O que é a morte súbita?

A morte súbita é a morte que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência, em adultos e crianças. Geralmente ocorre nas primeiras horas do dia. A morte súbita pode acontecer na primeira hora ou nas primeiras 24 horas após o aparecimento de sintomas. Atinge tanto pessoas sãs como doentes, de sedentários a atletas. No passado foi atribuída a causas inexplicáveis, a vinganças de deuses ou maldições. Com a evolução da ciência e da medicina, as explicações e as causas foram aos poucos sendo esclarecidas e ampliadas.

A morte súbita pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas ela é mais comum em pessoas mais idosas, já portadoras de doenças cardíacas prévias. Porém, até jovens atletas ou bebés supostamente saudáveis podem morrer subitamente.

 

Quais as causas mais comuns?

Na grande maioria dos casos de morte súbita, a causa tem origem no coração. Problemas pulmonares, vasculares e cerebrais também podem levar o paciente a um óbito de forma súbita e inesperada.

Pode ser provocada por arritmias cardíacas que levam a uma significativa queda da função cardíaca que leva a uma pressão sanguínea cerebral extremamente baixa cérebro com anoxia (falta de oxigénio) e posteriormente morte cerebral. As arritmias cardíacas responsáveis são geralmente as taquicardias ventriculares seguidas de fibrilação ventricular e paragem cardíaca. Causas frequentes são também os acidentes vasculares cerebrais graves tanto embólicos como hemorrágicos. Embolias pulmonares, epilepsia e aneurismas são outras das causas possíveis.

 

A morte súbita está vinculada a alguns fatores de alerta que são: ocorrência de tonturas ou perda de consciência durante exercício, história familiar de morte súbita, dor torácica durante esforço com palpitações associadas e electrocardiograma (ECG) anormal.

 

Morte Súbita no desportista

A morte súbita do desportista está constantemente ligada a problemas no coração, e geralmente a patologia não é conhecida. A causa mais frequente é a presença Cardiomiopatia hipertrófica familiar, com oclusão da câmara de saída do ventrículo esquerdo durante um esforço intenso com taquicardia importante. Esta câmara de saída é o espaço que precede a válvula aórtica, delimitado pelo septo e o folheto anterior da válvula mitral. A hipertrofia cardíaca que a acompanha é muitas vezes confundida no ecocardiograma, se analisado um pouco superficialmente, com a hipertrofia normal do coração do desportista. (Exemplo: a morte de Miklós Fehér. Outras causas são as atribuídas ao adulto jovem mas também o chamado commotio cordis (percussão violenta no tórax causada por uma pancada brusca).

As principais alterações cardíacas que predispõe atletas á morte súbita são:

– Miocardiopatia hipertrófica.

– Anomalias congênitas da artéria coronária.

– Cardiomiopatia arritmogénica do ventrículo direito.

– Miocardite.

– Aneurisma da aorta.

– Prolapso mitral com regurgitação mitral.

 

A MSC em atletas tem um enorme impacto mediático, emocional e social nos meios desportivos, nos profissionais de saúde e no público em geral.

 

O diagnóstico nem sempre é possível em vida… Ou na autópsia!

A doença subjacente pode ser difícil de diagnosticar em vida pelos métodos de rastreio convencionais. No entanto em Itália, em Portugal e nas recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia é obrigatória ou recomendada a realização do eletrocardiograma, ao contrário do que se passa nos Estados Unidos. Este exame para ser devidamente aproveitado nas suas potencialidades deve ser lido por peritos, distinguindo alterações benignas e habituais em atletas, das alterações indiciadoras de doença cardíaca.

 

Variando conforme as séries, cerca de 3% a 30% dos jovens atletas vítimas de MSC, apresentam um coração estruturalmente normal, sem uma causa definida de morte na autópsia. Tais mortes poderão resultar de anomalias elétricas do coração que predispõem a arritmias cardíacas malignas como as Síndromes de Wolf-Parkinson-White, do QT longo, do QT curto, e de Brugada, e a Taquicardia Ventricular Polimórfica Catecolaminérgica, situações e nomes técnicos que exemplificam o grau de complexidade dos diagnósticos possíveis, associadas a anomalias dos canais do sódio, do potássio e do cálcio nas células e com características de transmissão genética (canalopatias).

 

Uma causa rara de MSC sem qualquer anomalia cardíaca identificável é o Commotio Cordis, na qual a morte é provocada por um traumatismo não penetrante na caixa torácica, por exemplo com bola de basebol, disco ou bola de hockey, atingindo o coração num período vulnerável de milésimos de segundo (é preciso ter azar!), desencadeando uma arritmia que pode ser fatal

 

Qual a importância do exame médico desportista?

O exame médico – desportivo-, através da história clínica pessoal e familiar, do exame físico e do eletrocardiograma, permitem identificar muitos, mas não todos, os atletas com risco potencial de morte súbita, ou com situações que aconselham a proibição ou restrição de atividade competitiva e de prática de exercício.

 

Nas situações de risco identificado ou suspeitas de risco tem de recorrer-se a métodos de investigação adicional. São exemplos o ecocardiograma, registos prolongados do eletrocardiograma como o Holter e registo de eventos, as provas de esforço, ressonância magnética, tomografia computorizada, estudo eletrofisiológico, cateterismo cardíaco e o estudo genético. Estes exames, alguns muito sofisticados, são complexos, dispendiosos e têm sempre um papel auxiliar da clínica, não dando sempre resultados “milagrosos”.

 

Os equipamentos e dispositivos que podem salvar vidas?

Situações de paragem cardíaca por arritmias potencialmente fatais (fibrilhação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso) vão continuar a acontecer durante o exercício, ou após o exercício, embora possam também acontecer sem relação com o exercício. Nessas ocasiões, o único tratamento eficaz é o suporte básico de vida e o choque de desfibrilhação eléctrica, cuja eficácia decresce em 10% por cada minuto que passa, e, portanto, deverá ser aplicado nos primeiros 6 minutos após a paragem.

 

Os recintos e eventos desportivos devem ter desfibrilhadores automáticos externos (DAE) disponíveis para ocorrer a emergências deste tipo em atletas ou espectadores. Estes equipamentos são de utilização simples e segura, podendo ser usados por leigos (não médicos) em muitos países que dispõem de equipamentos deste tipo em locais públicos (aeroportos, estações de comboio, centros comerciais). Em Portugal também já vão sendo usados e existem casos de sucesso documentados.

 

Qual a prevenção a realizar?

Análise cuidadosa do histórico clínico, familiar, eletrocardiograma, teste de esforço e ecocardiograma. Há casos em que a morte súbita não está ligada a doenças do coração.