Mais de 50 corpos da tribo foram descobertos num poço a três de novembro de 2014.
Pelo menos 65 membros da Albu Nimr foram também raptados e feitos reféns dos jihadistas, afirmou o ministério iraquiano dos Direitos Humanos.
Já o sheik Naeem Gu’ood, um dos líderes da Albu Nimr, fala de 62 membros da tribo executados, a maioria pessoas deslocadas das margens do rio Eufrates.
Duzentas pessoas estarão cercadas e poderão ser igualmente massacradas na aldeia de Ras al-Maa, a norte de Ramadi, perto do lago Thar Thar. Mais 120 famílias, advertiu o sheik .
O mesmo sheik denunciou o massacre a tiro de 36 pessoas, 29 homens, quatro mulheres e três crianças, executadas “uma a uma” na praça pública de Ras al-Maa. E deixou um apelo angustiado:
“Estes massacres vão repetir-se nos próximos dias a não ser que o Governo e as forças de segurança ajudem as pessoas encurraladas”.
Haverá ainda 275 desaparecidos. De acordo com Gu’ood, os jihadistas prenderam diversos membros da tribo nos distritos de Anna, Rawa, Rutba e Qaim.
Quinta-feira dia 30 de outubro haviam sido já descobertas duas valas comuns, uma perto da cidade de Hit e outra na cidade de Ramadi. Continham pelo menos 220 corpos. As vítimas eram polícias e membros da milícia anti-Estado Islâmico, chamada ‘Sahwa’, que significa acordar. Pertenciam à Albu Nimr e foram executadas pelo Estado Islâmico.
A tribo Albu Nimr tem sido uma das mais ativas na resistência ao EI e está a pagar o preço. A sua região, Hit, a norte de Ramadi, é também crucial para o Estado Islâmico que pretende garantir o domínio da zona leste da província de al-Anbar e posições a partir das quais possa lançar assaltos contra Bagdade. O Estado Islâmico conquistou a cidade no início de outubro enfrentado com brutalidade a resistência local, tribal e das forças iraquianas de segurança auxiliadas por milícias xiitas.
Os responsáveis provinciais terão lançado uma operação em larga escala para tentar encontrar os desaparecidos. Mas as esperanças de socorro são ínfimas. O presidente do conselho provincial de al-Anbar, Karhut, afirma ainda que o EI obrigou centenas de pessoas da Albu Nimr a abandonar a zona de Hit e a irem para o deserto, sem comida nem água.
Karhut disse igualmente que os membros da tribo estavam a ser treinados para integrarem com o exército uma força terrestre iraquiana que preparava uma ofensiva contra o EI em al-Anbar. E apelou ao auxílio dos Estados Unidos, acusando o Governo de Bagdade de pouco fazer. A queixa não é nova.
A 16 de outubro, Karhut denunciou a falta de apoios de Bagdade à Albu Nimr e às forças de segurança para auxiliar na resistência ao Estado Islâmico, que dura desde janeiro. “Não fornecem as munições certas nem auxílio, apesar dos pedidos de ajuda frequentes, das tribos e do governo local” afirmou Kahut.
Aqui nasceu o Estado Islâmico
Indo da fronteira oeste do Iraque junto à Jordânia até ao centro do país, a poucos quilómetros da capital, a província de al-Anbar é habitada por tribos islâmicas sunitas e tem sido por isso um reduto natural para os jihadistas, eles próprios seguidores do ramo sunita do Islão. As intenções políticas dos radicais desagradam contudo a muitas comunidades, que lhes opõem uma resistência armada feroz.
Com a invasão norte-americana de 2001 e durante a ocupação das forças internacionais e a guerra sectária com os xiitas, al-Anbar serviu de base de operações aos grupos jihadistas, o mais poderoso das quais era a al Qaeda no Iraque (AQI).
Foi também em al-Anbar que foi concebido o embrião do grupo Estado Islâmico.
Em 2006 várias tribos aceitaram juntar-se à AQI e a outros grupos radicais sunitas para formar o Estado Islâmico no Iraque (EII), para impor a lei da sharia e a interpretação salafita do Islão.
A luta armada, uma das pastas mais importantes da nova organização, ficou liderada pelo anterior líder da AQI, Abu al-Masri e as táticas cruéis e de terror mantiveram-se sem alteração.
Inimigos e aliados
Nem todos aceitaram o EII. Muitas tribos de al-Anbar preferiram a aliança oposta, com Bagdade e os Estados Unidos. Formaram a espinha dorsal da resistência ao jihadismo radical em al-Anbar, auxiliando o exército iraquiano.
A resistência de várias tribos sunitas ao EII foi uma derrota tática para o Estado Islâmico no Iraque que falhou então a obtenção de uma ampla base de apoio tribal numa província que abarca quase um terço do território iraquiano. Os seus membros passaram a ser vistos como traidores.
Em fevereiro de 2010, o EII passou a ter um novo líder, Abu Bakr al-Bagdadi, após a morte num bombardeamento do anterior chefe, Abu Omar al-Bagdadi, um personagem esquivo e que muitos consideram uma fachada da al Qaeda. Abu Bakr assumiu também a pasta de al-Masri, morto ao lado de Abu Omar.
A partir de 2011, o raio de ação armada do EII alargou-se à Síria, aligeirando o seu domínio no Iraque e em al-Anbar.
Nos anos seguintes somou vitórias sobre grupos jihadistas rivais, sobre o Exército Síria Livre e sobre os soldados de Damasco. Garantiu domínios no leste sírio e fontes de financiamento diversificadas através do contrabando de crude e dos tributos das populações locais. Cresceu em número de homens e em poder.
Em 2013 a organização mudou de nome, para Estado Islâmico do Iraque e do Levante, EIIL. Estabeleceu a sua capital em Raqqa, na Síria. E no final do ano, em dezembro, a tática do seu líder voltou a colocar al-Anbar na lista das prioridades dos jihadistas.
Abu Bakr necessitava de uma base iraquiana para conquistar o norte e a cidade de Mossul, que lhe iria permitir submeter o vale do rio Tigre.
Em janeiro, com o auxílio das tribos suas aliadas, o EIIL ressurgiu como ameaça em al-Anbar, quando as tribos da província protestavam contra a forma como eram tratadas pelo Governo iraquiano do xiita al-Maliki. Ocupou então as principais cidades, Ramadi e Faluja, a 70 quilómetros de Bagdade.
Com este novo massacre, procura amedrontar a resistência. O novo primeiro-ministro iraquiano Haidar al-Abadi já prometeu resposta firme.