O último grupo de combatentes do Estado Islâmico terá sido expulso de Kobani a 26 de janeiro. O grupo de monitorização Syrian Observatory for Human Rights e o oficial curdo Idriss Nassan garantiram esta segunda-feira haver um controlo dos curdos sobre a cidade, persistindo algumas ações na zona leste da cidade, bem como o desmantelamento de algumas minas.

Os combatentes curdos ergueram uma bandeira numa colina perto da fronteira com a Turquia, local onde antes o Estado Islâmico tinha erguido a sua bandeira negra, avança a Associated Press (AP).

Rami Abdurrahhman, diretor do Observatório, com sede em Londres, adianta que a força curda foi comandada por Mahmoud Barkhadan, dos combatentes do YPG, a milícia curda conhecida por “Unidades de Protecção do Povo”.

“O Estado Islâmico está prestes a ser derrotado”, disse o oficial curdo Idriss Nassan, falando à AP da zona da fronteira síria, a meio da tarde, adiantando que “as suas defesas desmoronaram-se e os combatentes fugiram”.

As forças curdas estarão a avançar com cautela, por haver registo de que os combatentes tenham deixado várias minas no terreno, que estão a ser agora detonadas ou desmanteladas.

Gharib Hassou, um representante do PYD , o Partido Curdo de União Democrática, confirmou que ainda há combates em duas ou três ruas, acrescentando que a maioria dos militantes do Estado Islâmico fugiu. “Há muitos corpos pelas ruas, e muitos combatentes deixaram as suas armas para trás”, acrescenta Hassou.

À Reuters, Tevfik Kanat, um curdo da Turquia, que se dirigiu até à fronteira depois de saber dos avanços sobre Kobani, adiantou, por telefone, que as “pessoas estão a dançar e a cantar. Toda a gente tem um sentimento de alívio”.

Pentágono não fala de batalha ganha

O porta-voz do Pentágono, Steve Warren, não considera terminada a batalha em Kobani, nem arrisca dizer que os combatentes do Estado Islâmico tenham sido expulsos daquele território.

“Não estou preparado para dizer que a batalha foi ganha. A batalha continua”, diz Warren, que se recusou a dar uma atualização sobre a ocupação de Kobani, mesmo depois das informações dadas pelo Syrian Observatory for Human Rights. Na passada sexta-feira, o Pentágono falava de cerca de 70 por cento da cidade sob controlo das forças curdas.

Conquista emblemática

Esta é uma conquista emblemática tanto para os curdos, como para a coligação liderada pelos Estados Unidos. As informações que chegam do centro de comando dos norte-americanos dão conta de ataques aéreos em força nos últimos dias e sobretudo nas últimas 24 horas, com mais de 17 raides aéreos que terão atingido infraestruturas e posições de combate do Estado Islâmico- ataques que terão facilitado a investida em força dos curdos em terra.

O volte-face na luta contra o Estado Islâmico em Kobani, dizem os analistas, terá acontecido com a chegada ao combate dos peshmerga do Iraque em outubro. Depois de a Turquia permitir que entrassem na Síria usando o território turco na sequência de pressão internacional, estes combatentes, bastante bem armados, conseguiram neutralizar a vantagem do Estado Islâmico em termos de artilharia.

Quatro meses de intensas batalhas

A cidade foi palco nos últimos quatro meses de intensas e sangrentas batalhas entre o Estado Islâmico e os curdos apoiados pela coligação liderada pelos Estados Unidos. A localização de Kobani na fronteira com a Turquia torna-a estratégica. Tornou-se, por isso, central na batalha internacional contra os extremistas do Estado Islâmico. Alguns analistas falam de Kobani como uma cidade que está no centro dos confrontos, não tanto pela sua localização estratégica, mas sim pelo valor simbólico da sua conquista.

Desde Setembro que os ataques aéreos da coligação visam esta zona em especial. É a única situação em que publicamente é assumida uma coordenação entre os Estados Unidos e as forças curdas no terreno.

A ofensiva do Estado Islâmico começou em setembro de 2014. Os extremistas começaram por atacar cerca de 300 aldeias curdas perto de Kobani. Avançam depois para a cidade defendida pelos curdos do YPG que, em julho, tinham conseguido suster uma primeira investida. Desta vez, o Estado Islâmico consegue ocupar boa parte de Kobani. Em outubro, a ocupação dos extremistas era já expressiva. Dia 6 de outubro, os extremistas erguiam a primeira bandeira numa colina da cidade.

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O mapa da linha da frente em Kobani, a meio da tarde desta segunda-feira, mostra os avanços das forças curdas, em busca da derrota dos extremistas e sua expulsão total da cidade.

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Novo campo de refugiados

O Syrian Observatory for Human Rights divulgou no início de janeiro, que a luta por Kobani já tinha provocado a morte de 1600 pessoas. A agência turca para a gestão de situações de crise, a AFAD, fala de mais de 200.000 refugiados que passaram a fronteira para a Turquia, em fuga ao conflito.

Este domingo, a Turquia abriu o maior campo de refugiados do país, com capacidade para acolher 35 mil pessoas, vindas sobretudo da zona de Kobani. Situa-se em Suruc, perto da fronteira com a Síria. O campo tem dois hospitais, sete clínicas médicas e salas de aula suficientes para 10 mil crianças, avança à Reuters Dogan Eskinat, porta-voz da AFAD.

 

Por: Ana Sofia Rodrigues