De acordo com o "Departamento do Tesouro" do Estado Islâmico, os seus seis 'dinares e dirhams' irão 'libertar' os seus membros do "sistema monetário tirânico imposto aos muçulmanos.

Para a organização o mesmo sistema monetário internacional é uma razão para a escravidão e empobrecimento dos muçulmanos, assim como o delapidar das fortunas da Umma (a comunidade muçulmana mundial) tornando-a presa fácil nas mãos dos judeus e dos cruzados”, de acordo com uma tradução livre da comunicação difundida sexta-feira dia 14 de novembro de 2014.

O “Estado Islâmico” (ISIS, na sua sigla em inglês) anunciou a introdução de um sistema monetário próprio nos territórios que controla, precisamente no dia em que as suas tropas foram expulsas da maior refinaria iraquiana, em Beiiji.

Através de um comunicado difundido em sites de língua árabe, o EI explicou o sistema a implementar, que irá introduzir nos seus territórios seis moedas de três tipos: duas de ouro, duas de prata e duas de cobre.

As imagens das moedas foram difundidas por vários sites na internet. Todas possuem numa das faces as palavras “Estado Islâmico” escritas no centro.

Na face do brasão as figuras apresentam uma data, 1435, referente ao corrente ano no calendário islâmico, além de um desenho que varia consoante o valor da moeda.

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Os cinco dinares de ouro apresentam um mapa mundi e as de um dinar de ouro, espigas de trigo.

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A moeda de 10 dirham de prata apresenta a mesquita de al-Aqsa e a de prata de 5 dirham o minarete branco de Damasco, onde deverá aparecer um dia o Messias.

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A de 1 dirham de prata tem uma espada com um escudo.

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As de cobre apresentam um crescente (10 dinares) e um grupo de palmeiras (20 dinares).

Segundo a declaração, o Estado Islâmico (ISIS) explica a introdução de uma moeda própria com o propósito de se autonomizar relativamente “ao domínio mundial do sistema financeiro”, para libertar “os muçulmanos de um sistemas económico global que se baseia na usura satânica”.

Um dos grandes problemas da comunidade internacional tem sido precisamente controlar os  meios de financiamento do Estado Islâmico, que contornam os sistema financeiro mundial. No dia 23 de outubro, a administração Obama ameaçou impor sanções a quem quer que compre petróleo contrabandeado pelo Estado Islâmico.

Os islamitas controlam vários poços de petróleo na Síria e no Iraque, vendendo o crude através de redes de contrabando, abaixo dos preços do mercado. Uma fonte de financiamento calculada em cerca de um milhão de dólares diários.

No comunicado o Departamento do Tesouro do EI chama a si a organização “da cunhagem da moeda, a obtenção do dinheiro, a determinação do seu valor e a relação entre os vários tipos e como os usar”.

Moeda de ouro EI

Guardar moedas ou lasca-las

O valor das seis moedas que o Estado Islâmico vai colocar em circulação será difícil de definir. A organização terrorista afirma que cada moeda terá o valor dos próprios metais de que será feita, já que, naturalmente, não podem indexa-la, por exemplo, ao dólar.

Analistas acreditam por isso que o sistema está condenado à partida. Por um lado o Estado Islâmico pensam que o EI irá ter dificuldades em levar as populações locais a usar a nova moeda. As pessoas terão mais tendência a lascar o metal das moedas ou a guarda-las pelo metal.

Quando o ouro para fazer as moedas começar a esgotar-se, acrescentam os especialistas, o ISIS terá de diminuir a quantidade de metal incluída nas moedas, desvalorizando-as e tornando-as inúteis. Uma história recorrente em antigos sistemas monetários, lembra por exemplo Axel Merk da Merk Investments de São Francisco, à CNN.

No Financial Times, o professor Steven Hanke, da Universidade John Hopkins, comenta por seu lado que, a própria introdução da moeda poderá tornar o ISIS mais dependente de flutuações do mercado mundial, nomeadamente nos preços dos metais a que estará ligado o valor da nova moeda.

Hanke acrescenta que, “o tema mais importante é: onde é que eles conseguem o ouro e o cobre? O ISIS vai ter de confiscar mais propriedade por via do roubo e do saque de guerra”.

Até agora as populações que habitam os territórios controlados pelo Estado Islâmico  usam o dinar iraquiano, a libra síria ou, para fins comerciais, o dólar americano.

moedas EI 2

Para que irá servir a moeda do EI

O documento divulgado pelo departamento do Tesouro do Estado Islâmico afirma que a sua moeda irá ajudar a comprar abastecimentos para o Califado que, de acordo com o que afirma, está a expansão “no Iémen, em Marrocos, na Tunísia, na Argélia e na Península do Sinai no Egipto.” São locais onde grupos jihadistas locais juraram fidelidade a Abu Bakr al-Bagdadi.

Contudo a declaração do EI não explica de que forma esta moeda irá ajudar a organização a comprar o que necessita, como será ela usada em trocas comerciais ou como será convertida noutros países.

Apesar desta falta de informação, a notícia do lançamento da moeda foi celebrada por media afiliados com o ISIS como uma boa notícia para o Califado, sem questionar como será obtida.

O Conselho da Shura do Estado Islâmico irá ter ainda uma palavra final a dizer sobre a decisão de lançar esta moeda. O conselho, de nove a 11 membros, inclui o líder do Conselho Financeiro do EI, Muafa Mohammed al-Karmoush, alias Abu Salah, que não é mencionado na comunicação.