Como contou Isabel Almeida, a nossa maravilhosa guia pela vida e obra de Bandarra (o poeta sapateiro do séc. XVI), no primeiro sermão que Padre António Vieira fez em Lisboa, recém-regressado do Brasil, Bandarra foi o protagonista por antinomia. As famosas trovas de Bandarra tinham sido usadas anteriormente como anunciadoras do regresso do “encoberto”, que nessa leitura do enigmático Bandarra seria D. Sebastião. Frente a D. João IV, no furor da restauração da independência, Vieira disse nesse primeiro sermão em Lisboa (sem referir nunca o nome de Bandarra) que não havia que procurar mais o “encoberto”, porque o “encoberto” já fora achado: D. João IV de Portugal! Ora, dezassete anos depois desse primeiro sermão, em 1659, Padre António Vieira faz, ele próprio, de Bandarra, glosando as velhas trovas para anunciar com elas a ressurreição de D. João IV. Foi nesse texto-episódio que a Inquisição agarrou para mover um processo a Vieira que o conduziu à cadeia de onde foi difícil livrá-lo.