As crianças, ao começarem a ter mais noção do mundo à sua volta, iniciam também uma fase de muitas questões. E as perguntas que podem fazer provavelmente incluirão assuntos como sexo, gravidez, namoro, homossexualidade, diferenças entre os sexos, entre outros assuntos que podem ser considerados polémicos. Por isso, é essencial estar-se preparado para quando as perguntas começarem a surgir. Especialmente quando as questões se tratam de assuntos mais tabu, o ideal é ser-se objetivo, respondendo apenas à pergunta da criança de forma clara sem criar versões fantasiosas.
· Identidade sexual
As dúvidas e curiosidades das crianças em relação ao sexo começam com outras questões existenciais como de onde vieram. Essa fase – que ocorre entre os 3 e 6 anos – é um momento de descoberta e formação da identidade sexual das crianças. Uma conversa franca e aberta pode começar abordando as diferenças entre o corpo masculino e feminino, uma curiosidade comum nessa faixa etária. É preciso explicar também aos pequenos por que não se pode mostrar os órgãos genitais em público, por exemplo.
· Desenhos
O uso de desenhos e ilustrações é muito útil para ensinar aos pequenos alguns conceitos básicos da relação sexual. Existem bons livros infantis disponíveis no mercado sobre o assunto, que contam com ilustrações para ajudar as crianças a conhecerem o assunto de forma lúdica. Nessa fase, a criança ainda não precisa de ser exposta aos detalhes da relação sexual, que serão entendidos posteriormente. Lembre-se que a infância é uma fase de descobertas e contos da carochinha como cegonhas e sementinhas não preparam o um filho para a vida. A verdade é sempre o melhor caminho.
· Sem medo
As perguntas das crianças podem provocar nos pais um sentimento de medo e incompreensão. Afinal, nem sempre é fácil entender como o filho descobriu certos termos, por exemplo. O ideal é lidar com o assunto sem medo. A criança, especialmente antes dos cinco anos, naturalmente vai perguntar como entrou na barriga da mãe ou por que os pais ficam nus. Procure sempre explicar esses e outros assuntos na linguagem deles. Muitas vezes, o tema não é fácil de lidar, nem mesmo com adultos. Mas é preciso investir na educação sexual dos pequenos para que eles ultrapassem qualquer barreira de vergonha ou desinformação que futuramente poderá se tornar um problema.
· É bom investigar
Quando as primeiras perguntas sobre sexo e sexualidade começarem, pesquise sobre o que os filhos já sabem e como aprenderam. Descubra onde ouviram e quais as principais fontes de conhecimento deles. Pode ser da televisão, da internet, de conversas com os amigos ou mesmo algo ouvido na rua. Sabendo a fonte deles, poder-se-á estabelecer uma relação de confiança com a criança, deixando claro que ela sempre pode contar com os pais para essa e outras dúvidas. Manter um canal aberto de comunicação é fundamental para uma educação sexual sadia e natural.
· Nomes corretos
Uma situação muitas vezes constrangedora pela qual os pais passam ao abordar a sexualidade é quanto aos nomes dos órgãos genitais. Existe uma nomenclatura médica e uma série de outros nomes e apelidos populares, que variam entre culturas e regiões diferentes. O ideal é falar os nomes corretos dos órgãos do corpo humano. Evite apelidar os órgãos porque cada um carrega em si ideias que podem ser machistas ou agressivas. Com a ajuda de um desenho ou ilustração, explique como funcionam os órgãos genitais masculino e feminino. Ensine os nomes: pénis, vagina, vulva, junto com outros mais populares. Mas evite apelidos ou diminutivos.
· Tomar banho com os pais
Durante a chamada primeira infância, antes dos seis anos, a criança costuma tomar banho com os pais. Essa é uma oportunidade para que os pequenos entendam a nudez como algo normal. Outro ponto que pode ser abordado nesses momentos é a mudança natural, lenta e gradual que ocorrerá no corpo da criança conforme ela vá crescendo. No entanto, chega uma certa idade em que eles já estão aptos a tomar banhos sozinhos. Trabalhe para que essa transição seja feita de forma natural e não brusca para não se tornar constrangedora.
· Conversa aberta
A partir dos sete anos, aproximadamente, a criança entra numa fase na qual já é capaz de compreender uma série de ideias que antes eram tratadas apenas de forma lúdica. É hora de uma conversa mais adulta, por assim dizer. Assuntos mais sérios podem ser abordados, como por exemplo: como acontece a relação sexual, os processos que geram uma gravidez e o que acontece durante os nove meses de gestação. Deixe a criança tirar todas as dúvidas sobre o assunto e mantenha, uma vez mais, o caminho de diálogo aberto para dúvidas futuras.
· Masturbação
A partir dos nove anos, a criança aproxima-se da pré-adolescência e, com isso, uma grande dose de hormonas passa a fazer parte da vida dela. É uma fase de muitas dúvidas a respeito de sexo, desejo e masturbação. Muitas famílias tratam o tema como tabu. Psicólogos, no entanto, apontam que a informação é a melhor fonte de lidar com o assunto. Evite abordar o tema como um constrangimento. É fundamental que os pequenos entendam que conhecer o próprio corpo é algo natural. O período entre os nove e os 15 anos de idade é a faixa-etária em que as mulheres têm a primeira menstruação e os homens, a primeira ejaculação.
· Outros temas
Durante essas conversas sobre sexo, seja na fase dos desenhos ou na conversa aberta, é importante ir introduzindo outros temas fundamentais referentes à sexualidade. Um deles é a questão da homossexualidade. Desde cedo, é preciso que a criança entenda que algumas pessoas se sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo, o que é perfeitamente normal. Outro assunto considerado tabu são as doenças sexualmente transmissíveis. Falar de doenças não é fácil, mas as crianças devem saber as principais delas (sida, sífilis, gonorreia) e ter em mente que elas são transmissíveis em relações sexuais desprotegidas. É uma oportunidade também para mostrar como o preservativo funciona e como ele é um aliado do sexo.
Dicas para responder às perguntas das crianças
– Não teça comentários preconceituosos a respeito de qualquer assunto, mesmo que sua opinião não seja favorável;
– Procure responder apenas ao que a criança perguntou, sem rodeios e sem ir muito além do que questionou; explore mais o assunto apenas se demonstrar interesse;
– Tente usar um linguajar mais próximo à realidade da criança para que ela consiga compreender o que está a dizer, evitando termos técnicos ou muito complexos;
– Leve a sério as questões feitas pelas crianças mesmo quando as respostas parecerem óbvias, pois não dar o devido valor à sua curiosidade pode desencorajar a vontade deles de descobrir o mundo e como as coisas funcionam;
– Lembre-se que curiosidades não resolvidas com os pais, terão as suas respostas procuradas noutros meios, como com os amigos ou na internet.
5 dúvidas comuns das crianças sobre sexualidade
As perguntas das crianças que mais frequentemente deixam os pais sem saber o que responder normalmente estão relacionadas com o sexo e a sexualidade. Durante as fases do amadurecimento, a criança desenvolve a sua sexualidade, isto é, não significa que ela pense em sexo como um adulto, mas começa a descobrir as sensações que o corpo pode proporcionar e as diferenças entre menino e menina.
Isto não deve ser visto como malícia e os pais não precisam de se assustar. É normal que uma criança queira tocar-se ou queira ver como é o corpo de uma criança do sexo oposto. Essas atitudes fazem parte da descoberta das diferenças entre os sexos e devem ser consideradas naturais.
Porém, justamente por causa dessa curiosidade aflorada é importante que as crianças sejam supervisionadas por adultos para que essa exploração das diferenças não passe dos limites.
Há, então, algumas dicas de como responder às perguntas dos filhos relacionadas a sexualidade:
1 – Como a mãe fica grávida?
Explique para o filho que quando há amor entre duas pessoas adultas, elas namoram e o pai coloca uma semente dentro da mãe, que cresce e se torna num bebé. Dê mais detalhes apenas se o filho demonstrar que ainda tem dúvidas sobre o assunto.
2 – O que é o sexo?
Diga apenas que sexo é uma maneira de namorar e que este é um assunto de adulto. Se as crianças forem maiores e já estiverem na escola há algum tempo, pode ser interessante explicar um pouco mais.
3 – Porque o meu irmão faz xixi em pé?
Explique que há diferenças no corpo das meninas e dos meninos, que elas têm vagina e eles têm pénis e que, por isso, para eles é mais fácil fazer xixi em pé. Se quiser, pode mostrar uma ilustração do corpo da menina e uma do menino para que a explicação fique mais clara.
4 – Porque o meu amigo tem dois pais?
Conte ao seu filho que assim como há amor entre um homem e uma mulher, também pode haver entre dois homens ou duas mulheres. Desta forma, coloca-se neutra em relação a isso e não expressa sentimentos preconceituosos.
5 – Por onde saem os bebés?
Fale que os bebés saem por um buraquinho que fica entre as pernas da mãe e que grávidas tem que ir ao hospital para que o bebé saia da barriga. Pode também contar que em alguns casos, o médico precisa ajudar a tirar o bebé pela barriga e não pelo buraquinho.
Ao responder a questões das crianças como estas, o mais importante é ensinar valores de respeito às diferenças e mostrar que eles devem-se cuidar. É preciso deixá-los cientes
de que ninguém pode tocá-los nas partes íntimas e que eles também não podem fazê-lo com os outros.
Além disso, deve-se manter sempre um diálogo aberto com o filho para que ele procure sempre os pais quando tiver alguma dúvida e não precise recorrer a outros meios. Para isso, é imprescindível cultivar a confiança entre filho e pais, portanto, nada de mentiras.