O recurso aos telemóveis também é cada vez mais raro e o mesmo acontece com os postos de controlo que os militantes montavam para detetar “apóstatas e infiéis”. Uma “passagem à clandestinidade” que promete tornar mais complicado o esforço internacional para esmagar a organização terrorista que decretou uma “califado” nas zonas que controla no Iraque e na Síria.
Fontes no terreno disseram à Reuters que os militantes dividiram as suas forças para limitar o número de baixas.
“Aumentaram o número de quartéis generais, em vez de dois têm agora 20, com apenas 3 ou 4 pessoas em cada um”, disse uma das testemunhas.
Um Sheik tribal de uma localidade a sul de Kirkuk disse que os militantes abandonaram uma das suas maiores bases na zona quando ouviram dizer que os ataques aéreos iriam provavelmente visar a área.
“Levaram todos os seus pertences, veículos e armas. Minaram zonas da estrada e destruíram as instalações da base”, disse o Sheik, que não quis ser identificado.
A mesma fonte adiantou que os jiadistas já não se deslocam de um lado para o outro em comboios de veículos armados com metralhadoras como anteriormente. Em vez disso, usam motocicletas, bicicletas e, se necessário, automóveis camuflados.
Tanto no Iraque como na Síria, onde os americanos e os seus aliados começaram a bombardear a 23 de setembro, os militantes islamitas reduziram a sua exposição aos media e desapareceram das ruas depois de terem reposicionado as suas armas e combatentes. Uma das suas mais recentes táticas consiste em hastear a bandeira negra do Emirado Islâmico nos telhados de vários edifícios residenciais, para criar confusão acerca do seu real paradeiro.
As testemunhas citadas pela Reuters dizem que na província iraquiana de Dyakla, os ataques aéreos forçaram os militantes a diminuir o número de postos de controle, onde costumavam inspecionar os documentos de identidade dos passantes para tentar encontrar “apóstatas”, o que para eles significa tanto muçulmanos xiitas, como polícias ou soldados.
“Estavam a executar pessoas como quem bebe água. Agora os ataques aéreos estão muito ativos e diminuíram as capacidades [dos militantes] ”, disse à Reuters o Sheik Anwar al-Assy al-Obeidi , que chefia a sua tribo em Kirkuk e no resto do Iraque.
“Onde quer que eles se escondam, as pessoas querem ver-se livres deles, porque têm medo que as suas casas sejam atingidas [pelos bombardeamentos]”, disse Obeidi, que teve de fugir para o Curdistão depois de, no verão, o Estado Islâmico ter dinamitado a sua casa.
Uma testemunha em Jalawla, disse que os militantes diminuíram a sua presença na linha da frente e já não confrontam as tropas iraquianas em grandes números.
Em Tikrit, um coronel da polícia confirmou que os militantes retiraram dos seus postos de controlo nos principais pontos da cidade para ruas laterais e escavam agora trincheiras, suficientemente grandes para albergar duas pessoas, nos quintais das residências.
“Também trocaram de automóveis nas áreas que controlam e os nossos informadores dizem que [os militantes] mudaram de telemóveis. Têm os telemóveis sempre desligados e as baterias são retiradas, quando não estão a precisar deles”.
Ao ordenar os ataques aéreos, o presidente Barack Obama disse o objetivo era o de “degradar e destruir” a força do Estado Islâmico. Os testemunhos não deixam dúvidas de que os bombardeamentos puseram os militantes na defensiva. No entanto os analistas aconselham cautela e fazem notar que a mudança de tática não significa um enfraquecimento das capacidades militares, já que infraestrutura militar do grupo armado permanece, relativamente, intacta.
Ao “passarem à clandestinidade”, e ao misturarem-se com as populações locais, os islamitas tornam-se mais difíceis de vencer através do uso exclusivo do poder aéreo. Um dado que poderá vir a forçar a coligação anti-Estado islâmico a colocar tropas no terreno. Um cenário muitas vezes rejeitado pelos políticos, mas que à luz dos últimos acontecimentos parece cada vez mais próximo.
Por António Carneiro