Gonçalo Correia tem 18 anos.
Depois de namorar com raparigas, apercebeu-se de que era bissexual.
Queria contar à mãe que se apaixonara e estava feliz, mas tinha medo da sua reação. Decidiu enviar uma mensagem via telemóvel.
Foi a única coisa que Sandra Correia não gostou, a forma. “Eu já suspeitava do que ele me contou, nós conhecemos bem os filhos, e sempre tivemos uma relação olhos nos olhos. Não gostei foi de ele ter-me dito uma coisa tão importante da sua vida por sms.”
Gonçalo publicou em outubro de 2014 um vídeo a assumir a sua sexualidade, lendo a mensagem que tinha mandado à mãe, vídeo que gerou num só dia quase sete mil visualizações no Facebook.
Nele, o jovem tenta expressar o que acha dos comportamentos de outros jovens que o rodeiam. Gonçalo descreve a atitude dos rapazes que andam com várias raparigas e que por isso “se acham machos” e das raparigas que “não têm respeito por elas próprias e entregam o corpo a todos os rapazes”. No mesmo vídeo, Gonçalo explica que considera a bissexualidade algo normal e que as pessoas devem respeitar esta orientação sexual. O jovem lê também o SMS que enviou à mãe, admitindo que podia ter escolhido outro meio para revelar à mãe a sua bissexualidade. Gonçalo deixa ainda uma série de conselhos aos seus amigos, o principal: “Não ter medo”.
Mas a sua atitude teve consequências: apesar de ter ficado surpreendido com muitas mensagens que recebeu, de apoio, de pedidos de conselhos, de agradecimento pela sinceridade, também teve problemas.
“Ainda há muito preconceito na sociedade”, diz a mãe. “E por pessoas que falaram mal e arranjaram problemas com ele, teve de sair da escola onde andava”.
O Gonçalo diz que conhece muitos rapazes e raparigas que, ou por medo da família, ou da reação da sociedade, não assumem a sua sexualidade.
“Eu também compreendi quando o meu pai me abandonou, por isso ele também vai ter que me compreender…”
Para a sua mãe, há uma coisa muito importante: “Eu sou feliz se ele for feliz com as suas escolhas… mas estou preparada e ele também tem de estar para uma sociedade que se diz aberta em termos de mentalidade, mas ainda não o é”.