Ninguém duvida que há um estigma ligado a quem tenha uma doença mental. Para esclarecermos alguns conceitos errados associados a este tema, recebemos a psicóloga Ana Teixeira e o psiquiatra Ricardo Gusmão.

Este estigma ou preconceito isola o indivíduo em relação aos outros, como se fosse uma pessoa marcada pelo passado de doença. O estigma abrange aqueles que tiveram ou têm uma doença mental. As relações sociais ficam muitas vezes prejudicadas, como se o doente fosse um ser à parte, objecto, por isso, de uma discriminação.

Conheça alguns conceitos errados sobre a doença mental:

As pessoas que sofrem de doenças mentais não irão nunca recuperar?

As doenças mentais tratam-se e muitos doentes recuperaram a saúde.

As doenças mentais devem ser encaradas do mesmo modo como se olha para as doenças físicas. Tal como o cancro e as doenças de coração, sabe-se que muitas doenças mentais têm causas definidas, requerendo cuidados e tratamento. Quando os cuidados e o tratamento são prestados, é de esperar uma melhoria ou recuperação, permitindo às pessoas regressarem à comunidade e retomarem vidas normais. Infelizmente, os preconceitos impedem que as pessoas, uma vez recuperadas das doenças mentais, consigam dar os passos para reingressar na vida vocacional, familiar e social, com total plenitude. Este obstáculo vem bloquear os esforços que permitiriam que as suas vidas seguissem cursos tão normais e produtivos quanto possível.

As pessoas com doenças mentais são violentas e perigosas para a sociedade?

Essas pessoas apresentam tantos riscos de crime como os outros elementos da população em geral. Depois de recuperados e de regresso à comunidade, estes doentes têm maior tendência para se mostrarem ansiosos, tímidos e passivos, mais sujeitos a serem vítimas de crimes violentos, do que autores dos mesmos.

Uma pessoa que tenha tido acompanhamento psiquiátrico, mas sem passado criminal, tem menos probabilidades de vir a ser preso do que a média dos cidadãos.

As pessoas que receberam tratamento psiquiátrico são instáveis podendo perder o controlo a qualquer momento?

A maioria das pessoas com doenças mentais têm maior tendência para se afastarem do contacto social, do que de se confrontarem agressivamente com outros.

O receio que a sociedade tem da sua violência é infundado, não sendo uma razão válida para lhes serem negadas oportunidades de emprego, casa ou amizades. Os peritos afirmam que a maior parte das recaídas aparecem gradualmente e não de forma abrupta. Se os médicos, amigos, família e os próprios doentes estiverem atentos aos sinais premonitórios da doença, as crises podem facilmente ser detectadas e tratadas convenientemente, antes de se tornarem demasiado graves.

As pessoas que foram tratadas de perturbações mentais são empregados de baixa qualidade?

Muitas pessoas recuperadas de uma doença mental revelam-se excelentes empregados, havendo muitos patrões a declarar que são mais pontuais e assíduos que outros colegas. Demonstram serem iguais no que se refere à motivação, qualidade de trabalho e duração de tempo no emprego.

Entenda-se que algumas destas pessoas estão sujeitas a recaídas, que podem causar períodos de ausência dos seus empregos. No entanto, através de programas que permitam horários flexíveis e períodos laborais que se acomodem a estas interrupções, estas pessoas podem vir a ser empregados produtivos. É justo que lhes seja dada uma oportunidade.

 

As pessoas que recuperaram de uma doença mental estão mais indicadas para exercerem trabalhos de nível inferior, mas nunca posições de responsabilidade?

Em todas as pessoas, a capacidade de progressão numa carreira depende dos talentos pessoais, da destreza, da experiência e motivação. O mesmo se passa com as pessoas com doenças mentais. Tem havido muitos exemplos de pessoas que, tendo recuperado, foram colocados em lugares de muita responsabilidade. Podem mesmo ser personalidades destacadas. É apenas necessário algum encorajamento para que aqueles que recuperaram das doenças mentais, possam levar a cabo as suas tarefas com todas as suas potencialidades.

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