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Diário do Eurosonic: As Crónicas de Groningen

13 de Janeiro de 2016

13 de Janeiro de 2016, 7 da manhã e já metidos no avião para voar até Amesterdão. Seria de lá que, pela primeira vez, dois repórteres de 26 anos, de mochila às costas, ainda de olhos dormentes e com um chá quente na barriga, iriam de comboio até Groningen, no norte da Holanda, até ao festival da nova música europeia por excelência. Só hoje, em 9 horas, foram milhares de quilómetros percorridos no ar e outros tantos em terra para não perder um segundo que seja desta 30.ª edição do Festival Eurosonic. É um festival que funciona como uma mostra de novos talentos, das bandas que são a cena do momento em cada país. A europa toda está aqui, agora, nesta cidade de 190 mil habitantes e nós felizes por fazermos todos também parte disto.

“O festival tem mais anos que nós…”, brincamos. Mas não queremos que nada disso nos pare. O medo é o nosso maior inimigo e mesmo sozinhos numa cidade estranha, afinal é só assim que nos podemos descobrir também enquanto profissionais. Quanto a nós, Tiago e eu, o que temos em comum é simples: a motivação, a vontade. É de mochila às costas que queremos também fazer parte da música que um dia se vai ouvir. E é também a caminhar que queremos um dia correr.

Sabemos que começámos 2016 da melhor forma e é com a nossa Da Chick que vamos estar nos próximos dias. Aqui por Groningen descrevem-na como uma one-woman party animal e nós vamos confirmar tudo isso. Por agora está já a anoitecer e são apenas 17 horas. Estão 4 graus e parece que amanhã vai nevar. As mãos podem estar frias, mas o coração estará sempre quente. Afinal, a 3 está no Eurosonic 2016! Porque seja em Lisboa ou em Groningen, a cultura que é pop é a cultura que é nossa.

Vanessa Augusto

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14 de Janeiro de 2016

Não há muito por esconder. Os corredores, os elevadores e as salas estão ocupadas de palavras, de música acontecendo nos olhos e ouvidos de quem por aqui passa.

É a manhã número dois pela Holanda, em termos rigorosos é o primeiro despertar na cidade que abraça este Eurosonic.

Hoje é o dia da representação portuguesa. Há boa filologia pop, aterram os primeiros dos nossos lá pelo meio-dia. O aeroporto internacional Schipol foi hoje primeiro terreno físico com que se encontraram Da Chick e Branko por terras Holandesas.

Respeitadores de filões distintos em termos musicais, Teresa de Sousa e João Barbosa assinam hoje viagens para um microcosmos que é, em termos metafóricos e concretos também, uma verdadeira incubadora nos campeonatos de promoção e visibilidade.

Mas vamos aos encontros, aos locais: Huize Maas, sala templária. Nas suas elevações com candeeiros imponentes, a sala fecha-se sob um manto de esconderijo mais ou menos óbvio, capaz de verter música por qualquer seu canto. Num número total de 1000 pessoas, contando que algumas se apoderem das filas de espera dos bares e outras áreas de serviços, esta é a lotação de uma sala que não se esgota nos campeonatos de história. É lá que Da Chick assina o seu primeiro momento de história internacional nesta mostra Eurosonic. Está marcado no mapa geral do dia, sem faltas ou atrasos técnicos, 22h.

Correndo mais a norte e esquecendo um pouco do rigor de cedo despertar, é pelas 2h da manhã (sala Simplon) que Branko reescreve o seu nome no mapa de velhos amigos por estes lados. Recorda-nos a boa memória e os muitos lembretes de estudo que por cá passou com Buraka Som Sistema, em 2007. O Atlas é hoje o ponto de partida e de chegada do conclave em torno da mais atrevida música de dança nascida e criada em Portugal.

Os dias de Groningen são mais curtos que os sonhos e vontades que chegam do nosso país através dos músicos, produtores, agentes e, também, destes dois mochileiros da Antena 3 que erguem microfones e câmaras para narrar a carta da música do futuro que aqui se escreve em bom presente do indicativo.

Tiago Ribeiro

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5 de Janeiro de 2016

E se, perdidos do mundo, entrassem numa coffee shop só porque sim? Para aquecer as mãos, os pés e talvez um pouco da alma, também. E se, precisamente no momento em que entram – e no meio de alguma tentativa de conforto, começasse a tocar a Blackstar do Bowie? Dado a semana de emoções que vivemos, soa a qualquer coisa de mágico. Um esgar de espanto, olhos ingénuos arregalados e uma bicicleta abandonada que se mete no percurso obriga-nos a repensar se a realidade não será, simultaneamente, um sonho.

Ao fim de quase 72 horas em território holandês, Groningen começa a ser o ar que respiramos. Depois de um concerto de Da Chick a rasgar (palavras da nossa Teresa) e de vermos dezenas de holandesas a dançar como se ninguém estivesse a ver, dá para sentir a adrenalina que nos corre nas veias. Sentimos que aqui também já se vivemos o conforto de uma família. As ruas, já as sabemos. Já sentimos os lugares da cena, já olhamos de forma diferente para os que nos rodeiam e ponderamos se é possível que o espírito de Bowie nos tenha contagiado. Talvez sejamos também um bocadinho camaleões, talvez a nossa capacidade de adaptação ao meio, ao momento e ao tempo seja extraordinária. Afinal, temos (já) 26 anos e o mundo não espera por ninguém.

Foi assim, camaleonicamente, que durante estes três dias, passeámos do Grand Theatre à sala Vera incontáveis vezes, que vimos homens e mulheres de cortar a respiração, que sentimos o gelo nos nossos pés e que desejámos voltar aqui quantas vezes mais. Só hoje, último dia em Groningen, passámos uma tarde no Groningen Museum. A possibilidade exclusiva para conseguimos ver as chaves do apartamento de David Bowie enquanto viveu em Berlim. A sensação tremenda quando conseguimos ver, quase cheirar, aquele icónico, inesquecível, eterno fato azul que usou no vídeo de “Life On Mars?”. Conseguimos ler a sua letra. Rascunhos, pensamentos, diários. A letra de David Bowie, imperfeita como as nossas. E perfeita na imperfeição, também como as nossas. E longe de tudo isto, pensamos como seria bom ler, mais vezes, as letras de cada um. (Apenas) com 26 anos, sentimos aquela energia e isso, só nós sabemos. Tal como só nós sabemos as memórias épicas que ficam deste Eurosonic. O ano está a começar mas dá para perceber que está rapidamente a afirmar-se como o ano em que os planetas se alinham. Até mesmo sem vida em Marte, mas com Bowie omnipresente.

Groningen it’s also a fucking cool town, já diziam os Blood Red Shoes.

Vanessa Augusto

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