Na noite de 18 de novembro de 1978, António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), Carlos Peres (baixo), Américo Manuel (bateria), Renato Gomes (guitarra) e mais um grupo de amigos apanharam o barco de Almada para Lisboa e depois o metro até à Avenida de Roma, onde ficava a discoteca Browns. Chegados à porta, foram barrados. “Mas nós somos os UHF e vamos tocar aqui esta noite”, explicaram. “Tantos?”, questionou o porteiro. “Sim, são os nossos roadies.” António Manuel Ribeiro ainda hoje se ri com esta história: “Era o nosso primeiro concerto e nós estávamos cheios de nervos. Queríamos meter lá a nossa malta para nos sentirmos mais acompanhados”, recorda. Era também a primeira vez que António Manuel assumia o microfone, até aí limitava-se a tocar guitarra e “fazer uns coros”. “Um sonho simples e eu tão nervoso”, cantou, depois, no tema O Primeiro Concerto, que fala desse momento.
Os UHF tocavam antes dos Minas e Armadilhas e dos Aqui d”el-Rock. “Chegámos lá com muito pouca bagagem. Só tínhamos cinco ou seis músicas, não mais, e eram todas parecidas. Mas tocámos com uma atitude do caraças”, conta o músico. “No final, tivemos de vir logo embora porque tínhamos de apanhar o barco para casa e se ficássemos mais tempo teríamos de dormir ao relento. Só depois é que soube que havia pessoas a perguntar quem eram aqueles tipos. Foi o nosso lançamento.”
Pouco depois, em 1981, aconteceu aquele que terá sido um dos grandes concertos dos UHF: na Festa do Avante!, no Casalinho da Ajuda, perante 120 mil pessoas. O recinto estava completamente lotado e “a Festa ficou bloqueada, era impossível as pessoas deslocarem-se de um lado para o outro”, conta António Manuel Ribeiro, que se recorda de como os seguranças tiveram imenso trabalho a tentar evitar que a multidão subisse para o palco.
Quando olha para estes 40 anos – cheios de sucessos e também de momentos menos bons, muitos deles contados no livro Por trás do Pano, que AMR lançou em 2014 -, o músico, que é o único dos fundadores que se mantém ainda hoje nos UHF não esconde um certo orgulho neste percurso.
“O segredo é simples: se não houvesse canções importantes e se não houvesse fãs que pegaram nessas canções e as transformaram em hinos não haveria UHF”, explica. Canções como Rua do Carmo, Rapaz Caleidoscópio ou Matas-me com o Teu Olhar, que ainda hoje são cantadas pelos mesmos fãs que agora vêm aos concertos com os filhos pequenos, que também já as sabem de cor.
“Quando olho para trás e revejo o caminho, vejo um puto audaz a seguir o instinto”, canta António Manuel Ribeiro na música nova, que foi mostrada recentemente num concerto no Fórum Almada e que deverá integrar o próximo disco da banda. O tema chama-se Hey! Hey! Bora lá e é, explica ele, “uma radiografia poética destes 40 anos”: “Quando tínhamos alguma dificuldade, havia sempre alguém que dizia bora lá, porque essa é a única maneira de viver, sem desistir.”
Com vários concertos marcados até ao final do ano – incluindo a 22 de dezembro na Aula Magna, em Lisboa, e a 29 de dezembro na Casa da Música, no Porto -, os UHF esperam depois começar a gravar os novos temas para o disco, que deverá ser lançado, na melhor das hipóteses, em fevereiro. Será, como sempre, um disco de rock “n” roll, assegura António Manuel Ribeiro: “Estamos a fazer o que nos apetece, e nem podia ser de outra maneira. É isso que os nossos fãs esperam de nós.”