Isabel Angelino foi ao lado da RTP, aos Olivais, perceber porque é que António Raminhos, foi tão feliz nesse bairro lisboeta.
Raminhos conta: “Nasci nos Olivais com malta de bairro, toda a gente tinha alcunhas, eu era o Cabeças. Éramos putos, só fazíamos porcaria, as nossas brincadeiras eram brincadeiras de crianças mas com uma vertente agressiva, elevávamos sempre o nível! Por exemplo, à noite jogávamos às escondidas mas, nesse processo, arrombávamos mercearias e íamos roubar pastilhas… Ou, então, jogávamos à bola à uma da manhã, fazíamos um cagaçal no meio da rua, vinha a polícia refilar e tirar-nos a bola. Uma vez, nos Santos, fizemos uma fogueira gigante com caixotes de fruta e começámos a atirar latas de spray para o meio…
Olivais, nos anos 80, era um bairro pesado e só com a Expo’98 e com a primeira Super Esquadra portuguesa é que a coisa acalmou. Tenho amigos de infância que são “skinheads”, outros morreram, outros foram presos. Dei-me com aquela malta toda e é engraçado como não degenerei. Mesmo o contexto familiar era um bocadinho pesado. Tive um irmão que morreu antes de eu nascer e vivi com essa herança, até fiquei com o nome dele. Fui sempre muito protegido, mas havia sempre aquela névoa negra. Tinha um primo, que morreu de overdose, que ia muitas vezes a minha casa completamente pedrado ou a ressacar. Estas são imagens que guardo da minha infância e acho que o humor acabou por ser, um bocadinho, uma forma de escape. Nunca pensei em fazer comédia mas a comédia esteve sempre presente na minha vida. Via filmes em barda do Jerry Lewis, via tudo o que era do Mel Brooks. O meu irmão também estava sempre a fazer porcaria, tive sempre gente na família a dizer parvoíces. E lembro-me de ser puto e ouvir o Zip-Zip, no gira-discos, com o Raul Solnado. Mas o Herman é a referência e há-de ser sempre o mestre de todos nós. O Herman é o Herman.