Sílvia Marques, é mãe do Salvador, um bebé de 9 meses que tem diagnosticadas até agora 72 alergias alimentares, algumas das quais muito severas e com risco de vida (choque anafilático e paragem cardíaca). Criou “O Alergias”, um projeto de apoio ás famílias de crianças alérgicas.
Aos cinco dias de vida, Salvador parou de respirar enquanto mamava. Seguiram-se vários sintomas e várias idas ás urgências
Os sintomas agravaram para falta de ar, pés inchados, vómitos constantes, gritos, diarreias e sangue nas fezes.
Descobre-se a primeira alergia: à proteína do leite de vaca da forma mais severa. “Ele não é só alérgico à ingestão, mas também à inalação e ao toque, o que representa que não pode estar onde haja comida com estes alergénicos, não pode respirar onde se cozinhe. Não pode tocar nestes alimentos nem ser tocado por quem os comeu. Agora imagine o que é esta proteína estar presente em grande parte dos alimentos, desde leite, carnes variadas, gelatina, pão e até gelados de gelo! Está também em brinquedos (plasticina, balões, giz, tintas de colorir…) detergentes, pastas de dentes, cremes e shampoos”, conta-me a mãe que não pára de falar e acrescenta “imagine que eu bebo leite e depois lhe vou dar um beijo, só esse facto pode provocar-lhe um choque anafilático ou uma paragem cardíaca. Aliás, ele já teve mais choques anafiláticos do que meses de vida.”
Este facto faz com que Salvador “apenas possa beber um tipo de leite específico vendido em lata, que custa 40 euros e dura apenas três dias. Só em leite gastamos por mês 400 euros“, diz-me Sílvia. “Esta situação levou-nos a uma grande fragilidade económica, temos ordenados penhorados contas e zero ajudas do estado. Pedimos ajuda a instituição a amigos e o que pudermos. A caneta de adrenalina é a única coisa que lhe salva a vida em caso de urgência. Custa perto de 60€, esgota e tem validade curta. Em caso de crise tem de ser injetada em segundos, se não for pode causar a morte. Infelizmente só temos uma se cada vez. Deveríamos ter dois no mínimo. Lemos os rótulos de tudo, somos considerados malucos dos rótulos e contactamos todas as marcas para garantir a isenção do alergénico.
Emocionada diz-me que o problema do filho fez com que toda a realidade familiar mudasse. “Tivemos que mudar a alimentação toda cá de casa. Ao Salvador só o cheiro ou o contato é o suficiente para lhe acontecer algo grave, por isso só entra em casa o que o salvador come, só comemos como ele. Foi péssimo para a irmã que chegou mesmo a chorar por não ter nada para comer.”
E como faz com a sua filha Maria, de três anos? “Ela está numa escola que sabe o que estamos a passar em casa e faz praticamente todas as refeições lá, o que é uma grande ajuda para nós. Até porque a nível financeiro as coisas não estão fáceis. Eu sou professora de ginástica, e neste momento deixei de dar aulas, dou apenas três horas por semana ao fim do dia quando o meu marido está. Revezamo-nos. Não tenho vergonha de dizer que vivo da ajuda de amigos e familiares, deixei de ter vergonha de pedir… porque não tive outra solução.”