“Olá o meu nome é Sandra Baptista. Desde os meus doze anos que sofro de uma doença de pele de nome hidradenite supurativa grave. Tenho 22 anos e admito que custa pedir-vos ajuda, pois tenho muita vergonha de expor em público a minha doença, mas neste momento o que mais quero e desejo é tratar-me de uma vez por todas. Esta doença tirou-me a adolescência, as idas à praia que eu tanto gosto, o convívio com as pessoas, pois de uns anos para cá, tenho sentido muito triste, passando dias e dias fechada em casa. Tornei-me agressiva com familiares, dizendo coisas que não queria, apesar de ter namorado e de viver com ele há dois anos, quando o conheci estava numa fase da doença razoalvelmente boa o que ajudou no envolvimento e no relacionamento com meu Tiago. Gosto muito dele, mas no último ano tornei-me muito agressiva, tendo constantes discussões, nas quais parti de tudo um pouco, desde pratos a televisões, discussões que após uns segundos arrependia me pois não tinham qualquer sentido, qualquer coisa enerva me, chateia-me…. Quero ter uma vida normal, ter filhos, ir à praia, vestir uns simples calções ou até mesmo vestir-me sem ter o receio de ir á rua e ter a roupa manchada devido pus que as minhas inflamações libertam que infelizmente não desaparecem. Tenho lesões e feridas em vários locais do como corpo como axilas, virilhas, peito tornando os meus movimentos difíceis e dolorosos, o simples facto de querer apanhar o cabelo para muitos, para mim é uma batalha, vestir-me dá-me vontade de chorar porque tenho que distribuir pelo corpo diversas compressas nas várias feridas para evitar o constrangimento de me sujar.
Amo a minha mãe mas sei que infelizmente não pode pagar-me o tratamento e a medicação. Adoro a minha família são tudo para mim, tenho seis irmãos, andreia, neide, tatiana, rafael, beatriz e a pequena maria ines. Os meus irmaos mais velhos tem filhos e felizmente estão todos bem de saúde.
Admito que em tempos perguntava-me porquê eu e não um deles?
O verão é altura mais complicada do ano, altura que mais me custa, ver as pessoas na rua, com roupas confortáveis, frescas ate mesmo curtas e decotada, roupas que não consigo usar de maneira nenhuma.
Um dia a minha irmã mais velha, a Andreia, ao chorar comigo quis enviar uma carta a pedir ajuda num programa de televisão, ao qual eu disse que não o fizesse pois não ia aguentar a vergonha. Não falando mais dos meus problemas, escrevo pois peço por favor que me ajudem, não temos como pagar a medicação, nem os tratamentos muito menos as operações de reconstrução em varias zonas do meu corpo, pois não consigo emprego há mais de ano e meio e não recebo qualquer tipo de subsídios.
Peço-vos uma resposta breve, pois estou no meu limite, muitas vezes pensei em acabar com este sofrimento, não acabando com a minha vida, mas sim isolando-me de todos, fugir e esconder-me de um corpo que me entristece cada dia mais, deixar os que me amam e que eu amo e viver uma vida solitária, sozinha longe de todos.
Peço desculpa o comprimento da carta e o incómodo que vos possa estar a causar. Mais uma vez peço, por favor respondam, nem que seja para dizer NÃO, mas por favor respondam. Estarei à espera…. Ansiosa.
P.S.: Quero muito voltar abraçar sem dor aqueles que amo…”

(Sandra Baptista)

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