Normalmente, os indivíduos tendem a conviver com a incontinência sem procurar ajuda profissional. Isto acontece pelo simples facto de se sentirem envergonhados ou com medo para discutir o problema com o médico.
No entanto, muitos casos de incontinência podem ser curados ou controlados, especialmente quanto o tratamento é iniciado precocemente.
A incontinência urinária significa a perda involuntária de urina durante o dia ou à noite. Entre 5 a 8% da população sofre deste problema, ou seja, mais de 500 mil pessoas em Portugal.
Do número total de incontinentes, 75% são mulheres e 25% são homens. Por outro lado, cerca de 16% das mulheres entre os 40 e os 60 anos são afetadas.
A incontinência urinária é um problema frequente e importante que pode afetar as pessoas em qualquer idade. Embora a incontinência tenha uma elevada prevalência na população em geral, muitos indivíduos não procuram o médico.
Segundo estudos realizados recentemente em conjunto com a Associação Portuguesa de Urologia e com a Associação Portuguesa de Neuro-Urologia e Uroginecologia sobre incontinência urinária em Portugal, 41,2% das pessoas que sofrem com incontinência urinária são homens, 58,8% são mulheres. Os dados demonstram ainda que 81,6% dos portugueses tem receio de vir a sofrer de incontinência urinária.
Como funciona o Sistema Urinário?
Os rins produzem urina que é transportada através dos ureteres para a bexiga. A bexiga, sendo um músculo, expande-se para armazenar a urina. Quando está cheia emite sinais para o cérebro através de terminações nervosas. O esvaziamento normal da bexiga é um reflexo e resulta da interação entre o cérebro, as paredes da bexiga e o esfíncter que encerra a bexiga.
Causas da Incontinência
A incontinência urinária pode manifestar-se em qualquer faixa etária, embora a incidência global aumente progressivamente com a idade. As perdas involuntárias de urina, podem ser originados por:
– Doenças metabólicas
– Problemas neurológicos
– Traumatismos
– Enfraquecimento dos músculos pélvicos
– Infecções urinárias
– Situações pós-parto
– Menopausa
– Cirurgia da próstata ou aumento do volume da próstata
– Alguns tratamentos médicos
– Situações como diabetes ou elevados níveis de cálcio
Como se diagnostica?
O diagnóstico é estabelecido pelas queixas do doente, exame pélvico e demonstração da perda de urina com o esforço. Em alguns casos pode ser necessário realizar um estudo urodinâmico (para medir o fluxo urinário e pressões na bexiga e uretra) e cistografia (visualização radiográfica da bexiga).
Incontinência pode ocorrer de diversas formas:
Incontinência de urgência: É um desejo urgente de urinar seguido pela perda incontrolável de urina. Normalmente, os indivíduos conseguem conter a urina durante algum tempo, após a primeira sensação de que a bexiga está cheia. Em contraste, os indivíduos com incontinência de urgência normalmente têm pouco tempo para chegar à casa de banho.
A causa aguda mais comum é a infeção do trato urinário. No entanto, a incontinência de urgência não acompanhada por uma infeção é o tipo mais comum de incontinência em indivíduos idosos e, frequentemente, não apresenta uma causa evidente.
Incontinência por esforço ou stress: Representa a perda involuntária de urina ao realizar manobras que aumentem a pressão dentro do abdómen como tossir, espirrar, fazer esforços ou erguer pesos.
A incontinência urinária por esforço é o tipo mais comum de incontinência entre as mulheres. Ela pode ser causada por um enfraquecimento do esfíncter urinário. Algumas vezes, a causa são alterações uretrais resultantes do trabalho de parto ou de uma cirurgia pélvica.
Nos homens, a incontinência por esforço pode ocorrer após uma cirurgia de remoção da próstata, durante a qual ocorreu uma lesão da parte superior da bexiga ou do colo da bexiga.
Incontinência por extravasamento: É o escape incontrolável de pequenas quantidades de urina de uma bexiga cheia. O escape ocorre quando a bexiga se torna dilatada e insensível devido à retenção crónica de urina.
A pressão na bexiga aumenta tanto, que ocorre um gotejamento de pequenas quantidades de urina. Ao exame físico, o médico frequentemente consegue apalpar a bexiga cheia.
Em última instância, o indivíduo pode tornar-se incapaz de urinar porque o fluxo encontra-se bloqueado ou porque os músculos da parede da bexiga já não conseguem contrair.
Nas crianças, a obstrução do tracto urinário inferior pode ser causado pelo estreitamento do colo da bexiga ou da uretra (estenose uretral). Nos adultos do sexo masculino, a obstrução da saída da bexiga (a abertura da bexiga para a uretra) é normalmente causada por um aumento benigno da próstata ou pelo cancro da próstata.
Incontinência total: É a condição na qual a urina escapa constantemente da uretra, dia e noite. Ela ocorre quando o esfíncter urinário não fecha adequadamente. Algumas crianças apresentam esse tipo de incontinência devido a um defeito congénito no qual a uretra não se fecha como um tubo.
Nas mulheres, a incontinência total normalmente é causada por uma lesão do colo da bexiga e da uretra ocorrida durante o trabalho de parto. Nos homens, a causa mais comum é uma lesão do colo da bexiga e da uretra resultante de uma cirurgia, principalmente a cirurgia à próstata.
Incontinência psicogénica: É a incontinência decorrente de causas emocionais e não de causas físicas. Este tipo ocorre ocasionalmente em crianças e mesmo em adultos que apresentam problemas emocionais.
O médico pode suspeitar de uma causa psicológica quando o sofrimento emocional ou a depressão é evidente e as outras causas de incontinência foram descartadas.
Incontinência mista: Quando a perda é causada por ambos os componentes: incontinência por esforço ou stress; Incontinência de urgência.
Tratamentos existentes
Em termos globais a incontinência é um problema que tem já várias formas de tratamento, no entanto, a incontinência de urgência só pode ser tratada se as causas que a originaram forem identificadas e tratadas.
Tratamentos médicos e cirúrgicos são possíveis e, por isso, é de máxima importância que se consulte sempre um médico. De entre os vários tratamentos podemos destacar:
– Exercícios do pavimento pélvico
– Treino da bexiga – mais indicado para a incontinência de urgência
– Electroestimulação
– Cirurgia
– Tratamento hormonal
Exercícios do períneo
As perdas de urina quando uma pessoa se ri, tosse ou faz esforços são geralmente causadas pelo enfraquecimento dos músculos esfincterianos. Recomenda-se exercícios simples para fortalecer esses músculos – exercícios de reeducação dos músculos do períneo.
Estudos internacionais demonstram que cerca de 70% das pessoas que praticam regularmente este tipo de exercícios recupera totalmente o controlo da sua bexiga.
Estes exercícios ajudam pessoas de todas as idades a reencontrarem o equilíbrio e o controlo do seu corpo, funcionam também como prevenção. Mulheres que estão grávidas (particularmente do segundo filho), que deram à luz recentemente, que estão a entrar ou já estão na fase da menopausa, têm um risco mais elevado de vir a sofrer de perda de controlo da bexiga.
Frequência: Os exercícios devem ser feitos, pelo menos, três vezes por dia. Não é necessário repartir estes exercícios por três alturas diferentes do dia; pode-se fazer todos os exercícios de uma só vez. Basta simplesmente repetir três vezes cada exercício.
Exercícios: Para começar, procure uma divisão da casa calma para melhor se concentrar. Quando já tiver prática, estes exercícios podem ser feitos em qualquer sítio, sem que ninguém se aperceba que os está a fazer. Quando estiver a lavar os dentes, durante um percurso de carro. Quando estiver parada num sinal vermelho.
À noite, quando estiver a ler na cama. Quando estiver a praticar desporto, por exemplo, durante os alongamentos. Após ter urinado, permaneça sentada durante um minuto na casa-de-banho. Desta forma, tem tempo para fazer entre 7 a 8 contrações.
Deitada: Deite-se de costas. Consegue-se identificar mais facilmente os músculos corretos quando contraímos de trás para a frente. Você deve ter a sensação de que algo em si se está a levantar.
O que não deve fazer: empurrar para baixo, contrair as nádegas ou os músculos no interior das coxas, ou mexer a bacia (esta deve permanecer imóvel).
Você deve sentir o efeito dos exercícios a nível dos abdominais. Os exercícios de contração estão também, em certa medida, ligados aos abdominais. Pode-se fazer os exercícios estando sempre deitada de costas ou então, mudar de posição. Os resultados serão os mesmos. Porém, ao mudar de posição e ao fazer os exercícios estando, por vezes, sentada, outras vezes estendida ou em pé, não só irá fazer com que todas as partes dos nossos músculos sejam trabalhadas, como também, com que os mesmos exercícios sejam menos monótonos.
Sentada: Sente-se num braço de cadeira e estique as pernas, afastando-as ligeiramente. A parte do corpo que está apoiada sobre o braço da cadeira é a que deve ser puxada para cima. Se, ao contrair os músculos, tiver a sensação que se quer levantar, então é porque está a contrair os músculos errados. Permaneça sentada durante todas as contrações.
Contração: Mantenha a contração do músculo do períneo durante 6 a 8 segundos, relaxe durante o mesmo período de tempo e recomece o exercício. Tente manter a contração durante todo o exercício. Pode tornar o exercício mais difícil se reduzir a duração do relaxamento. Repita cada exercício 8 a 12 vezes por sessão. Se isto lhe parece demasiado difícil, então, faça 4 contrações longas, que são mais eficazes que 30.
Após algumas semanas, irá notar a diferença. Ao contrair os músculos quando tossir, irá constatar que consegue controlá-los melhor. É preciso esperar cerca de 4 a 6 meses para que possa correr, saltar e espirrar sem a mínima perda urinária. Quando já se tiver atingido o objetivo, é necessário continuar com os exercícios, pois se não se fizerem, as perdas urinárias irão reaparecer.
Aparelhos que fortalecem a musculatura pélvica Existem vários aparelhos que ajudam a fortalecer a musculatura pélvica, entre eles podemos destacar os cones com peso que são colocados na vagina para ajudar na realização de exercícios; aparelhos de estimulação elétrica, que fazem os músculos pélvicos contraírem-se, entre outros.