O que é a demência?
Demência é um termo genérico, utilizado para designar um conjunto de doenças nas quais existe deterioração do desempenho cognitivo e comportamental, tendo esta que ter dimensão suficiente para condicionar perda de autonomia.
É um termo abrangente que descreve a perda de memória, capacidade intelectual, raciocínio, competências sociais e alterações das reações emocionais normais.
E não havendo perda de autonomia?
Quando há um desempenho cognitivo, ajustado à idade e escolaridade, inferior ao esperado mas o doente é capaz de realizar todas as tarefas que antes assumia, dizemos que tem um defeito cognitivo ligeiro. Esta categoria representa um estado de transição entre a normalidade e a demência, sendo que a conversão daquela para esta ocorre a um ritmo de 15% ao ano.
Quem desenvolve Demência?
Apesar da maioria das pessoas com Demência ser idosa, é importante salientar que nem todas as pessoas idosas desenvolvem Demência e que esta não faz parte do processo de envelhecimento natural. A demência pode surgir em qualquer pessoa, mas é mais frequente a partir dos 65 anos. Em algumas situações pode ocorrer em pessoas com idades compreendidas entre os 40 e os 60 anos.
Quais são as funções que se podem perder?
Os principais domínios cognitivos que podem ser afetados são: a capacidade de organização, planeamento, decisão e julgamento (funções executivas), de reter e evocar informação (memória), de expressão e compreensão verbal (linguagem), de reconhecer pessoas e objetos (gnose), de orientação no espaço e de produzir sequências de atos motores (praxis).
Cada tipo de demência tende a afetar estes domínios cognitivos num padrão relativamente típico. Tal decorre, por um lado, da predileção que cada uma delas tem por determinadas regiões do cérebro e, por outro, da relevância que cada uma destas regiões assume para cada função cognitiva
Como se classificam as demências?
São várias as classificações utilizadas, sendo que uma das que se mostrou clinicamente mais útil as divide em primárias (degenerativas, em que a demência é a própria doença) e secundárias (em que há outra doença que se manifesta por demência). Entre as últimas há algumas passíveis de serem tratadas e/ou prevenidas, sublinhando a importância de um diagnóstico correto, para o qual contribuem a colheita pormenorizada da história clínica, o exame neurológico e neuro psicológico e o uso compreensivo de exames laboratoriais e imagiológicos.
Quais são as demências mais comuns?
As principais demências são a doença de Alzheimer (que representa cerca de dois terços de todos os casos), a demência frontotemporal, a demência com corpos de Lewy e a demência vascular (destas, a única secundária).
São doenças frequentes?
Os dados epidemiológicos mais abundantes referem-se à doença de Alzheimer, para a qual a taxa de prevalência, que aumenta exponencialmente com a idade, varia de até 1% aos 60-65 anos a quase 50% acima dos 90 anos, estimando-se um total superior a 150 mil doentes em Portugal e 35 milhões em todo o mundo.
Existe tratamento que cure ou atrase as demências?
Se excluirmos a pequena percentagem de causas tratáveis de demência, para a maioria das demências não existe tratamento curativo ou que altere a história natural da doença. No entanto já existem fármacos muito úteis, quer para otimizar as funções cognitivas (como os inibidores da acetilcolinestérase ou a memantina), quer para reduzir a disfunção comportamental (como os antidepressivos e os anti psicóticos).
Há algo que se possa fazer para prevenir a demência?
Não há uma forma definitiva de o conseguir. Na doença de Alzheimer é benéfico um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, exercício físico regular, consumo moderado de vinho e controlo adequado de fatores de risco vascular, sobretudo hipertensão arterial.
No caso da demência vascular isto assume um papel ainda mais relevante, combinado com estratégias farmacológicas para evitar novos enfartes cerebrais.
Uma das teorias mais atrativas aponta a reserva cognitiva, resultante de múltiplas variáveis (como o quociente de inteligência, o nível de instrução, a adesão a atividades culturais e de lazer), como responsável por maior resistência à deterioração cognitiva. Assim, quanto maior a reserva de um indivíduo, mais tarde ficará clinicamente doente, embora o seu cérebro possa já ter sinais histológicos de doença há muitos anos.
Quantos sofrem?
7.3 Milhões de europeus sofrem de uma das várias formas de demência.
Face ao envelhecimento da população nos estados-membros da União Europeia os especialistas preveem uma duplicação destes valores em 2040 na Europa Ocidental, podendo atingir o triplo na Europa de Leste. Todos os anos, 1,4 milhões de cidadãos europeus desenvolvem demência, o que significa que a cada 24 segundos, um novo caso é diagnosticado.
Quais as formas mais comuns de Demência?
Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de Demência, constituindo cerca de 50% a 70% de todos os casos. É uma doença progressiva, degenerativa e que afeta o cérebro. À medida que as células cerebrais vão sofrendo uma redução, de tamanho e número, formam-se tranças neurofibrilhares no seu interior e placas senis no espaço exterior existente entre elas. Esta situação impossibilita a comunicação dentro do cérebro e danifica as conexões existentes entre as células cerebrais. Estas acabam por morrer, e isto traduz-se numa incapacidade de recordar ou assimilar a informação.
Demência Vascular
Demência Vascular é um termo utilizado para descrever o tipo de Demência associado aos problemas da circulação do sangue para o cérebro e constitui o segundo tipo mais comum de Demência. Existem vários tipos de Demência Vascular, mas as duas formas mais comuns são a Demência por multienfartes cerebrais e Doença de Binswanger. A primeira é causada por vários pequenos enfartes cerebrais, também conhecidos por acidentes isquémicos transitórios e é provavelmente a forma mais comum de Demência Vascular. A segunda, também denominada por Demência vascular subcortical, está associada às alterações cerebrais relacionadas com os enfartes e é causada por hipertensão arterial, estreitamento das artérias e por uma circulação sanguínea deficitária.
A Demência vascular pode parecer semelhante à Doença de Alzheimer e em algumas pessoas ocorre um quadro combinado destes dois tipos de Demência.
Doença de Parkinson
A Doença de Parkinson é uma perturbação progressiva do sistema nervoso central, caracterizada por tremores, rigidez nos membros e articulações, problemas na fala e dificuldade na iniciação dos movimentos. Numa fase mais avançada da doença, algumas pessoas podem desenvolver Demência. A medicação pode melhorar a sintomatologia física, mas também pode provocar efeitos secundários que incluem: alucinações, delírios, aumento temporário da confusão e movimentos anormais.
Demência de Corpos de Lewy
A Demência de Corpos de Lewy é causada pela degeneração e morte das células cerebrais. O nome deriva da presença de estruturas esféricas anormais, denominadas por corpos de Lewy, que se desenvolvem dentro das células cerebrais e que se pensa poderem contribuir para a morte destas. As pessoas com Demência de Corpos de Lewy podem ter alucinações visuais, rigidez ou tremores (parkinsonismo) e a sua condição tende a oscilar rapidamente, de hora a hora ou de dia para dia. Estes sintomas permitem a sua diferenciação da Doença de Alzheimer. A Demência de Corpos de Lewy pode ocorrer, por vezes, simultaneamente com a Doença de Alzheimer e/ou com a Demência Vascular.
Demência Frontotemporal
Demência frontotemporal (DFT) é o nome dado a um grupo Demências em que existe a degeneração de um ou de ambos os lobos cerebrais frontal ou temporais. Neste grupo de Demências estão incluídas a Demência fronto-temporal, Afasia Progressiva não-fluente, Demência semântica e Doença de Pick. Cerca de 50% das pessoas com DFT tem história familiar da doença. As pessoas que herdam este tipo de Demência apresentam frequentemente uma mutação no gene da proteína tau, no cromossoma 17, o que leva à produção de uma proteína tau anormal. Não são conhecidos outros fatores de risco.
Doença de Huntington
A Doença de Huntington é uma doença degenerativa e hereditária, que afeta o cérebro e o corpo. Inicia-se, habitualmente, no período entre os 30 e 50 anos e é caracterizada pelo declínio intelectual e movimentos irregulares involuntários dos membros ou músculos faciais. As alterações de personalidade, memória, fala, capacidade de discernimento e problemas psiquiátricos são outros sintomas característicos desta doença. Não existe tratamento disponível para impedir a sua progressão, contudo a medicação pode controlar as perturbações do movimento e os sintomas psiquiátricos.
Demência provocada pelo álcool (Síndrome de Korsakoff)
O consumo excessivo de álcool, particularmente se estiver associado a uma dieta pobre em vitamina B1 (tiamina) pode levar a danos cerebrais irreversíveis. Este tipo de demência pode ser prevenido e se houver cessação do consumo podem existir algumas melhorias.
As partes cerebrais mais vulneráveis são as implicadas na memória, planeamento, organização e discernimento, competências sociais e equilíbrio. Tomar vitamina B1 (tiamina) parece ajudar a prevenir e a melhorar esta condição.
Como posso distinguir se um problema é demência?
Existem várias situações que produzem sintomas semelhantes à Demência, como por exemplo algumas carências vitamínicas e hormonais, depressão, sobredosagem ou incompatibilidades medicamentosas, infeções e tumores cerebrais. Quando as situações são tratadas, os sintomas desaparecem.
É essencial que o diagnóstico médico seja realizado numa fase inicial, quando os primeiros sintomas aparecem, de modo a garantir que a pessoa que tem uma condição tratável seja diagnosticada e tratada corretamente. Por outro lado, se os sintomas forem causados por uma Demência, o diagnóstico precoce possibilita o acesso mais cedo a apoio, informação e medicação, caso esta esteja disponível.
A Demência pode ser hereditária?
Isto irá depender da causa da Demência, daí a importância de existir um diagnóstico médico correto. Se tiver preocupações sobre o risco de herdar Demência, consulte o seu médico. Salienta-se que a maioria dos casos de Demência não é hereditária.
Quais são os sinais inicias da Demência?
Os sinais iniciais de Demência são muito subtis e vagos e podem não ser imediatamente óbvios. Alguns sintomas comuns são:
- Perda de memória frequente e progressiva;
- Confusão;
- Alterações da personalidade;
- Apatia e isolamento;
- Perda de capacidades para a execução das tarefas diárias.
Qual a importância da Intervenção Não-Farmacológica?
A intervenção não-farmacológica diz respeito a um conjunto de intervenções que visam maximizar o funcionamento cognitivo e o bem-estar da pessoa, bem como ajudá-la no processo de adaptação à doença. As atividades desenvolvidas têm como fim a estimulação das capacidades da pessoa, preservando, pelo maior período de tempo possível, a sua autonomia, conforto e dignidade.
A estimulação cognitiva, nas suas diferentes modalidades, pode ter um papel terapêutico complementar, contribuindo para um melhor desempenho e melhor bem-estar do doente.