Filipa D’Eça Leal, pediatra do blog “O Nosso T2”, esteve no Agora Nós para falar das questões que surgem num pós-parto normal.

A cabeça torta

A cabeça torta costuma assustar as mães mas geralmente é resolvido espontaneamente nos meses seguintes ao nascimento. A cabeça torta pode surgir por posição no útero ou pela passagem no canal do parto. Dependendo do tipo pode demorar apenas alguns dias a reabsorver ou pelo contrário manter-se durante alguns meses.

Dificuldade transitória na adaptação à vida extra-uterina

O processo de adaptação à vida extra-uterina é uma fase em que ocorrem alterações profundas na forma como os sistemas do recém-nascido funcionam, sobretudo ao nível da circulação do sangue e sistema respiratório. Dentro do útero o aporte de nutrientes e de oxigénio é feito através da placenta – após o parto, com a clampagem do cordão, a circulação passa a fazer-se de uma forma totalmente diferente. Além disso, os pulmões que dentro do útero estão cheios de líquido, expandem-se e passam a ser responsáveis por oxigenar o sangue do bebé. Embora na maioria dos casos este processo complicado decorra de forma linear, nalguns bebés podem existir sintomas transitórios, que necessitem apenas de uma vigilância nas primeiras horas de vida.

A icterícia no recém-nascido

A icterícia é a coloração amarelada da pele e mucosas, causada pela deposição de um pigmento existente no sangue, chamado bilirrubina. O primeiro local onde se nota o seu aparecimento é geralmente as conjuntivas, sendo também o último sítio onde desaparece. Quando falamos de icterícia no recém-nascido, temos de considerar a fisiológica e, portanto, normal e a patológica, que traduz doença. A icterícia fisiológica é muito frequente, atingindo aproximadamente dois terços dos recém-nascidos saudáveis (o número entre os bebés prematuros é ainda superior). Tem como características habituais aparecer pelo 3º ou 4º dia de vida, ser transitória e ter valores pouco elevados de bilirrubina, não sendo geralmente necessário tratamento. O aparecimento de icterícia precoce (até ao 3º dia de vida) ou tardia (após a segunda semana de vida) é motivo para observação por pediatra.

ATPosPartoAleitamento

O início do aleitamento

O 3.º trimestre da gestação tem sido apontado como o primeiro ponto de viragem em termos de sucesso do aleitamento materno, constituindo uma oportunidade privilegiada para uma primeira entrevista entre a futura mãe e o pediatra do bebé, a fim de discutir o regime alimentar do bebé. Neste primeiro contacto devem veicular-se conhecimentos sobre a prática e a técnica do aleitamento materno, averiguar-se os conhecimentos e atitudes dos futuros pais face ao aleitamento materno e a existência, ou não, de mitos relacionados com a amamentação.

O estabelecimento da lactação tem sido apontado como o 2.º ponto de viragem, sendo decisivas as práticas hospitalares ligadas ao trabalho de parto, parto e pós-parto para um aleitamento materno com sucesso.

Um comunicado conjunto da OMS/Unicef comtempla dez medidas para o sucesso da amamentação:

  • Ter uma política de promoção do aleitamento materno, afixada, a transmitir regularmente a toda a equipa de cuidados de saúde.
  • Dar formação à equipa de cuidados de saúde para que implemente esta política.
  • Informar todas as grávidas sobre as vantagens e a prática do aleitamento materno.
  • Ajudar as mães a iniciarem o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento.
  • Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação, mesmo que tenham de ser separadas dos seus filhos temporariamente.
  • Não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou líquido além do leite materno, a não ser que seja segundo indicação médica.
  • Praticar o alojamento conjunto: permitir que as mães e os bebés permaneçam juntos 24 horas por dia.
  • Dar de mamar sempre que o bebé queira.
  • Não dar tetinas ou chupetas às crianças amamentadas ao peito.
  • Encorajar a criação de grupos de apoio ao aleitamento materno, encaminhando as mães para estes, após a alta do hospital ou da maternidade.

O 3º ponto de viragem será o suporte à amamentação no regresso a casa. Os primeiros quinze dias do bebé, até que a lactação esteja bem estabelecida, são muito importantes.

AgoraTaniaPosParto

O teste do pezinho

O teste do pezinho é um diagnóstico que é feito normalmente entre o 3º e o 6º dia útil e permite diagnosticar doenças quase sempre genéticas.  O Rastreio não é obrigatório e será sempre dependente da vontade dos pais. A análise é suportada pelo SNS, sendo gratuita para os pais.

Perda de peso

A perda de peso após o nascimento é normal e não é motivo de alarme, a não ser que o peso não recupere nos dias seguintes. É muito importante o recém-nascido ser pesado no dia da alta da maternidade, para saber se, na 1ª consulta, começa a haver evolução positiva do peso.

Nos casos em que se verifique perda superior a 7% do peso inicial, perda de peso para além do 5º dia de vida ou a não recuperação do peso até ao 14º dia de vida, outros fatores têm que ser equacionados. Entre esses encontram-se a má pega, défice de produção de leite materno ou, mais raramente, problemas de saúde do próprio recém-nascido.

Transporte do recém-nascido para casa

O recém-nascido deve ser transportado no chamado “Ovo”, cadeira homologada, que permite o transporte seguro do bebé no automóvel.

Logo à saída da maternidade, o bebé deve viajar numa “cadeirinha” (sistema de retenção para crianças) voltada para trás, presa com o cinto de segurança do automóvel ou sistema isofix. Estas cadeirinhas estão geralmente aprovadas para serem utilizadas até aos 13 Kg. Em caso de uma travagem brusca, só em caso do bebé viajar de costas para o sentido da marcha, é que se pode assegurar o apoio devido à cabeça, pescoço e costas (previne, por exemplo, o famoso “esticão” cervical). Saiba mais no artigo do “Agora Tânia: Segurança Infantil”.

 

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