Em Agosto a ACNUR preparava 12 novos campos de refugiados, que ameaçavam desde logo não chegar para as necessidades. E onde, além da alimentação e do abrigo, se revelava necessário dar apoio psicológico a pessoas aterrorizadas, que viram familiares e vizinhos ser raptados ou executados de forma atroz.

No Iraque a prioridade das agências humanitárias é abrigar os deslocados. Demasiadas pessoas estão a viver em condições sub-humanas.

O país, já minado com um problema endémico de deslocados, está a braços com três grandes vagas de movimentos de populações que, desde janeiro de 2014, abandonaram as suas casas fugindo à violência sectária. A ReliefWeb cita um relatório do Gabinete para os Assuntos Humanitários da ONU, de 15 de agosto, segundo o qual a maioria dos deslocados iraquianos em 2014 procurou refúgio com famílias de acolhimento (32%) e 20% alugaram alojamento.

Realmente, até junho, cerca de 600.000 deslocados na província de Anbar procuraram manter-se na sua própria área de residência, junto de vizinhos, amigos e família.

Pelo contrário, na fuga de junho e meses seguintes, e sobretudo entre as populações de Niniwa e de Salah al-Din, a tendência de ficar com famílias ou em casas alugadas é muito menos marcada. A maioria ficou em comunidades e em edifícios religiosos ou abandonados. Só 4% estão em campos.

Estimamos que centenas de milhares estejam a viver em edifícios inacabados, em mesquitas, em igrejas, em parques e em escolas”, Adrian Edwards, porta-voz da ACNUR a 22 de agosto em Genebra

A Erbil, capital do Curdistão, chegaram desde junho mais de 600.000 pessoas, 400.000 dos quais fugitivas de Mossul e das regiões circundantes. Em agosto chegaram 200.000 yazidis, retirados do cerco nas montanhas de Sinjar,

Mais 12 campos

“Os campos são geralmente olhados como uma última alternativa, mas os deslocados iraquianos estão a ir para lá à mesma velocidade com se erguem as tendas – o que revela a dimensão da crise e a necessidade desesperada de abrigo”, afirmou Edwards.

Atualmente, dois campos, o de Badjet Kandela no governo-geral de Duhok e o de Baharka em Arbil, acolhem 21.000 pessoas e estão a ser ampliados. Doze a 14 novos campos deverão abrir em breve, incluindo três em Sulaymaniyah, seis em Dohuk (dois quais Khanke e Zakho estão já em construção) e três em Arbil – após que existirá capacidade para alojar 85.000 pessoas. E outros locais para mais campos estão já a ser estudados.

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Mas a pressão sobre as populações locais exige uma solução rápida. O sul está a ser encarado como alternativa e centenas de famílias de Ninewa estão a deslocar-se  para Najaf, Kerbala, Bassorá, Wassit e Missan.

O sul do Iraque está por isso igualmente a ser preparado para receber deslocados do norte, sobretudo populações xiitas mas não só.

  • O avanço do EIIL terá resultado num número estimado de 1.45 milhões de deslocados (ONU)

Há ainda milhares de pessoas deslocadas em áreas referidas como Áreas Fronteiriças Internas sob Disputa com serviços, comércio e sistemas de energia e de transporte a ser desestabilizados ou destruídos. E, tal como na Síria, muitas famílias estão a ser vítimas de extorsão e de ameaça de morte se não pagarem salvo-condutos a grupos armados locais.

Um reino de terror agravado por rumores e boatos que circulam livremente muitas vezes alimentados pelo próprio EIIL.

“As nossas equipas de proteção falam-nos de uma profusão de relatos sobre mulheres de Sinjar e de Mossul, de vários grupos minoritários, raptadas por vários grupos armados e detidas em múltiplos locais. Algumas têm sido forçadas a converter-se ao Islão e há relatos de outras a serem traficadas pelos grupos armados, dentro e fora do Iraque”, diz Edwards.

Dar apoio de comunicações móveis tornou-se por isso uma outra prioridade das agências. Restaurar linhas de comunicação e providenciar e reforçar a capacidade de servidores de telecomunicações está a ser considerada uma área prioritária, para possibilitar às famílias contactarem, restabelecerem laços e saber do destino uns dos outros. Uma ajuda psicológica vital para quem perdeu tudo exceto a própria vida.

Por Graça Andrade Ramos