Mais do que a Primavera, o Verão é, por excelência, a época dos amores. E a razão por que isso acontece não deriva do acaso. Existem diversas teorias e condicionantes que parecem contribuir.

Redescobrir o corpo. Durante o ano os relacionamentos amorosos têm falta de sensualidade. As inquietações, o stress e a fadiga são os piores inimigos do desejo e a chegada do Verão revela-se o momento ideal para acordar uma libido adormecida pelos dias mais frios. O corpo, finalmente descoberto das roupas de Inverno, revela-se nas suas formas, cores e odores que despertam sensações e atrações. Geralmente apresentam-se peles bronzeadas, sem rugas de preocupações, distendidas pelo conforto da liberdade de movimentos.

Associada a esta exposição corporal parece estar a teoria que diz sermos ainda influenciados pelas feromonas, hormonas associadas à atração e disponibilidade sexuais, especialmente importantes nos animais não racionais. Para nós terão passado para segundo plano, mas muitos cientistas creem que ainda têm um papel muito importante nos mecanismos de atração entre humanos.

Verdade ou não, o que parece é que o calor favorece a libertação de odores corporais que incluem estas hormonas a que inconscientemente continuamos sensíveis.

Tempo livre. Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas, autorizar-se a fazer nada, tirar partido das horas extra de luz, sair e passear, tudo nesta altura parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas. A época de Verão é eleita pela maioria de nós para gozar as merecidas férias grandes. Sem imposição de horários, esquecemos os pequenos males do quotidiano que nos deixam de mau humor e subitamente descobrimos ter tempo para cuidar de nós, o que nos deixa agradavelmente felizes e bem dispostos. Interessa-nos pouco mais do que o dia-a-dia e mesmo as situações sociais daqueles que conhecemos são irrelevantes. Provavelmente travamos conhecimento com pessoas que nos agradam, mas que em circunstâncias normais nunca teríamos conhecido. A rotura do momento propicia a união de duas pessoas que fora deste tempo certamente nunca se encontrariam. O que conta é o prazer de estar junto.

Uma questão de luz. O sol influencia todos os nossos comportamentos. Dependemos totalmente da sua luz para o nosso metabolismo e biorritmos. Em países em que predominam as horas de luz e a presença do sol a expressão emocional é mais expansiva, como nos países latinos, enquanto que nos países do Norte da Europa, por exemplo, com menos horas de sol, essa característica é mais contida.

Estas são algumas das condições que o Verão e as férias reúnem para que o amor “ande no ar”, especialmente o amor romântico, efémero por natureza. Mas raramente estes amores perduram até à estação fria. Ainda que o amor de Verão seja intenso e muitas vezes recíproco, raramente resiste à prova do tempo, da distância e da realidade. Quando estas contingências regressam, muitas vezes assistimos a verdadeiras transmutações do outro. Aquele que tinha agradado pela sua espontaneidade, alegria de viver e capacidade de aventura modifica-se radicalmente. O seu penteado torna-se mais formal, as suas roupas transformam-se em verdadeiras carapaças, máscaras que tem de envergar para enfrentar a sua profissão.

Apenas alguns encontros extraordinários parecem resistir ao fim do Verão. Mas serão eles capazes de resistir à distância?

Longe da vista. Além do Verão ter acabado, a distância geográfica também é uma realidade em muitos amores de Verão e pode ser uma vantagem que ajuda a manter uma relação que tanto prazer deu, não só porque mantém o drama, como evita o desgaste. Permanece a incerteza, a impaciência da espera de um sinal do outro. A alegria dos reencontros predomina e muda o humor, pois são tão raros que há que aproveitá-los bem.

A distância tem ainda a virtude de não favorecer a rotina. Estar fora de contacto impede que os hábitos de casal se instalem, tornando cada encontro uma oportunidade para novas descobertas. Os assuntos de conversa nunca se esgotam. Mais: esta distância permite continuar uma vida de celibatário, sem a necessidade de estar comprometido ou de fazer cedências imediatas.

Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo no Verão parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas.

E evita discussões, porque raramente os elementos do casal estão em “dia não”. Vêem-se tão pouco que não faz sentido estragarem tudo com críticas ou desentendimentos.

Mas o reverso da medalha existe e revela-se quando impede a criação de hábitos de partilha característicos e necessários numa vida de casal, como, por exemplo, conhecer verdadeiramente a pessoa por quem nos apaixonámos no Verão. Mesmo que a maioria dos romances de Verão não dure, a verdade é que não nos devemos privar deles, até porque nos permitem aprender a conhecer e experimentar outras características que desconhecíamos em nós.

 

ABC das hormonas

Eis algumas das hormonas que podem interferir na libido:

Estrogénio: é a hormona sexual feminina responsável pelas formas femininas, a pele brilhante e a lubrificação vaginal.

Endorfinas: são as chamadas hormonas do prazer que dão uma sensação de bem-estar e protegem da dor.

Testosterona: a hormona sexual predominante nos homens (mas também existente nas mulheres) aumenta o desejo sexual, influencia a agressividade e competitividade. Dopamina: aumenta o impulso sexual em ambos os sexos e pode facilitar o orgasmo, embora nos homens também possa provocar ejaculação precoce

Fenietilamina: estimula o nosso lado apaixonado e romântico

Progesterona: reduz a testosterona e portanto reduz o impulso sexual, a mulher tende a ficar mais maternal, menos sensual e mais companheira

Prolactina: hormona estimulada na gravidez e na amamentação, reduz o impulso sexual das mulheres. Homens que tenham níveis muito altos dessa hormona também podem perder o desejo e ter quadros de impotência