Já passaram 6 meses desde a tarde que Fátima Nunes e o marido, Fernando Marta, não vão esquecer e que quase aumentou o número de mortes do incêndio de Pedrogão Grande. O carro que conduziam ardeu na Estrada Nacional 236 e eles conseguiram escapar com algumas queimaduras, graças ao auxílio de uma vizinha, Lídia Antunes, que passou por lá e lhes abriu a porta.

Fátima Nunes e Fernando Marta estavam em Figueiró dos Vinhos onde têm uma casa arrendada porque a casa que têm na aldeia de Ramalho, em Pedrógão Grande, ia entrar em obras. Na tarde de sábado, 17 de junho, perceberam que o fogo rondava a aldeia e queriam acudir a família: “Nós sabíamos que o fogo estava lá perto e metemo-nos à estrada para ajudar o meu pai que estava a tentar apagar o fogo e o meu filho que tem uma casa também lá perto.”

À entrada do IC8 perceberam que a estrada estava cortada. A GNR encaminhou-os então para a Estrada Nacional 236: “Mal entrámos vimos muito fumo e fogo… o pior era o vento e o fumo negro… os pneus começaram logo a pegar fogo, nós ainda andámos uns 5 quilómetros com os pneus assim, só víamos carros parados e nós a andar devagar, não se via nada… O carro batia nos outros carros…”

Fátima conta que foram momentos de aflição. Ela pensava que ia morrer queimada. O carro mal andava e já estava na berma quando sentiram que outro carro a arder lhes bateu por trás. Viram que quem estava no carro incendiou-se. Saíram do carro que estava a arder: “Era tudo a arder, carros, árvores, corpos de pessoas. A minha roupa já estava a arder. Foi nesse instante que passou o carro da Lídia. (Lídia Antunes, vizinha e conhecida de Fátima). Nós não víamos nada, gritámos para que parasse, para que nos deixasse entrar. Eu só a reconheci quando entrei para o carro, a porta não abria, entrei pelo pendura, depois passei lá para trás, o meu marido perdeu os óculos, foi para a frente e lá a ajudámos a ver a estrada até Castanheira, não se via nada!”

Fátima não consegue precisar quantos quilómetros andaram: “talvez seis ou sete sem ver nada e eu já queimada. Fui depois encaminhada para Coimbra, tinha queimaduras de 2º grau no ombro e no peito. Vivi depois momentos muito maus porque meti na cabeça que o meu filho tinha morrido queimado e o meu pai também e só descansei às 2 da manhã quando a minha filha falou comigo e disse que eles estavam bem.”

A família mais próxima de Fátima e Fernando sobreviveu. A casa do irmão de Fátima ardeu toda, assim como a casa deles (que estava para entrar em obras para melhoramentos) com toda a mobília e os bens.

A casa do irmão já foi reconstruída, graças à empresa em que ele trabalha, que o ajudou. Fátima e o marido continuam a viver na casa arrendada, em Figueiró dos Vinhos; a casa destruída (que estava em obras na casa de banho para depois se mudarem para lá) continua por construir. À Fátima e ao marido já lhes foi dado o montante das oliveiras que arderam num dos terrenos.