Probabilidade de sobreviver: quase nula
Voltar a trabalhar: não
Atividades físicas e desportos de aventura: nunca mais
Autonomia: nula

Era isto que constava nos relatórios médicos há 4 anos atrás.

Tinha 98kg, sem mobilidade, extremamente sedentário e sem objetivos concretos de mudança. Tudo consequências de anos de boémia, de excessos com muito álcool e drogas.

“Cheguei a este estado depois de ter tido uma infância, adolescência e juventude preenchida por atividades físicas e desportivas, desde o atletismo, até competir ao mais alto nível ao representar a Seleção Portuguesa de Canoagem – Águas Bravas – Slalom, na Taça do Mundo, Campeonato do Mundo e em mais provas de nível internacional. Depois de uma trajetória ascendente que foi conseguida com esforço, dedicação e sacrifícios, até à curva descendente provocada pelo desânimo, falta de objetivos e empenho, até ao declínio físico, mental e emocional.

Este período durou entre os 20 e os 35 anos de Augusto.

Após um percurso de grande fulgor no aspeto desportivo, Augusto foi-se abaixo quando percebeu que as compensações monetárias para o desporto que praticava não eram as que ansiara. E quando se entra numa espiral negativa, é muito difícil sair de lá.

Depois de passar dias, semanas, meses, anos deitado no sofá e em noitadas de excessos, e após uma desintoxicação bem sucedida, foi pela irmã (atleta de estrada) que chegou o primeiro incentivo e força para correr os primeiros km’s. “Foram dolorosos e complicados esses momentos, mas a partir deste dia a minha vida recomeçou. Inicialmente treinava sozinho, e em cada corrida ia-me afastando cada vez mais de casa – sem telemóvel ou dinheiro – sabia que tinha que regressar. Nesta altura decido então inscrever-me na caminhada (10k) do Ultra Trail Serra da Freita. No fim senti que conseguia fazer mais, que podia ter participado no Trail curto. Foi nesta primeira envolvência no mundo do Trail, que senti a alegria e a comunhão com a natureza que se vive neste desporto. Ao assistir à chegada dos atletas do Ultra Trail (70K) já com muitas horas de prova, cansados, sujos, com mazelas, constatei que cortavam a meta cheios de alegria e entusiasmo. Aqui despertei para o Trail.”

No mês seguinte já estava a participar na sua primeira prova de Trail: 25 km no TNLO 2011 – Trail Noturno Lagoa de Óbidos. Este mundo do Trail provocava-lhe satisfação, felicidade e boa disposição, então decidiu continuar.
“Foram estes os meus primeiros momentos no trail e que alteraram a minha vida para sempre!”
Augusto foi recuperando a forma física, ganhando massa muscular e perdendo a massa gorda “ e a sentir-me com capacidades para percorrer cada vez maiores distâncias até conseguir atingir o meu 1º objetivo – conseguir fazer 42 km. Mas rapidamente passei a barreira dos 50 km, e então o segundo objetivo estava traçado: conseguir fazer uma prova com 100 km e conseguir tornar-me um Ultra Maratonista.
Neste momento com quase 4 anos de Trail Running e com mais de 40 Maratonas e Ultra Maratonas e outras tantas abaixo dos 40 km, num total de quase 3000 km de provas, consegui atingir outro objetivo, estar presente na prova de Ultra Trail mais conceituada a nível mundial o UTMB – Ultra Trail Du Mont Blanc – 100 milhas – 168 km
.”

E já pensa no próximo objetivo, que é conseguir fazer uma prova com 200 milhas.

“Durante todo este tempo continuo a manter vivo o meu objetivo original que é chegar ao fim de cada prova.
O Ultra Trail foi o desporto que me devolveu a alegria, a felicidade, o meu bem-estar físico, emocional e psicológico, que me fez voltar a traçar metas, a definir objetivos.”

De que forma é que o Trail Running salvou a sua vida?
Voltei a praticar atividades físicas e de aventura – Trail, Canyoning, Canoagem Slalom (voltei a participar no Campeonato Nacional – voltei a ser campeão nacional Patrulhas) Caminhadas – fiz os caminhos de Santiago (caminho tradicional português), Btt – fiz o Douro Internacional, fiz uma formação em Espeleologia e outras tantas e tantas aventuras, um pouco por todas as serras e montanhas (Pirinéus e outras). Este mês voltei aos caminhos de Santiago, desta vez percorri o Caminho do Interior, desde de Vila Real, num total de 300 km.”


Augusto voltou a estudar e neste momento tem a Licenciatura em Psicologia e ando a fazer o Mestrado (em que o tema da minha Tese de Mestrado em principio vai incidir na Superação, Resiliência e Emoções em ultra distâncias). “O limite é a fronteira criada pela mente!”

Neste momento também está prestes a terminar de escrever um livro, que relata um pouco da sua história de vida.
“Voltei para o meu local de trabalho com força e vontade.
Tenho um novo estilo de vida, saudável, ativo, dinâmico; sinto-me com forças para vencer e triunfar. Saí dos cuidados intensivos para vencer, eu acredito e eu consigo!”

Hoje, com 42 anos, Augusto renasceu para a vida nos últimos quatro.
Atualmente, trabalha nos CTT.

Uma história que é um exemplo para todos nós…