Pouco se sabe sobre o seu paradeiro ou personalidade, exceto que é um excelente pregador, que dirige pessoalmente as batalhas e que as suas tropas o admiram. É diplomata, ousado, ambicioso e vive rodeado de inimigos e de uma aura lendária.

Praticamente desconhecido a nível mundial até há poucos meses, o líder do grupo radical muçulmano Estado Islâmico (antigo Estado Islâmico do Iraque e do Levante) é descrito como “obscuro e misterioso” pelo jornal francês Le Monde. O seu rosto só é conhecido desde janeiro de 2014.

O jornal americano The Washington Post afirma que o líder do EI, cujo verdadeiro nome é Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai, terá nascido em 1971 perto de Samarra, a norte de Bagdade, no seio de uma família humilde. Os pais seriam muçulmanos sufi, um ramo moderado e espiritualista do islão.

Ibrahim Awwad Ibrahim foi completar os estudos teológicos em Bagdade, para se tornar pregador. Ali, a sua interpretação do Islão radicalizou-se. Pouco após a invasão norte-americana de 2003 deixou a pequena mesquita onde pregava perto de Samarra e ingressou nas fileiras jihadistas. Era então conhecido como Abu Du’a.

As actividades dos militantes sunitas no Iraque eram nesse período coordenadas por al-Zarqawi, o líder do grupo Jama’at al-Tawhid al-Jihad, que viria a tornar-se na Al Qaeda no Iraque (AQI) após prestar vassalagem a Bin Laden.

Abu Du’a ingressou naturalmente nas fileiras do movimento.

Em 2004, foi detido numa rusga americana contra jihadistas sunitas. Terá então sido encarcerado no campo de Bucca, por um período que varia entre alguns dias e quatro anos, de acordo com as fontes. Um militar norte-americano disse à CNN que, quando foi libertado, o então Abu Du’a, que viria a liderar a mais poderosa organização terrorista do nosso tempo, lhe disse, em inglês e em tom irónico, “ver-nos-emos em Nova Iorque”.

De acordo com os serviços de segurança ocidentais, Abu Du’a acabou por se tornar responsável pela coordenação de diversas operações terroristas do AQI. Estava próximo de al-Masri, o homem que substituiu al-Zarqawi após a morte deste, em 2006 e que transformou o AQI no Estado Islâmico do Iraque. Tão próximo que, quando al-Masri foi por seu turno abatido em 2010, Abu Du’a assumiu ele mesmo a liderança do EII, sob o nome Abu Bakr al-Bagdadi. Em 2011, os EUA ofereciam 10 milhões de dólares pela sua captura ou morte.

Bagdadi cabeca a premio

Autores árabes dão ao líder uma aura lendária e os seus apoiantes distribuem pelo YouTube cânticos em seu louvor. Entre as suas atribuições está uma suposta descendência do profeta Maomé.

Al Bagdadi usa mesmo o turbante negro reservado aos descendentes do profeta, como se viu numa rara fotografia do líder, captada durante uma pregação numa mesquita de Mosul, em 2014.

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Os serviços de informação iraquianos publicaram em janeiro de 2014 uma única foto do líder do então EIIL, que mostra um homem de rosto largo, calvo, barbudo e de casaco e gravata. Até aí, muitos dos seus seguidores desconheciam o rosto do seu líder.

Calcula-se que al Bagdadi seja persuasivo, pois, além de ter captado o apoio de muitas tribos sunitas do Iraque e da Síria, acredita-se que tenha consigo antigos generais de Saddam Hussein, preteridos na nova ordem iraquiana por serem sunitas e pelas ligações ao anterior regime.

Será ainda destemido, tendo provavelmente dirigido pessoalmente o avanço do seu grupo em junho e julho de 2014 a partir da Síria, para leste através do norte do Iraque até ao Curdistão.

Analistas calculam que se tivesse fixado em Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, após a sua conquista. Mas, a 10 de agosto e perante os ataques aéreos norte-americanos que dizimaram o quartel-general do grupo, al Bagdadi terá fugido, integrado numa longa coluna de carros, refugiando-se de novo na Síria.

Inimigo (para já) da Al Quaeda, da Arábia Saudita, do Irão e dos países Ocidentais, al Bagdadi é agora um homem com a cabeça a prémio e tem por isso de ter o cuidado de se rodear de homens de cuja lealdade esteja absolutamente seguro.

Tem ainda de evitar que o novo Governo iraquiano, liderado por Haidar al-Abadi desde setembro de 2014, consiga unir as fações políticas sunitas, xiitas e curdas, o que poderia retirar-lhe o apoio das tribos locais sunitas, essenciais à sobrevivência do EI.

Por Graça Andrade Ramos