Num país onde, de acordo com os dados do Inquérito Nacional de Saúde (2014), mais de metade da população (52,8%) com 18 ou mais anos, ou seja, qualquer coisa como 4,5 milhões de pessoas, tem excesso de peso ou é obesa, não há nenhum fármaco para a obesidade com comparticipação do Estado.

“A obesidade é uma doença com um grande impacto na saúde pública e nos sistemas de saúde. Mas apesar de termos um novo fármaco, este não é comparticipado. Aliás, nunca houve nenhum que o fosse no nosso país”, refere Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade que chama a atenção para um problema que considera ter de ser olhado “numa perspetiva mais global, uma vez que ainda há muitos doentes que são tratados pelas doenças associadas, como a diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, apneia do sono, entre outras, sem que se resolva aquilo que as causa, ou seja, a obesidade”.

A obesidade na idade infantil

Numa altura em que tanto se tem falado sobre a população infantil, também ela vítima do flagelo que é a obesidade, confirmada pelos números – um dos mais recentes estudos da Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil (APCOI), realizado junto de uma amostra de 17.698 crianças, no ano letivo 2016-2017, mostra que 28,5% das crianças no nosso país, com idades entre os 2 e os 10 anos, têm excesso de peso e, destas, 12,7% são obesas, o que nos torna um dos países da Europa onde os números da obesidade infantil são mais elevados -, a presidente da SPEO considera que é preciso fazer mais. “As crianças são muito recetivas a novas ideias. Penso que, aqui, se poderia fazer mais, muito mais, nomeadamente na educação para a saúde. Existem já vários projetos, iniciativas, mas falta ainda muito trabalho na promoção de uma ação global de educação para a saúde para todas as faixas etárias.”

Obesidade, uma epidemia global

A prevalência da obesidade tem vindo a aumentar em todo o mundo, de tal forma que a Organização Mundial de Saúde lhe atribui mesmo a designação de epidemia global. Trata-se de um problema grave de saúde pública, uma das principais causas de doença e morte prematura, sendo um fator de risco para várias doenças, como as cardiovasculares, a diabetes e vários tipos de cancros. É, no entanto, possível de prevenir, graças a uma mudança nos estilos de vida, que passa por uma alimentação saudável e a prática regular de de exercício físico.

Mais de metade da população tem peso a mais e só 27% fazem exercício todos os dias. Maioria das crianças consome menos fruta e vegetais do que devia.

Mais de metade da população portuguesa (5,9 milhões de pessoas) é obesa ou está em risco de o ser. A prevalência é exponencialmente maior entre os idosos, já que oito em cada dez sofrem de obesidade ou são pré-obesos. A prática de atividade física programada, ainda que por lazer, decresce com o passar do anos. Os lusitanos são pouco ativos: apenas 27% fazem uma hora de exercício moderado ou meia hora com intensidade, todos os dias.

Quais os hábitos alimentares dos portugueses?

Há 35 anos que ninguém olhava para os hábitos de alimentação e de atividade física dos portugueses

A alimentação diária é desequilibrada. Os portugueses consomem mais carne, leite e açúcar e menos produtos hortícolas, leguminosas e frutas do que deveriam. Um em cada dez rapazes de 11 anos é obeso.

O país está no top 5 da obesidade infantil, logo a seguir aos mediterrânicos Grécia, Itália, Espanha e Malta