Partindo da obra da família, de Valério Romão, o Teatrão construiu um espetáculo sobre as transformações atuais na estrutura e na dinâmica das famílias. Com dramaturgia criada pelo autor, cinco histórias são levadas a cena entre 9 de dezembro e 16 de janeiro, em duas partes e em dias distintos, com o apoio da Antena 3.

Da Família revela a disfuncionalidade da estrutura familiar como espelho da disfuncionalidade ou falência do sistema social. Os cinco episódios familiares têm uma estrutura fabulista, mítica e fantástica, embora paradoxalmente quotidiana — não estão propriamente localizados nesta ou naquela época, não fazem parte do passado (embora também ali estejam) nem são contemporâneos (embora reconhecíveis no dia-a-dia). Sem ter qualquer pretensão ensaística ou formal, o tratamento melodramático, no melhor sentido da palavra, tem uma estrutura épica que, de forma inadvertida ou propositada, sabe-se lá, desassossega o recetor. Nas cinco casas apresentadas, os pais são todos Henriques; as mães são todas Martas; os filhos, Rogérios, Antónios, Ritas e Raquéis; e os cães, Neros. As fendas na construção familiar são as de todos nós, os velhos a que não conseguimos atender, os novos que não conseguimos educar, a paixão que não conseguimos manter, o futuro que não podemos vislumbrar. Da Família é uma espécie de condomínio à beira de um ataque de nervos cujo ansiolítico é a fantasia — prescrita aos espectadores em dose dupla.

O espectáculo é encenado por Marco Antonio Rodrigues, e a composição musical ficou a cargo do icónico Victor Torpedo.

Paralelamente a este desassossego, o Teatrão propõe um ciclo de atividades que de alguma forma abordam assuntos que a obra suscita. Não para desvendar qualquer mistério, já que não é mister da arte deslindar charadas, mas para socializar angústias.

Mais informações no site oficial da companhia.