A localização geográfica, a cultura, o comportamento e a religião não são as únicas formas de reconhecermos o Islão num relance. Há símbolos que acompanham os muçulmanos e que revelam muito das suas crenças, se os analisarmos.

As bandeiras são exemplo disso, fundamentais na ação dos grupos jihadistas e com uma grande componente histórica e religiosa associada. Como tudo no Islão, a religião determina o mais pequeno detalhe.

Falar dos princípios islâmicos é fundamental para perceber o significado das bandeiras dos grupos radicais, suas cores e simbologia.

A generalidade das bandeiras dos países do Islão tem elementos comuns. É de salientar três características que se manifestam em quase todas as bandeiras, não necessariamente em simultâneo: a cor, os símbolos e as inscrições. Na maior parte das bandeiras islâmicas, o verde é a cor predominante. Representa o Islão e, por isso, marca a sua tonalidade. A segunda característica, os símbolos, é também um elemento de destaque. A estrela, a meia-lua e figuras com cinco pontas representam, também, a comunidade islâmica bem como os pilares fundamentais pelos quais se organizam. Ao nível das inscrições, palavras como “Allah” ou “Allah u Akbar”, que são, respetivamente, “Deus” e “Deus é grande”, encontram-se inscritas nas bandeiras. O primeiro pilar do Islão, o Ash-Shahadah, também é frequentemente encontrado.

Há cinco pilares do Islão pelos quais os muçulmanos regem a vida.

O primeiro, o Ash-Shahadah (afirmação da fé), defende que “Não há nenhum Deus senão Allah e Muhammad é o seu Profeta”.

O segundo pilar é o Saláh (oração) e consiste no ritual de rezar cinco vezes por dia.

Seguem-se o Zacát (caridade) e o Sawm, que são, respetivamente, a obrigação de oferecer 2,5% das poupanças aos pobres e carenciados e o jejum e autocontrolo durante o sagrado mês do Ramadão.

A finalizar a lista dos cinco pilares do Islão está o Hajj, que significa a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, no caso de a pessoa ser apta.

Estes princípios são relevantes para compreender o significado das bandeiras, na medida em que, a partir de 2004/5, começou a usar-se nelas a inscrição do Ash-Shahadah. Inicialmente eram opacas, em preto e branco, mas depois adotou-se a gravação do primeiro pilar do Islão nestes símbolos.

Bandeiras do Califato

A bandeira branca com as letras em preto, associada ao Califado, é chamada “al-liwa”. Quanto à preta com a inscrição em branco, tornou-se popular chamar-lhe “al-raya”, sendo conhecida também como a “Bandeira da Jihad”. Esta última tem sido apresentada de diversas formas ao longo do tempo, dando origem à do Estado Islâmico, a mais popular, atualmente.

O Islão instituiu que, quando se alcança o objetivo do conflito e é tempo de paz, sinaliza-se este momento com a entrega das bandeiras ao exército. São levantadas pelas várias divisões, regimentos e unidades. Neste caso, as bandeiras deixam de ser carregadas pelo Califa, ou por alguém por ele nomeado.

 

“Al-liwa” identifica o Califado

al-Liwa

A bandeira do Califado é branca, estando nela inscritos, em preto, os caracteres do primeiro pilar do Islão, o Ash-Shahadah. Esta insígnia é usada em combinação com a preta pelo movimento do Califado.

O uso deste elemento prende-se com o facto de, num dos dias da conquista de Meca, um profeta ter chegado ao local com uma bandeira branca içada.

Este símbolo está ligado ao líder das forças militares e é usado como um símbolo da localização do Califa. Pode, por exemplo, estar içada sobre a casa do líder do Califado. Em guerra, é o chefe das forças militares que a transporta.

 

“Bandeira Preta da Jihad”

No campo de guerra, o líder da batalha – seja o Califa ou alguém escolhido por ele – encarrega-se de transportar uma bandeira preta, a “al-raya”. Esta é, por isso, chamada a bandeira “Mãe da Guerra” por ser carregada pelo líder de guerra no campo de batalha.

A bandeira preta com caracteres em branco – o primeiro princípio do Islão – foi encontrada em páginas da internet Jihadistas sobretudo a partir de 2001. O Ocidente atribuiu a este símbolo o nome “Bandeira Preta da Jihad”.

A cor desta bandeira prende-se, alegadamente, com o facto de Maomé ter feito os seus ensinamentos sob o “padrão negro”. Este legado foi deixado pelos antigos romanos que conquistaram o mundo com a “bandeira da águia”, esta toda negra.

Este elemento, já com o Ash-Shahadah, é usado por organizações extremistas islâmicas como a al-Qaida, o al-Shabaab e o Estado Islâmico. Este último, por exemplo, atribuiu ainda à bandeira com a inscrição o selo histórico de Maomé, o verdadeiro profeta segundo os muçulmanos, criando um dos símbolos que caracteriza este grupo.

 

Selo de Maomé e o Estado Islâmico

  • Bandeira utilizada pelo Estado Islâmico
  • Antiga carta com o selo de Maomé
  • Reuters

A bandeira do Estado Islâmico é historicamente conhecida como “Bandeira Negra”, embora tenha adquirido várias formas ao longo do tempo. Deriva da “al-raya”, mas tem vindo a sofrer transformações.

Apesar das variadas formas adquiridas, o padrão manteve-se constante ao longo de séculos. Atualmente identifica-se sobretudo com o Jihadismo e o Sunismo Extremistas.

O texto árabe inscrito nesta bandeira volta a ser o Ash-Shahadah, o primeiro pilar do Islão. Por baixo da frase está o Selo de Maomé, chamado Khatam an-Nabiyyin. Alegadamente, trata-se de uma relíquia deixada pelo fundador do Islão, embora a sua autenticidade já tenha sido discutida. Os jihadistas adotaram o Selo de Maomé para as suas bandeiras a partir de 2006.

Possuir o carimbo do profeta de Allah nas bandeiras é, para o Estado Islâmico, uma forma de mostrar que Maomé “assina por baixo” as ações do grupo.

O Selo foi encontrado, alegadamente, no Topkapi Palace, na Turquia. Esta foi a primeira residência dos sultões do Império Otomano e albergou, durante anos, manuscritos com o Selo de Maomé. Faziam parte da coleção de relíquias sagradas do palácio, mas não deixa de haver discussão em torno da sua autenticidade.

Por João Ferreira Pelarigo