A limitação já era esperada.
“Ainda não entraram em Tikrit, sobretudo porque vai ser uma luta difícil, pois é a maior cidade que tentaram até agora reconquistar e está cheia de combatentes do ISIS (outra sigla referente ao Estado Islâmico) e está toda armadilhada, sendo essa uma das maiores preocupações” afirmava uma jornalista da al Jazeera no início da ofensiva.
“Precisamos de forças treinadas em guerrilha urbana para realizar o ataque”, disse Jawad al-Etlebawi, porta-voz da milícia xiita Asaib Ahl al-Haq (Liga dos Virtuosos, em árabe), que participa na ofensiva.
“Os jihadistas colocaram bombas em todas as ruas, prédios, pontes, em toda as partes”, acrescentou à Agência France Presse.
A táctica já tinha sido usada pelos extremistas, que haviam colocado minas e bombas em praticamente todas as estradas que levavam a Tikrit. Casas em várias aldeias e povoados estavam igualmente armadilhadas.
Apesar de seguro, o avanço para cercar Tikrit foi por isso lento, pois cada mina ou bomba de estrada detectada obrigou à paragem das colunas militares até o caminho ficar desimpedido.
Só na estrada entre Samarra e Dour, uma única unidade de desminagem desactivou 104 engenhos, a maioria na zona do Sheik Mohammed, a norte de Samarra.
O perigo de bombistas suicidas foi outra ameaça concreta, tendo-se registado pelo menos dois casos que não fizeram vítimas.
Registaram-se combates em toda a província de Salah ad-Din, da qual Tikrit é a capital, tendo sido recuperadas várias localidades e um vasto campo petrolífero. A leste da província, a estrada que liga a capital iraquiana, Bagdade, ao Curdistão iraquiano, foi bloqueada pelas Forças de Segurança iraquianas. No sudoeste de Samarra, uma área onde o EI gozava de liberdade de movimentos, foram colocadas várias unidades militares.
A 15 de março as tropas iraquianas cercavam Tikrit pelo sul, norte e leste.
A oeste, na Base Speicher, reuniram-se milhares de homens das Forças Especiais iraquianas e da Mobilização Popular, à espera de ordem para avançar sobre a cidade e subjugar as tropas islamitas com o apoio de pelo menos 4.500 elementos das forças tribais.
As tropas, compostas por Forças de Segurança iraquianas, unidades tribais sunitas e milícias de voluntários xiitas, a Mobilização Popular, estão parcialmente sob comando das forças secretas da elite militar iraniana. Uma circunstância que preocupa os Estados Unidos.
Media iraquianos e iranianos confirmam que é o general Qassem Suleymani, comandante da unidade de operações secretas das forças de elite da Guarda Revolucionária, a Força Quds, quem comanda operações perto de Tikrit, ao lado de generais iraquianos.
“A componente iraniana nesta operação é enorme”, referem repórteres no local.
A Coligação tem estado ausente da ofensiva, como é habitual em operações que envolvem as milícias xiitas apoiadas pelo Irão. Também não há notícia de forças curdas envolvidas nos combates.
A presença do general iraniano Suleymani perto de Tikrit não é novidade, já que este tem sido observado noutras frentes de batalha nos últimos meses e sabe-se que Teerão enviou para o Iraque diversos conselheiros militares e tem apoiado milícias xiitas no terreno.
Contudo, a sua participação ao lado de forças sunitas locais, para recuperar ao EI o controlo de uma cidade sunita, é um teste para futuras operações de grande envergadura, como a reconquista de Mossul, prevista para abril na melhor das hipóteses.
“Estamos certos da vitória…. Mas a operação não é fácil”, afirmou um responsável militar no terreno à Agência France Presse.
Tikrit foi conquistada pelo grupo Estado Islâmico numa ofensiva relâmpago em junho de 2014. Desde então as forças iraquianas têm tentado retomá-la mas os islamitas têm resistido. Desta vez, a escala da ofensiva poderá fazer pender a balança para as forças iraquianas.
Pelo menos um comandante do EI foi morto e há notícia de que as forças islamitas terão retirado da zona através de Huweijah para as montanhas de Hamreen.
“É uma cordilheira enorme na fronteira entre o Irão e o Iraque e é tradicionalmente um esconderijo de combatentes”, afirmou a correspondente da Al Jazeera. Sublinhando ser impossível verificar a informação.
Graça Andrade Ramos, RTP