Quatro meses de combates deixaram a cidade síria praticamente destruída. Prédios desmoronados, ruas esventradas e cobertas de escombros. Pelas ruas surgem apenas combatentes curdos que há dois dias conseguiram expulsar os militantes do Estado Islâmico da cidade. Os residentes há muito que fugiram.

Kobani tornou-se o símbolo da resistência contra o movimento jihadista. A reconquista da cidade é considerada o mais importante revés para o Estado Islâmico. Mas a vitória em Kobani veio com um custo elevado.

 

“A guerra na cidade acabou, mas a tarefa mais difícil começa agora”, garante um ativista à Associated Press (AP). “Não há água, eletricidade ou sistema de esgotos”, acrescenta.

 

O oficial curdo Idriss Nassan é peremptório à AP: “Kobani está praticamente destruída”. Apenas na zona ocidental da cidade, menos fustigada pelos combates, é que se vislumbram aqui e ali alguns residentes, reporta a France Presse. São sobretudo os combatentes curdos aqueles que circulam entre escombros. Saúdam a presença de jornalistas com rajadas de Kalachnikov para o ar, fazendo um “V” de vitória.

  • Osman Orsal, Reuters
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Nawaf Khalil, um porta-voz do Partido Curdo de União Democrática, pede ao mundo ajuda. “Kobani merece apoio internacional para a sua reconstrução”, refere à AP.

 

“Queremos regressar. Mas regressar a quê?”

 

A pergunta é acompanhada por lágrimas duma mulher, uma síria refugiada na Turquia, em Suruc. A reconquista de Kobani fez reacender os sonhos de regresso ao país para milhares de refugiados.

 

As notícias no dia 26 de janeiro que davam conta da expulsão dos combatentes do Estado Islâmico da cidade foram recebidas com euforia. De várias cidades turcas chegaram imagens de festejos pela vitória curda.

Sertac Kayar, Reuters

Sertac Kayar, Reuters

A euforia, no entanto, foi estilhaçada pelos primeiros testemunhos e imagens da cidade que revelam a amplitude da destruição.

 

“Todas as casas foram destruídas”, lamenta Ahmad Kemri, de 60 anos, também ele refugiado na Turquia. À France Presse, revela que está agora num novo campo de refugiados, na cidade de Suruc, aberta há poucos dias. Aí, uma das suas vizinhas, Cemile Hasan, de 36 anos, também não mostra optimismo. “A pátria é o nosso bem mais precioso. Mas nas condições atuais, um regresso é simplesmente impossível de imaginar”, desabafa Cemile, enquanto lamenta a sua condição de “nómada”.

 

Fronteira fechada

 

A polícia e o exército turcos patrulham o posto fronteiriço de Mursitpinar, o mais próximo de Kobani, para dissuadir qualquer tentativa de regresso à cidade. “Não deixamos regressar nenhum refugiado, até ordem em contrário”, indicou à France Presse, um responsável da agência governamental turca encarregue das situações de emergência, a AFAD.

 

Na terça-feira, as forças turcas tiveram mesmo de usar gás lacrimogéneo e canhões de água para reprimir cerca de um milhar de manifestantes que se aproximavam da fronteira, em festa.

 

Além da destruição da cidade, permanecem os combates esta quarta-feira, 28 de janeiro, nas aldeias próximas de Kobani, onde os aviões da coligação liderada pelos Estados Unidos continuam a bombardear posições jihadistas. Informações da coligação apontam para mais de 13 ataques aéreos nas últimas 24 horas.

 

Um oficial do Departamento de Estado americano adiantou à Reuters que, apesar da importância de Kobani, “ninguém está a declarar missão cumprida” na campanha internacional contra o Estado Islâmico.

 

Por: Ana Sofia Rodrigues