• Poder Soul

    29 agosto 2022 – 2 setembro 2022

    Segunda-feira

    Marvin Gaye

    What’s going on

    Motown

    Início da última semana desta série do Poder Soul. 

    Foram quase sete anos em que expus as excentricidades de um colecionador de discos e o resultado das apaixonadas investigações que estão na sua base.

    Todas as semanas, de segunda a sexta, procurei desvendar música de autores condenados ao anonimato, por muito que tenham gravado verdadeiras pérolas.

    Espero que as vossas descobertas tenham sido tão estimulantes como foram as minhas partilhas.

    Agora que chegou a hora da despedida ou, quem sabe, dum até um dia, decidi trazer aqui cinco das muitas canções que despertaram em mim tamanha paixão pela música Afro-Americana e, em particular, pela Soul.

    Marvin Gaye já era uma estrela quando gravou “What’s going on”, um Lp que esteve “congelado” entre 1970, ano em que foi gravado, e Maio de 71, a data da sua edição, por Berry Gordy Jr., o patrão da Motown, achar que seria muito arriscado e que tinha fortes probabilidades de fracassar.

    Ele que acertou tantas vezes, não podia estar mais errado e o primeiro disco em que Marvin Gaye assume a produção, controlando todo o seu processo de gravação, acabou por se transformar num dos mais importantes da história.

     

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  • Poder Soul

    29 agosto 2022 – 2 setembro 2022

    Terça-feira

    Curtis Mayfield

    Move on up

    Curtom

    Para além da missão de mostrar aqui artistas injustamente condenados ao esquecimento, o Poder Soul tentou mapear as diferentes expressões assumidas pela Soul, na vastidão do território norte-americano e não só.

    Na verdade, por muito que vejamos os Estados Unidos como um país, eles são uma federação de muitos “países”, alguns muito diferentes de outros e isso também se reflecte na sua música.

    O som de New Orleans é muito diferente do de Miami, assim como o de Memphis nada tem a ver com o de Filadélfia e por aí fora.

    Se Marvin Gaye é herdeiro da explosiva cena Rhythm + Blues de Detroit, Curtis Mayfield será o expoente máximo da Soul de Chicago, claramente mais ancorada nas raízes dos Blues e no seu processo de modernização.

    A sua influência fez-se sentir desde a segunda metade dos anos 50, quando se juntou aos Impressions, tornando-se num dos mais decisivos compositores da história Afro-Americana.

    Gravado em 1970, como tema de abertura de “Curtis”, o seu primeiro álbum a solo – “Move on up” – é uma das várias geniais canções que representam a sua fase mais decisiva. Aquela que mais marcou o futuro da Soul, seja através dos seus discos, seja através das gravações de nomes de excepção, que apadrinhou, como Leroy Hutson, Natural Four, The Notations, Babby Huey ou Linda Clifford.

     

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  • Poder Soul

    29 agosto 2022 – 2 setembro 2022

    Quarta-feira

    Minnie Riperton

    Inside my love

    Epic

    Minnie Riperton também é de Chicago, duma linhagem que incluí os revolucionários Rotary Connection, onde desempenhou um papel de relevo, ou o genial Charles Stepney, produtor, arranjador, compositor e músico que viria a mostrar o futuro às tradicionais Chess e Cadet e levar os Earth, Wind + Fire para a estratosfera.

    Uma das suas grandes representantes femininas, é também uma das minhas primeiras paixões Afro-Americanas: “Les fleurs”, “Reasons”, “Loving you” e, acima de tudo, este “Inside my love” foram canções que me quiseram mergulhar a fundo no mundo calidoscópico da Soul.

    Tal como muitos outros clássicos que poderiam ocupar esta semana final do Poder Soul, o que mais impressiona nestas canções, na sua interpretação, nos seus arranjos, na sua produção é a sua intemporalidade.

    Neste caso 1975 soa a 2022 e soará, certamente, a 2032…

     

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  • Poder Soul

    29 agosto 2022 – 2 setembro 2022

    Quinta-feira

    James Brown + Martha High

    Summertime

    Polydor

    Não sei se, como muitos pensam, a Soul seria a mesma se não tivesse tido um Padrinho deste calibre.

    De uma coisa tenho a certeza, uma brutal percentagem dos artistas que aqui trouxe, ao longo destes sete anos de que tanto me orgulho, queria ser como este génio, que pôs Cincinnati no mapa da mais influente música popular urbana.

    Foi inevitável trazer aqui muitos dos seus protegidos – de Marva Whitney, Lyn Collins ou Vicki Anderson a Bobby Byrd ou Sweet Charles – como seria lógico que usasse uma das dezenas de enormes canções que escreveu, para retratar a sua presença transversal a quase tudo o se lhe seguiu.

    Não o fiz.

    Decidi trazer aqui esta impressionante versão de “Summertime”, standard escrito por George Gershwin, porque neste dueto com Martha High, desta canção composta por judeu branco, James Brown consegue ser a corporização da própria Soul.

     

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  • Poder Soul

    29 agosto 2022 – 2 setembro 2022

    Sexta-feira

    Sly + The Family Stone

    (You caught me) Smilin'

    Epic

    Não podia chegar ao fim desta série, que tanto me marcou e que irei guardar para sempre, sem dedicar o seu último episódio a Sly Stone.

    A sua vida resume, de forma amplificada, muito daquilo que moveu os artistas que ocuparam este espaço: os seus impulsos criativos, as suas aspirações e desilusões, delírios e angústias, a injustiça da arbitrariedade a que os resultados do seu talento estavam sujeitos.

    Sly Stone foi um dos mais geniais e influentes protagonistas da moderna música Afro-Americana, um dos grandes visionários do século XX, teve tudo e, há bem poucos anos, um pouco antes de a Sony ter sido condenada a pagar-lhe cinco milhões de dólares por royalties devidos, era um mero sem-abrigo.

    Aquilo que Bootsy Collins afirmou acerca dele e da sua música será válido para muitos daqueles que fizeram o Poder Soul: “It’s a curse and a blessing. The curse part of it is the business you have to deal with, and then the blessing part is you get to be a musician and have fun…”.

    “(You caught me) Smilin’” é uma das muitas imensas canções de “There’s a riot going on”, um dos álbuns da minha vida.

    O facto de Serial a ter samplado foi uma das coisas que me fez ver, nos Mind da Gap, um grupo muito à frente do seu tempo e terem sido uma das minhas primeiras contratações em 22 anos de A&R. Nesse momento estava a inaugurar um dos períodos altos do meu currículo profissional. Neste momento estou a fechar uma aventura que não lhe ficou nada atrás, para continuar a fazer o que mais gosto: descobrir e partilhar.

    Estejam atentos…

     

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