O Disco Disse

Jack White – Boarding House Reach

Há já quanto tempo anda por aqui este distinto cavalheiro, Quim? É que os White Stripes não soam a velhos, mas já são clássicos nascidos há vinte anos, e o bom do Jack White, o tal do renascimento rock’n’roll, como se dizia no início dos 2000 (soava esquisito então, que o rock não tinha morrido, mais cómico ainda é ouvi-lo hoje), continuou e nunca pareceu ter qualquer vontade de acalmar o ritmo.

Tradicionalista convicto, recuperou lendas country como Loretta Lynn. Gajo com sangue na guelra, meteu-se atrás da bateria com os Dead Weather, misturou rocks e progs e psychs nos Raconteurs. Pelo meio, criou os Third Man Studios, que são também editora, e fez dessa casa de Detroit verdadeira fábrica de delícias vintage e um maná para inventores da era mecânica — saem vinis em barda, grava-se com a fita tão bonita e ouvem-se discos em grafonolas irresistíveis ao olhar.

Entre isto e aquilo, ainda arranjou tempo para inventar uma carreira a solo, mesmo a solo, só com o nome dele na capa dos discos. Houve Blunderbuss, chegou depois Lazaretto, e, agora, é tempo de Boarding House Reach. Melhor, é tempo de ouvirmos um homem que já cá anda há muito, que já muito fez e que caminha para o perigoso estatuto de “instituição” trocar-nos as voltas às expectativas (e a trocar as voltas a ele mesmo).

Portanto, isto é Jack White a deixar-se ir sem ter medo de falhar, sem medo de correr o risco de aterrar em lugares pouco recomendáveis. Jack White, feliz da vida, a transformar-se em explorador do seu próprio mundo. A arriscar porque só assim é que a música tem piada. Ora, Quim, não é afinal disto que o meu povo gosta? Bora ouvir para acreditar que sim.

Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.