A sua casa: Um porto seguro ou um mar de perigos?
A expressão “lar, doce lar” parece perder algum sentido quando se verifica que todos os anos, aproximadamente 30% das pessoas com 65 ou mais anos sofre de quedas em casa e que estes valores sobem para 50% a partir dos 80 anos, aumentando também a gravidade das consequências deste tipo de acidentes. As quedas são a principal causa de acidentes nos idosos, ocorrem maioritariamente em casa e são responsáveis por 70% das mortes acidentais neste grupo etário, sendo as consequências das quedas a 6ª causa de morte nos idosos. Os idosos e as crianças são os grupos que mais sofrem de quedas, no entanto, as consequências mais gravosas acontecem nos idosos, uma vez que, 75% das mortes causadas por quedas ocorrem em pessoas com mais de 65 anos.
Custos pessoais e coletivos das quedas
As quedas nos idosos podem provocar uma série de danos físicos, como traumatismos de tecidos moles e fraturas ósseas, declínio funcional e muitas vezes a morte. Estes acidentes podem ainda afetar a qualidade de vida dos idosos provocando sentimentos de medo, fragilidade, desesperança, perda de controlo e receio de passar a ser dependentes de terceiros. As quedas acarretam ainda custos para toda a comunidade, na medida em que representam uma elevada percentagem de internamentos hospitalares, cuidados domiciliários prolongados, absentismo profissional de familiares, tratamentos dispendiosos etc.
Principais causas de quedas dos idosos em casa
Existem factores de risco relacionados com o idoso, factores de risco no ambiente, nomeadamente a sua casa, e factores resultantes da interacção de ambos. Estes factores ao serem identificados permitem a previsão e prevenção de algumas situações que podem propiciar uma queda. São aqui referidos alguns factores de risco que poderão contribuir para as quedas nos idosos, bem como pequenas dicas que poderão ajudar a tomar algumas medidas de prevenção :
– História de quedas anteriores;
– Diminuição sensorial: com a idade é comum o défice visual, pelo que se torna aconselhável uma consulta de rotina anualmente ou quando são detectadas alterações, de forma a identificar a necessidade de colocação ou actualização de próteses oculares. Certifique-se que a luz em casa é suficiente e adequada para o idoso. Tenha ainda atenção à capacidade auditiva, que deve igualmente ser corrigida.
– Perda de capacidade mental: em situações de demência pode ser necessário limitar algumas actividades por motivo de segurança, remover objectos em casa que possam ser perigosos e avaliar a necessidade de apoio nas várias actividades de vida diárias.
– Alterações de mobilidade: deve ser avaliada a necessidade de auxiliares de marcha, como bengalas, andarilhos, canadianas, ou alterações em casa, como correção de sanitários baixos, cama ou banheira, o uso de luzes nocturnas no quarto e casa de banho. Os sapatos não devem ter saltos para não prejudicar o equilíbrio, devem ter o tamanho correcto e sola anti-derrapante, devendo evitar os chinelos.
– Medicação: é comum os idosos tomarem medicamentos de forma regular e permanente, pelo que se deve tomar especial atenção ao início de novos medicamentos, uma vez que algumas quedas se relacionam com alterações recentes (inferiores a 2 semanas) da terapêutica habitual do idoso.
– Alterações urinárias: o idoso poderá sentir necessidade de urinar várias vezes durante a noite e nestes casos, ter uma mesa-de-cabeceira com dispositivos urinários (urinol, arrastadeira), é uma estratégia que pode revelar-se útil, de forma a evitar as frequentes idas nocturnas à casa de banho.
– Viver sozinho: este facto pode aumentar não só o risco de quedas como também as suas consequências, uma vez que o idoso após a queda pode não ter possibilidade de providenciar ajuda. Existe um projecto de parceria entre a Cruz Vermelha, o Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII) e a PT que se denomina de TeleAlarme, que consta de um dispositivo telefónico que os idosos colocam ao peito, podendo inclusivamente tomar banho com ele, e que em caso de necessidade é só premir o botão e é desencadeado um sistema de alta voz, onde a operadora da Cruz Vermelha comunica com o idoso e/ou encaminha a ajuda ou socorro adequado.
Como prevenir acidentes em casa
– Chão: Atenção à posição de móveis e tapetes. As carpetes devem também ter base anti-derrapante e se estiverem enroladas ou rasgadas, o melhor é retirá-las! Tem de passar sobre ou à volta de arames ou fios, como extensões eléctricas, fios de telefone ou fios de candeeiros? Deve fixar os fios na parede de forma a não tropeçar sobre eles. Tenha ainda em atenção se existem superfícies irregulares, como por exemplo tacos levantados.
– Escadas e degraus;
– Cozinha: Observe bem a cozinha; os utensílios que são frequentemente utilizados encontram-se em prateleiras altas? Então remova as coisas que habitualmente utiliza mais vezes, para as prateleiras mais baixas do seu armário. Deve evitar subir aos bancos e escadotes, mas se for inevitável, não substitua o escadote por cadeiras ou bancos, e prefira os escadotes com barras laterais de apoio.
– Quarto: Olhe para os quartos; a luz mais próxima da cama é de difícil alcance? Tente colocar uma lâmpada perto da cama que seja fácil de alcançar. O caminho da cama até à casa de banho é escuro? Pode ser útil utilizar uma luz de presença durante a noite.
– Casa de banho: Deve preferir-se o banho de chuveiro ao de banheira, podendo substituir-se a banheira por uma base mais fácil de transpor.
Ortopedistas lançam campanha para prevenir quedas dos idosos
“Não caia nisso” é o tema de uma campanha de sensibilização que a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT) lançou para prevenir as quedas na população idosa.
O principal objetivo desta campanha é informar, particularmente os seniores, mas também a população em geral sobre o risco de queda e as complicações daí inerentes, nomeadamente as fraturas, disse à agência Lusa o responsável pela iniciativa, Carlos Evangelista. As estimativas apontam que 30% dos idosos já caíram alguma vez e que cinco a 10% dessas quedas ocasionaram lesões graves com risco de morte, adiantou o ortopedista. Um dos objectivos da campanha é também diminuir os custos no tratamento destas fracturas que, segundo dados da Direcção-Geral da Saúde, estimaram-se, em 2006, em 52 milhões de euros, só em cuidados hospitalares.
Tendo em conta que a grande maioria das quedas acontece dentro de casa, a campanha dá alguns conselhos para as prevenir, como evitar locais pouco iluminados, pavimentos molhados, retirar tapetes que possam provocar derrapagens e consequentes quedas, evitar medicação que perturbe o equilíbrio e em caso de insuficiência, melhorar a audição e a visão.
Com duração de uma hora, a sessão é gratuita e aberta à comunidade e aos utentes do Hospital, com a apresentação do Grupo de Prevenção de Quedas. Esta equipa é constituída por um fisioterapeuta, um fisiatra, uma enfermeira e um terapeuta ocupacional e coordenada pelo médico ortopedista Carlos Evangelista.
A próxima sessão é dia 30 de março, a participação é gratuita, mediante marcação prévia.