• Poder Soul

    28 dezembro 2020 – 1 janeiro 2021

    Segunda-feira

    Stanley Cowell

    Trying to find a way

    Strata East

    Pianista, compositor e editor, Stanley Cowell nasceu em Toledo, no Ohio, em 1941.

    Começou a tocar piano com, apenas, quatro anos de idade e, ainda criança, apaixonou-se pelo Jazz, depois de ver Art Tatum ao vivo.

    Estudou música no Oberlin College Conservatory, onde se cruzou com Roland Kirk, e na University of Michigan, antes de se mudar para Nova Iorque, em 66, onde viria a colaborar com Gary Bartz, Marion Brown, Max Roach ou Bobby Hutcherson. 

    Depois de ter trabalhado com Charles Tolliver, nos Music Inc., associou-se ao trompetista para, em 71, fundar a Strata-East, marca crucial na fusão do Jazz, da Soul e do Afro-Centrismo, que nos deu obras históricas de nomes como Gil-Scott Heron, Charles Rouse, The Heath Brothers, Pharaoh Sanders, John Gordon, Billy Parker’s Fourth World, Clifford Jordan Quartet, The Descendents of Mike and Phoebe, Shamek Farrah + Sonelius Smith, JuJu ou Ensemble Al-Salaam, entre outros.

    Entre 1969 e 2020, gravou cerca de três dezenas de álbuns para editoras como a Enja, a Freedom, a Galaxy a Concord ou a SteepleChase, para além de ter participado em discos de gente como Oliver Nelson, Sonny Rollins, Richard Davis, Art Pepper ou Roy Haynes, só para citar alguns, nunca tendo visto o seu talento devidamente reconhecido.

    Deixou-nos no dia anterior à escrita deste texto…

    Gravado em 76, como tema de abertura de “Regeneration”, o único Lp a solo que editou na sua Strata-East – “Trying to find a way” – é, para mim, um dos seus mais geniais momentos.

    Um autêntica obra-prima Soul Jazz, com uma produção e uns arranjos absolutamente futuristas e uma tremenda participação vocal de Glenda Barnes e de Charles Fowlkes, que está entre a melhor música negra de sempre e que deve constar de qualquer coleção que a pretenda cobrir.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    28 dezembro 2020 – 1 janeiro 2021

    Terça-feira

    Mandisa

    Summer love

    El – Leo

    Maggie Epting é uma obscura cantora, nativa de Chicago, que apenas editou um sete-polegadas, assinado sob o pseudónimo Mandisa.

    Esse disco, fruto de um encontro casual com Prince Billy Mahdi Wright, um saxofonista, nascido William Wright, em Columbus, na Georgia, que se tinha fixado na Windy City e que viria a gravar o Lp de culto – “You got dat wright” – transformou-se num colecionável trofeu no seio da cena Modern Soul.

    Gravado em 1980, nos Omega Studios, “Summer love” foi composto, arranjado e e produzido por William Wright, que viria a regravar uma versão longa do tema, dois anos mais tarde, para o seu único e crucial álbum, editado pela misteriosa independente El-Leo Records e assegurou a Maggie “Mandisa” Epting um lugar na história.

    Uma enorme canção Soul, tingida pelo Jazz, que tendo sido desvendada depois da versão tardia do seu compositor, conquistou, imediatamente os mais ferverosos adeptos da cena especializada e foi, este ano, reeditada pela nova Discs of Fun and Love.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    28 dezembro 2020 – 1 janeiro 2021

    Quarta-feira

    Sharon Révoal

    Reaching for our star

    Forte

    Sharon Révoal foi uma misteriosa cantora, que apenas gravou este disco.

    Não andarei muito longe da verdade se afirmar que é nativa do Missouri, sem conseguir confirmar se viveria em Kansas City ou em St. Louis.

    É que o seu único sete-polegadas foi editado pela Forte Records, decisiva marca de Kansas City, fundada, em 1967, pelo compositor e produtor Ellis Taylor, e responsável pelo lançamento de discos altamente colecionáveis de nomes com The Rayons, Louis Chachere, Gene Williams, Everyday People ou Marva Whitney, mas, numa fase tardia, em que a editora estava a gravar os seus discos com o incontornável Oliver Sain, em St. Louis. 

    Registado em 1980, “Reaching for our star” foi produzido por Ellis Taylor, que também compôs a canção, em parceria com Dee Dee Love, e é o lado b deste single, um dos mais disputados discos da Forte.

    Uma deliciosa canção Gospel Soul midtempo, com uma produção altamente sofisticada, uns grandes arranjos e uma bela interpretação vocal, que foi adoptada pelos mais progressivos clubes da cena especializada e amplificada por nomes como Sam Shepherd, mentor do projecto Floating Points, ou Gilles Peterson, incluída no volume da série  da Numero Group – “Eccentric Soul” – dedicado a esta decisiva independente de Kansas City e reprensada, em single, pela Mukatsuku, em 2015.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    28 dezembro 2020 – 1 janeiro 2021

    Quinta-feira

    Sky's the Limit

    Don't be afraid

    J.M.J.

    Kevin Weaver, Israel Holman, Ronald Dudley, Charles Johnson, Richard Baker, Roger Grant e Reggie Cox formaram os Sky’s the Limit, na primeira metade da década de 70, no âmbito do programa músical da Theodore Roosevelt High School, em Gary, no Indiana.

    O seu talento e disciplina chamou a atenção de James Dye, um caçador de talentos de Baseball que, embora não percebesse nada do assunto, tinha ido trabalhar para o departamento de música daquele Liceu, de forma a estar de olho nos atletas que por lá surgiam.

    Dye resolveu “estudar” a metodologia usada pela Motown e fundar uma agência – a J.M.J. Productions – para os “orientar” e representar. 

    Depois de trabalhar, ao promenor, todos os aspectos de um espectáculo, desde a música à dança, passando pelo guarda-roupa, a banda teve uma residência no importante Clayman’s Club onde, além de esgotar todas as noites, abriu para nomes como os Dells, os Delfonics ou Harold Melvin + The Blue Notes, foi matéria de um artigo na Jet Magazine, de Chicago, e esteve prestes a assinar contrato com a Brunswick, o que acabou por não acontecer.

    Quando se graduaram, em 1975, Charles Johnson abandonou os Sky’s the Limit, dando lugar a Jacob Kindred, um cantor mais experiente e versátil, que acabou por assegurar o lead daquele que viria a ser o seu único disco.

    Gravado em 76, para a J.M.J., e escrito e produzido por Robert Lee, um prestigiado artista local, que havia passado pelos Lost Weekend e que assinaria um par de singles de culto, como General Lee – “Don’t be afraid” – transformou-se num verdadeiro Graal da cena especializada.

    Uma verdadeira obra-prima Funky Soul, com um Groove irresístivel e umas deliciosas harmonias vocais que, no seu ultra-raro formato original, está apenas ao alcance dos mais endinheirados Djs e colecionadores e que, em 2012, foi incluída na espantosa caixa de 46 sete-polegadas, editada pela Numero Group – “Eccentric Soul: Omnibus, vol. 1”.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    28 dezembro 2020 – 1 janeiro 2021

    Sexta-feira

    Gary

    Me, myself, and I

    Alive

    Nativo de Winston-Salem, na Carolina do Norte, o Reverendo Gary Hairston não é só um respeitado líder religioso local.

    Nos últimos anos da sua adolescência foi um dos fundadores dos Opus Seven, uma banda Funk de culto que, entre 1975 e 80, gravou uma mão cheia de singles e um sólido Lp que, tendo conseguido distribuição nacional, não teve o sucesso que merecia.

    Em 83, criou a sua própria marca – Alive Records – para gravar um dos mais cobiçados Lps da cena Boogie, associando-se ao crucial Harry Deal, um dos principais protagonistas da chamada Beach Music, fundador dos bem-sucedidos Galaxies e que, desde o fim da década de 50, teve um papel de relevo na cena músical daquele estado, quer pelos discos que assinou, quer por aqueles que produziu e gravou nos Galaxie III Studios, que construiu, em 1968, com o seu irmão Jim.

    “Me, myself, and I”, é um dos grandes temas de “Chilling out”, um extraordinário longa-duração que sintetiza, como poucos, a fusão entre Disco, Funk e Electro que caracterizou a mais moderna música negra daquele período, e, na minha opinião, o seu mais genial momento.

    Uma contagiante canção, com uma potente secção rítmica a servir de cama a um grande trabalho de sintetizador, que não deve nada ao melhor que génios como Prince ou George Clinton, nos deram nessa altura, e que deve constar de qualquer coleção minimamente exigente, pelo menos desde que “Chilling out” foi reprensado pela Everland, em 2017.

     

    ▶️ OUVIR