“Sem nostalgia, Amadeu de Souza-Cardoso amava muito Portugal”, é desta afirmação que parte o nosso programa sobre esta figura maior da história da arte do séc. XX. Na última década, Amadeu de Souza-Cardoso (ASC) tem sido um artista intensamente trabalhado por investigadores e divulgado em exposições, filmes e documentários. Mas a relação de ASC com Portugal tem sido sempre abordada de passagem. Ora, é nossa convicção que a sua relação com o seu país de origem, e mais propriamente com a zona de Amarante, é um dado central na singularidade da sua obra. Se ASC não fosse tão amante do lugar que o viu nascer e não tivesse sempre mantido o seu perfil conservador (monárquico, católico, terno com as tradições populares locais) talvez não tivesse resistido a abraçar uma das muitas correntes estéticas que grassavam em Paris nas primeiras décadas do séc. XX. O jovem Amadeo mergulhou nas vanguardas do seu tempo, experimentou-as com grande liberdade, inventiva e sucesso, mas nunca perdeu de vista a sua identidade singular. Portugal não só não foi um entrave no seu experimentalismo modernista como foi uma das matérias diletas do seu trabalho.