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O terror português assombra o MOTELX 2022

São sete dias e mais de 100 filmes que compõem a programação histórica da 16.ª edição do MOTELX, numa viagem pelo universo do terror vindo das mais diversas geografias, entre estreias mundiais e nacionais, cineconcertos, o lançamento de um livro inédito, masterclasses com mestres do cinema de género, workshops, um programa dedicado aos mais novos e uma particular passagem pelo passado e o presente da produção do terror português, com o apoio da Antena 3.

Já falta muito pouco para o arranque da 16.ª edição do MOTELX: de 6 a 12 de setembro, no Cinema São Jorge e noutros espaços nobres da capital, o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa vai celebrar o cinema de género nas suas múltiplas vertentes e, como sempre, cruzá-lo com várias expressões artísticas. Este ano, convidados ilustres, como o mestre do terror italiano Dario Argento ou a dupla de realizadores americana Aaron Moorhead e Justin Benson, vão misturar-se entre o público nestes sete dias tão aguardados.

Cabe a Bodies Bodies Bodies (EUA, 2022) abrir a edição deste ano do MOTELX, no dia 6. Realizado por Halina Reijn, a segunda longa-metragem desta também atriz holandesa é um slasher da geração Z sobre um grupo de jovens ricos que planeia uma festa que corre muito mal.

Na secção Serviço de Quarto, além dos já revelados Dark Glasses apresentado pelo próprio realizador, o mítico maestro Dario Argento, no MOTELX (dia 8) — ou Final Cut, de Michel Hazanavicius, junta-se Something in the Dirt, um filme dirigido, escrito e protagonizado pelos norte-americanos Aaron Moorhead e Justin Benson, que vão circular pelo festival. Uma oportunidade única para conhecer esta respeitada equipa do cinema independente, que arrisca no mercado mainstream (o filme Synchronic e a série da Marvel Moon Knight). A não perder também, em estreia nacional, Polaris (Canadá, 2022), de Kirsten Carthew, um filme pós-apocalíptico inspirado no ecofeminismo e na urgência de uma mudança cultural e sustentável significativa, caracterizado pela realizadora como o Mad Max do Ártico; e Candy Land (EUA, 2022), de John Swab, uma road trip infernal sobre sexo, religião e violência. Neste naipe, encontram-se ainda os obrigatórios Satan’s Slaves 2: Communion (Indonésia, 2022), de Joko Anwar; Ashkal (França, Tunísia, Catar, 2022), de Youssef Chebbi; Saloum (Senegal, 2021), de Jean Luc Herbulot; e Parsley (República Dominicana, 2022), de José María Cabral.

Com uma grande aposta em mulheres realizadoras, na seleção Méliès d’Argent – Melhor Longa Europeia, destacam-se a estreia mundial da produção ibérica O Corpo Aberto (Espanha, Portugal, 2022), de Ángeles Huerta, um folk horror com os atores portugueses Victoria Guerra e José Fidalgo; Nightsiren (Eslováquia, Chéquia, 2022), de Tereza Nvotová; e A Banquet (Reino Unido, 2021), a primeira longa-metragem de Ruth Paxton. A completar a lista de cinema europeu em competição, em que se incluem os previamente anunciados Os Demónios do Meu Avô (Portugal, 2022), de Nuno Beato; Criança Lobo (Portugal, 2022), de Frederico Serra, em estreia mundial; e Wolfkin (Luxemburgo, 2022), de Jacques Molitor; distingue-se também o terror psicológico do altamente perturbador Speak No Evil (Dinamarca, Holanda, 2022).

Outros momentos incontornáveis da 16.ª edição do MOTELX são as exibições de Hotel da Noiva (Portugal, 2007), de Bernardo Cabral, um filme lendário rodado nos Açores, numa Sessão Especial de culto; Inferno Rosso: Joe d’Amato on the Road of Excess (Itália, 2021), de Manlio Gomarasca e Massimiliano Zanin, um documentário sobre o versátil realizador italiano Joe d’Amato, na secção Doc Terror; e The Seed (Reino Unido, 2021), de Sam Walker, com Deadstream (EUA, 2022), de Joseph e Vanessa Winter, no regresso da Sessão Dupla à programação do festival.

A 10 de setembro, o MOTELX propõe um final de tarde especial com o projecto FILMar, entre a Cinemateca Portuguesa e o Cinema São Jorge, em que se enfrentam os medos do mar através de cinco filmes (duas longas e três curtas) e um debate, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024 e a colaboração da Embaixada da Noruega em Portugal. Dias antes, a 7, no Teatro São Luiz, em parceria com a Casa Bernardo Sassetti, é projetado o primeiro filme de terror português, Os Crimes de Diogo Alves (1911), de João Tavares (1883-1971), acompanhado por uma partitura original assinada por Bernardo Sassetti (1970-2012) e interpretada por um combo da Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação do professor Desidério Lázaro. Depois do cineconcerto, há uma conversa acerca do processo de composição para filmes mudos, com um painel moderado por Inês Laginha e formado, além de Lázaro, pelo guitarrista Tó Trips e o pianista Filipe Raposo.

No Cinema São Jorge, a nova associação de mulheres que trabalham no cinema e audiovisual, MUTIM, vai provocar um debate a partir do primeiro filme realizado por uma mulher em Portugal, Três Dias Sem Deus (1946), de Bárbara Virgínia (1923-2015), com a participação de Luísa Sequeira, autora do road movie documental sobre a cineasta que se destacou em plena ditadura.

Ainda nesta edição, assinala-se o regresso do MOTELquiz (dia 8), uma noite épica de trivia para testar os conhecimentos sobre cinema de terror e cultura pop, com prémios e surpresas à mistura (a entrada é livre, mas requer pré-inscrição).

Para que seja assegurado o melhor arranque possível para este acontecimento, o MOTELX oferece três propostas imperdíveis e de entrada gratuita no Warm-Up, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, de 1 a 3 de setembro: A Sinfonia das Trevas: 100 Anos de Nosferatu, uma experiência sonora e visual imersiva que celebra o centenário da obra de F.W. Murnau, pela companhia teatral Primeiros Sintomas (dia 1, no Convento São Pedro de Alcântara); o mockumentary neozelandês What We Do in the Shadows (2014), de Jemaine Clement e Taika Waititi, na sessão de cinema ao ar livre (dia 2, no Largo Trindade Coelho); e O Fauno das Montanhas (Portugal, 1926), de Manuel Luís Vieira (1885-1952), num cineconcerto FILMar, com música interpretada ao vivo pela Orquestra Metropolitana de Lisboa (dia 3, nos Jardins do Museu de Lisboa – Palácio Pimenta).

Nas palavras dos diretores artísticos Pedro Souto e João Monteiro, “16 anos desde a fundação do MOTELX, podemos finalmente afirmar que o grande destaque desta edição é o cinema de terror português”. A acompanhar o lançamento do livro O Quarto Perdido do MOTELX: Os Filmes do Terror Português (1911-2006), está “a exibição de filmes mudos, antigos e atuais, com a estreia de Os Demónios do Meu Avô e as estreias mundiais de Criança Lobo e da co-produção com Espanha O Corpo Aberto“.

“Se juntarmos a isto o regresso do maestro do giallo, Dario Argento, e a exibição dos melhores filmes de terror de agora, teremos sem dúvida um grande MOTELX, este ano sem restrições pandémicas”, rematam.