capturado por um grupo extremista islâmico e acabar vendido a outro, ou entregue como prova de lealdade, é extremamente elevado. Os reféns são considerados ‘bens’ transaccionáveis, já que podem ser resgatados por alto preço.
Por exemplo, a família de Sotloff’s admite que ele tenha sido vendido por uma brigada rebelde ao Estado Islâmico, por uma soma entre os $25,000 e os $50,000.
O caso de Peter Kassig, raptado directamente pelo grupo Estado Islâmico é uma quase excepção. A organização de Abu Bakr al-Bagdadi costuma adquirir os seus reféns a outros grupos jihadistas. Separa-os depois, de acordo com as expectativas que tem para seu uso. Os mais valiosos são transferidos para a sua capital na Síria, Raqqa, onde terá executado pelo menos cinco ocidentais entre agosto e novembro de 2014.
No entanto, os cidadãos sírios capturados com os ocidentais são muitas vezes libertados. Foi o caso de três pessoas detidas com Stoloff ou de quatro trabalhadores raptados na mesma altura dos três funcionários da Cruz Vermelha.
Os reféns ocidentais são os mais valiosos para os extremistas, já que as opiniões públicas tendem a exigir e a esperar o resgate dos seus cidadãos. Os Governos estão por isso dispostos a pagar vários milhões de euros pela libertação dos cativos. Calcula-se mesmo que seja esta uma das principais fontes de financiamento da organização Estado Islâmico e de outros grupos jihadistas.
O pagamento de resgates tem sido aceite por vários Governos.
Só em 2014 foram libertados 12 reféns, entre franceses, espanhóis, italianos, suecos e pelo menos um dinamarquês. Nenhum Governo admite ter pago qualquer soma, mencionando quanto muito a existência de “difíceis e delicadas negociações”. A Coligação internacional que combate o EI apela à recusa do pagamento de qualquer resgate, até mesmo para evitar a futura captura de mais ocidentais.
Estados Unidos e Grã-Bretanha têm sido até agora os únicos países a recusar pagar pela libertação dos seus cidadãos, preferindo investir em operações militares de libertação. Dos cinco reféns executados pelo EI desde agosto de 2014, em represália pelos ataques da Coligação, três foram americanos e dois britânicos.
Já dia 20 de janeiro de 2015, o Estado Islâmico publicou um vídeo para pedir 200 milhões de dólares de resgate por dois cidadãos japoneses capturados em agosto e em outubro, dando ao Governo japonês 72 horas para o fazer.
O primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, recusou pagar a soma exigida.