DEPRESSÃO
A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interesse por atividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil.
Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afectam de forma negativa. No entanto, se os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas, convém começar a pensar em procurar ajuda.
A depressão pode afectar pessoas de todas as idades, desde a infância à terceira idade, e se não for tratada, pode conduzir ao suicídio, uma consequência frequente da depressão.
A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia. A depressão pode durar de alguns meses a alguns anos. Contudo, em cerca de 20 por cento dos casos torna-se uma doença crónica sem remissão. Estes casos devem-se, fundamentalmente, à falta de tratamento adequado.
A depressão é mais comum nas mulheres do que nos homens: um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde, em 2000, mostrou que a prevalência de episódios de depressão unipolar é de 1,9 por cento nos homens e de 3,2 por cento nas mulheres.
Quais são os fatores de risco?
• Pessoas com episódios de depressão no passado;
• Pessoas com história familiar de depressão;
• Pessoas do género feminino – a depressão é mais frequente nas mulheres, ao longo de toda a vida, mas em especial durante a adolescência, no primeiro ano após o parto, menopausa e pós-menopausa;
• Pessoas que sofrem um qualquer tipo de perda significativa, mais habitualmente a perda de alguém próximo;
• Pessoas com doenças crónicas – sofrendo do coração, com hipertensão, com asma, com diabetes, com história de tromboses, com artroses e outras doenças reumáticas, SIDA, fibromialgia, cancro e outras doenças;
• Pessoas que coabitam com um familiar portador de doença grave e crónica (por exemplo, pessoas que cuidam de doentes com Alzheimer);
• Pessoas com tendência para ansiedade e pânico;
• Pessoas com profissões geradoras de stress ou em circunstâncias de vida que causem stress;
• Pessoas com dependência de substâncias químicas (drogas) e álcool;
• Pessoas idosas.
É possível prevenir a depressão?
Como em todas as doenças, a prevenção é sempre a melhor abordagem, designadamente para as pessoas em situação de risco, pois permite a intervenção precoce de profissionais de saúde e impede o agravamento dos sintomas.
Se sofre de ansiedade e/ou ataques de pânico, não hesite em procurar ajuda médica especializada, pois muitas vezes são os primeiros sintomas de uma depressão.
Se apresenta queixas físicas sem que os exames de diagnóstico encontrem uma explicação então aborde o assunto com o seu médico assistente.
Quais são os sintomas da depressão?
A depressão diferencia-se das normais mudanças de humor pela gravidade e permanência dos sintomas. Está associada, muitas vezes, a ansiedade e/ou pânico.
Os sintomas mais comuns são:
• Modificação do apetite (falta ou excesso de apetite);
• Perturbações do sono (sonolência ou insónia);
• Fadiga, cansaço e perda de energia;
• Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima, sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade;
• Falta ou alterações da concentração;
• Preocupação com o sentido da vida e com a morte;
• Desinteresse, apatia e tristeza;
• Alterações do desejo sexual;
• Irritabilidade;
• Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, enjoo.
Quais são as causas da depressão?
As causas diferem muito de pessoa para pessoa. Porém, é possível afirmar-se que há fatores que influenciam o aparecimento e a permanência de episódios depressivos. Por exemplo, condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos, etc.
Determinar qual o fator ou os fatores que desencadearam a crise depressiva pode ser importante, pois para o doente poderá ser vantajoso aprender a evitar ou a lidar com esse fator durante o tratamento.
Algumas doenças podem provocar ou facilitar a ocorrência de episódios depressivos ou a evolução para depressão crónica. São exemplo as doenças infeciosas, a doença de Parkinson, o cancro, outras doenças mentais, doenças hormonais, a dependência de substâncias como o álcool, entre outras. O mesmo pode suceder com certos medicamentos, como os corticóides, alguns anti-hipertensivos, alguns imunossupressores, alguns citostáticos, medicamentos de terapêutica hormonal de substituição, e neurolépticos clássicos, entre outros.
Como se diagnostica a depressão?
Pela avaliação clínica do doente, designadamente pela identificação, enumeração e curso dos sintomas bem como pela presença de doenças de que padeça e de medicação que possa estar a tomar.
Não existem meios complementares de diagnóstico específicos para a depressão, e a bem da verdade, tão pouco são necessários: o diagnóstico clínico é fácil e bastante preciso.
Dirija-se sempre ao seu médico de família ou clínico geral: estes médicos podem reconhecer a presença da doença, e caso considerem necessário, podem contactar com um médico psiquiatra para esclarecimento do diagnóstico e para orientação terapêutica (o medicamento a usar, a dose, a duração, a resposta esperável face ao tipo de pessoa, a indicação para um tipo específico de psicoterapia, a necessidade de outros tipos de intervenção, etc.).
Como se trata a depressão?
Normalmente, através do uso de medicamentos, de intervenções psicoterapêuticas, ou da conjugação de ambas.
As intervenções psicoterapêuticas são particularmente úteis nas situações ligeiras e reactivas às adversidades da vida bem como em associação com medicamentos nas situações moderadas e graves. A decisão de iniciar uma psicoterapia deve ser sempre debatida com o seu médico: a oferta de serviços é grande, não é auto-regulada, e é difícil a pessoa deprimida conseguir escolher o que mais lhe convém sem ajuda médica.
Os medicamentos usados no tratamento das depressões são designados por antidepressivos. Estes medicamentos são a pedra basilar do tratamento das depressões moderadas e graves e das depressões crónicas, podendo ser úteis nas depressões ligeiras e não criam habituação nem alteram a personalidade da pessoa. Com a evolução da ciência e da farmacologia, estes medicamentos são cada vez mais eficazes no controlo e tratamento da depressão, nomeadamente por interferência com a acção de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, no hipotálamo, a zona do cérebro responsável pelo humor (emoções).
A depressão, nas suas várias formas clínicas, assume, hoje em dia, proporções inimagináveis. Ou talvez nem tanto, por existirem muitos casos diagnosticados como sendo de depressão, quando, de facto, se trata de outras situações. Ou por existirem muitas pessoas convencidas que sofrem de depressão porque tomam antidepressivos. Ou pela enorme confusão entre uma tristeza saudável reativa às situações de vida e uma perturbação do humor com foros de patologia. Ou, ainda, pela absorção de uma evidência cultural moderna que nos impele à eliminação rápida e imediata de qualquer emoção desagradável, definindo essas emoções como doentias.
No entanto, e apesar de tudo, permanece o facto de que cada vez mais pessoas se encontram medicadas e em tratamento de uma situação depressiva. As perturbações do humor, onde se incluem depressões maior, distimias e bipolaridade exigem, pela sua elevada incidência e, muitas vezes, significativa gravidade, que os psicólogos se mantenham muito atualizados, do ponto de vista científico e focados na procura permanente de soluções mais eficazes, mais rápidas e mais abrangentes.
O número de casos entre mulheres é o dobro dos homens. Não se sabe se a diferença é devida a pressões sociais, diferenças psicológicas ou ambas. A vulnerabilidade feminina é maior no período pós-parto: cerca de 15% das mulheres relatam sintomas de depressão nos seis meses que se seguem ao nascimento de um filho.
A doença é recorrente. Os que já tiveram um episódio de depressão no passado correm 50% de risco de repeti-lo. Se já ocorreram dois, a probabilidade de recidiva pode chegar a 90%; e se tiverem sido três episódios, a probabilidade de acontecer o quarto ultrapassa 90%.
Quadros de depressão podem ser disparados por problemas psicossociais como a perda de uma pessoa querida, do emprego ou o final de uma relação amorosa. No entanto, até um terço dos casos estão associados a condições médicas como cancro, dores crónicas, diabetes, epilepsia, infeção pelo HIV, doença de Parkinson, derrame cerebral, doenças da tiroide e outras.
Diversos medicamentos de uso continuado podem provocar quadros depressivos. Entre eles estão os anti-hipertensivos, as anfetaminas (incluídas em diversas fórmulas para controlar o apetite), os benzodiazepínicos, as drogas para tratamento de gastrites e úlceras (cimetidina e ranitidina), os contracetivos orais, cocaína, álcool, anti-inflamatórios e derivados da cortisona.
Depressão na infância e adolescência
Depressão é uma doença crónica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de casos na mesma família, que se manifesta não só em adultos, mas também em crianças e adolescentes. Qualquer criança ou adolescente pode ficar triste, mas o que caracteriza os quadros depressivos nessas faixas etárias é o estado persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que compromete as relações familiares, as amizades e a performance escolar.
Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão instalada na infância ou adolescência, existe risco de surgirem distúrbios bipolares, nos quais fases de depressão se alternam com outras de mania, caracterizadas por euforia, agitação psicomotora, diminuição da necessidade de sono, ideias de grandeza e comportamentos de risco.
Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco da criança. O quadro é mais comum entre portadores de doenças crónicas como diabetes, epilepsia ou depois de acontecimentos estressantes como a perda de um ente querido. Negligência dos pais ou violência sofrida na primeira infância também aumenta o risco.
ANSIEDADE
O que é?
A Perturbação da Ansiedade Generalizada é assim: um entrelaçar de preocupações excessivas e recorrentes sobre os aspetos quotidianos, acompanhada de sintomatologia física. Assim, com a preocupação elevada à categoria de qualidade, não passa pela cabeça de muitas pessoas queixar-se disso. Do que se queixam, de facto, é de cansaço, de agitação nervosa e irritabilidade, de dores musculares, de perturbações do sono, de dificuldades de concentração e de uma indecisão permanente. De um mal-estar geral, para o qual não encontram justificação aparente.
Na base desta perturbação encontra-se, fundamentalmente, uma dificuldade grande em gerir a incerteza própria da vida, o que se alia a alguns erros de raciocínio, no sentido em que se assumem pressupostos – sobre a adequação e o valor da preocupação, o nível de risco e de controlo envolvidos nas situações quotidianas, o reducionismo nas avaliações dos resultados possíveis, que, muitas vezes, não conhecem níveis intermédios – e se tendem a assumir desfechos negativos e catastróficos das situações.
É habitual, igualmente, encontrarem-se dificuldades nalgumas competências importantes para o bem-estar e que se prendem com o saber lidar com a vida do dia-a-dia; exemplos disso, são as dificuldades ao nível do processo de tomada de decisões (aliás, a indecisão e a angústia face à necessidade de tomar decisões são queixas frequentes das pessoas que sofrem da Perturbação da Ansiedade Generalizada) e o evitamento frequente de situações que originam ansiedade. Um sub-produto deste evitamento é a procrastinação: o adiamento sucessivo das tarefas que requerem ser executadas.
O diagnóstico tem, obrigatoriamente, de ser feito por um psicólogo ou psiquiatra, porque é fácil confundir esta perturbação com outros quadros de ansiedade, ainda que seja muito frequente: 2% a 4% da população, afectando 2 a 3 vezes mais mulheres do que homens. A importância do diagnóstico é a adequação da forma de intervenção psicoterapêutica, muito específica para esta disfunção ansiosa.
A perturbação da ansiedade generalizada é progressiva: sem tratamento eficaz, vai piorando, especialmente em situações de stress acrescido. Com alguma frequência, a situação é complicada com a presença simultânea de outras perturbações igualmente do foro psicológico/psiquiátrico; as companhias indesejáveis mais frequentes são: perturbações depressivas, perturbação do pânico, perturbações pela utilização de substâncias, e situações globalmente médicas associadas a stress, como o síndrome do cólon irritável.
O que é Ansiedade?
O termo “ansiedade” tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, entre outros.
Levando-se em conta o aspecto técnico, devemos entender ansiedade como um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, e que tornar-se patológico, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal).
A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.
Causas
Os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida.
A pessoa pode se sentir ansiosa a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente ou pode ter ansiedade apenas às vezes, mas tão intensamente que se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como usar o elevador) por causa do desconforto que sentem.
Sintomas de Ansiedade
Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do dia-a-dia. Eles aparecem como:
• Preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar)
• Sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer
• Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho
• Medo extremo de algum objeto ou situação em particular
• Medo exagerado de ser humilhado publicamente
• Falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade
• Pavor depois de uma situação muito difícil.
Existem três tipos de tratamento para os transtornos de ansiedade:
• Medicamentos (sempre com acompanhamento e receita médica)
• Psicoterapia com psicólogo ou médico psiquiatra
• Combinação dos dois tratamentos (medicamentos e psicoterapia).
A maior parte das pessoas com ansiedade começa a se sentir melhor e retoma as suas atividades depois de algumas semanas de tratamento. Por isso, é importante procurar ajuda especializada na unidade de saúde mais próxima. O diagnóstico precoce e preciso da ansiedade, o tratamento eficaz e o acompanhamento por um prazo longo são imprescindíveis para obter melhores resultados e menores prejuízos.
Prevenção:
O diagnóstico precoce duma perturbação ansiosa pode ser feito na grande maioria por um médico de clínica geral.
A presença de alguém que ouve atentamente, que se interessa e que tenta compreender, pelo prisma do doente, aquilo que se está a passar, é muitas vezes o tratamento suficiente.
São múltiplas as técnicas psicoterapêuticas, individuais ou de grupo, e a sua eficácia terapêutica é inequívoca. A hipnose, o relaxamento, a meditação têm sido algumas das técnicas usadas com êxito em casos selecionados.