Samuel Úria compôs um tema de raiz para participar no Festival da Canção 2017. Embora faça questão de atuar em nome próprio, mesmo quando se faz acompanhar por banda, a sua participação no festival da canção faz-se por intermédio das vozes das irmãs Falcão, Catarina e Margarida – as Golden Slumbers.

O desejo de ter outra pessoa a cantar foi imediato quando me estenderam o convite. Não tenho qualquer problema em assumir a voz nas minhas canções, mas aqui o desejo não foi de assumir, foi de potenciar. Projectei logo uma canção que fosse tipicamente minha, mas que viesse num invólucro menos característico porque, sem falsas modéstias, creio que isso alarga o alcance da canção, contou-nos Samuel Úria.

Catarina e Margarida Falcão começaram no seu quarto o projecto de folk Golden Slumbers em 2013, fazendo uso de harmonias de vozes e de guitarras para compor músicas que evocam uma sonoridade com ecos de Simon & Garfunkel, Fleetwood Mac e Laura Marling. No ano seguinte, apresentaram-se ao público nacional com o EP «I Found The Key», de onde saiu o tema «My Love is Drunk».

Samuel Úria e as Golden Slumbers conheceram-se quando as duas irmãs fizeram uma versão de uma canção do compositor na rubrica No Ar, da Antena3. É preciso que eu diminua ganhou assim contornos femininos na voz de quem geralmente nem canta em português.

Obviamente não contiveram a sua dose de angelicalidade quando cantaram português, mesmo o meu que não é dos mais melífluos. Soavam tão bem que nem mesmo elas conseguem negá-lo. Por isso é que a questão de outra língua nem se chegou propriamente a pôr, porque o idioma em que eu escrevo com mais conforto afinal não lhes é nada desconfortável.

Úria compôs a canção que iremos ouvir em 2.º lugar na 1.ª Semifinal dia 19 de fevereiro especialmente para o festival. Uma vez que falamos de um evento que é na sua essência uma festa da canção, o compositor escolheu uma canção que, não deixando de ser melancólica, é esperançosa e trauteável.

É-me absolutamente característico, porque tem a cadência dos hinos com que cresci. A preocupação foi empurrar toda a tristeza da canção para um nível menos perceptível – isto tanto na letra como na abundância de acordes maiores a acompanharem a melodia. O Festival da Canção é uma celebração, e eu não queria emperrá-lo com lamentos.

A celebração, no entanto, passa também pela competição entre pares, amigos e colegas músicos com quem chegou já a fazer algumas colaborações (como é o caso de Márcia). A competitividade e a curiosidade andam assim de mão dada no evento que de alguma forma todos representam, mas uma pesa definitivamente mais do que outra.

Há bastantes amigos e pessoas com as quais já colaborei a participarem este ano. Da minha parte, esse factor tolda ainda mais a competitividade, porque a vontade de escutá-los, a vontade de estar com eles no backstage, a curiosidade em relação a canções novas, não é nada diferente das vontades que temos quando partilhamos palcos e estrada. Isso não quer dizer que algum de nós esteja a menosprezar o Festival da Canção como uma tertúlia de amigos, mas por mim falo: se a competição fosse o mais fulcral, então teria feito uma canção radicalmente diferente.

As Golden Slumbers dão assim corpo ao tema de Samuel Úria, o 2.º a alinhar na 1.ª Semifinal, com data marcada para dia 19 de fevereiro. As duas irmãs cantarão em português, um tema que não se dará a tristezas mas que antes pretende ser um novo fôlego dentro de um folk tipicamente americano.