Miguel Meira da Cruz é médico dentista, especialista europeu em medicina do sono e Presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono.

 

A mudança da hora faz bem ou mal à saúde?

A resposta do Dr. Miguel Meira e Cruz é clara: NÃO.

“O problema é a resposta do nosso organismo a esta mudança. No nosso relógio interno temos um conjunto de células que dispara a certas horas

para ‘mandar os órgãos funcionar’. Quando a hora muda, esse relógio interno fica desregulado. Esta mudança abrupta não traz benefícios.

Miguel Meira e Cruz diz que o impacto da mudança de horário de verão é maior para o organismo na hora de verão, uma vez que o horário de inverno é o que mais se identifica com o nosso relógio interno. O especialista explica que em qualquer das mudanças, verão ou inverno, o nosso cérebro ressente-se e isso pode trazer prejuízos “significativos e potencialmente graves”.

“Por exemplo, o nosso estado de alerta é melhor de manhã e a nossa maior tendência para o sono é à noite: isto está regulado pelo nosso relógio interno. Esta mudança da hora pressupõe a tal mudança do relógio interno e isso requer uma adaptação. Essa adaptação é lenta e, ainda para mais, no verão a hora volta outra vez a mudar. Por exemplo, um estudo finlandês mostra que existe relação entre a mudança da hora e problemas graves de saúde. O estudo mostra que nos três dias depois da mudança na hora de verão há um aumento dos casos de enfarte do miocárdio. No inverno, por exemplo, há outro estudo que mostra que há um aumento da taxa de acidentes de viação.”

O especialista acrescenta: “No nosso organismo temos uma hormona que varia durante 24 horas, os chamados ritmos circadiários. A ação das hormonas tem uma hora estabelecida. Se a hora muda, estas hormonas ficam desreguladas”.

O especialista diz ainda que uma hora a mais de sono pode ser benéfico para que necessita de dormir mais, sendo que o impacto desta hora de sono é maior em quem se deita mais tarde e que se levanta também mais tarde.

“Quando Benjamin Franklin avançou com esta proposta o objetivo era poupar na energia porque as pessoas mantinham-se mais tempo fora de casa. Mas esse pressuposto não existe no mundo atual”, remata.