Um AVC é, antes de mais, um Acidente Vascular Cerebral, ou seja, é uma patologia associada a alterações nos vasos do cérebro.
Estas alterações são de 2 tipos: isquémicas e hemorrágicas.
As primeiras implicam uma redução no fluxo sanguíneo cerebral. Esse fluxo é importante porque permite transportar para o cérebro oxigénio e nutrientes essenciais ao funcionamento das células que o constituem. Se esse fluxo é reduzido ou interrompido, as células cerebrais deixam de receber esses elementos essenciais e acabam por morrer.
As alterações hemorrágicas correspondem a alterações da permeabilidade dos vasos sanguíneos cerebrais ou mesmo a rutura dos mesmos. Assim, há saída de sangue desses vasos provocando a formação de um aglomerado de sangue que comprime as estruturas cerebrais, alterando o seu funcionamento.
Quando isto acontece as funções desempenhadas pelo grupo de células que morreu perdem-se e o indivíduo tem aquilo que se chamam sinais neurológicos, ou seja, manifestações da falta dessas mesmas funções.
Porque é que o AVC acontece?
No caso do AVC isquémico existem 2 causas principais: a trombose e a embolia. A trombose acontece quando uma artéria por qualquer razão vai ficando cada vez mais estreita e acaba por se ocluir (a razão mais frequente é a aterosclerose). A embolia acontece quando algo que circula na corrente sanguínea chega a uma artéria com menor calibre e a oclui (mais frequentemente trata-se de coágulos de sangue que se formam nas artérias fora do cérebro ou no coração).
No caso do AVC hemorrágico as 2 causas mais importantes são: traumatismo craniano e a existência de alteração das artérias, nomeadamente aneurismas, malformações arteriovenosas, mas mais frequentemente alterações causadas pela existência de hipertensão arterial.
Quais são os fatores de risco de AVC?
· Idade (acima dos 50-60 anos)
· Sexo masculino (embora seja mais frequente nos homens, nas mulheres há mais mortalidade)
· História de AVC na família mais próxima
· Hipertensão arterial
· Diabetes
· Hiperlipidémia (“gorduras no sangue”)
· Tabagismo
· Alcoolismo (especialmente no caso do AVC hemorrágico)
· Anticoncetivos orais (“pílula”)
O que é que me pode proteger de ter um AVC?
· Exercício físico regular de intensidade moderada pelo menos 3 vezes por semana
· Consumo de pequenas quantidades de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho tinto (só para o AVC isquémico, no caso do hemorrágico deve-se evitar completamente as bebidas alcoólicas)
· Dieta rica em peixe, cálcio e potássio
· Controlar os fatores de risco acima descritos
· Seguir os conselhos do seu médico, especialmente no caso de ser hipertenso, diabético ou ter problemas de coração.
Em Portugal, o AVC é ainda responsável pelo internamento de mais de 27 000 doentes por ano; cerca de 15 por cento dos quais morrem durante o internamento.
Na Europa, o AVC é também a maior causa de incapacidade a longo prazo: cerca de 50 por cento das pessoas que sobrevivem a um AVC ficam com limitações importantes que comprometem a sua qualidade de vida.
Quais os sintomas?
· Dormência, fraqueza ou paralisia de um lado do corpo (pode ser um braço, perna ou parte inferior da pálpebra descaídos, ou a boca torta e salivante)
· Desvio da boca para um dos lados
· Fala arrastada ou dificuldade em encontrar palavras ou discurso compreensível
· Perda súbita de visão
· Diminuição da sensibilidade ou sensação de encortiçamento de uma perna, de um braço ou de ambos os membros de um dos lados do corpo
· Confusão ou instabilidade
· Forte dor de cabeça.
Os sintomas regridem?
Depende de caso para caso. Poderá ocorrer reversão completa dos sintomas em menos de 24 horas (neste caso, chama-se Acidente Isquémico Transitório (AIT) e não AVC); recuperação total dos sintomas após 24 horas; ou o doente poderá ficar com sequelas do AVC.
Como se faz o diagnóstico?
Perante a suspeita de AVC, deverá ser feita uma tomografia computorizada (TC), para saber se este é isquémico ou hemorrágico.
Como se trata?
Se for um AVC isquémico, e caso o doente não tenha contraindicações para o tratamento, deve fazer-se trombólise (procedimento que visa fragmentar/desfazer o trombo que está a “entupir” a artéria), de modo a permitir o restabelecimento do suprimento sanguíneo ao cérebro, o mais rápido quanto for possível, para evitar sequelas.
O que fazer se desconfiarmos que alguém está a ter um AVC?
Use um teste simples que o pode ajudar a reconhecer se uma pessoa teve um AVC ou a sofrer de um ataque isquémico transitório.
· Fraqueza Facial: a pessoa pode sorrir? Tem a sua boca ou um olho caído?
· Fraqueza no braço: a pessoa consegue levantar os braços?
· Problemas de expressão: a pessoa consegue falar com clareza e entender o que lhe dizem?
Se todos estes sinais desapareceram depois de apenas alguns minutos ou algumas horas é porque um Ataque Isquémico Transitório (AIT) pode ter ocorrido. O AIT, também conhecido como um mini AVC, deve ser tratado como uma emergência, porque é necessário uma avaliação médica urgente.
Um ataque isquémico transitório, AIT (mini-AVC), é um sinal de alerta de que poderá estar em risco de um acidente vascular cerebral mais grave no futuro. Qualquer suspeita de AIT deve ser tratada como uma emergência, necessitando de avaliação médica urgente.
Deve ser cuidadosamente estabelecido um plano de reabilitação para cada doente de acordo com uma avaliação atenta e ponderada das suas incapacidades: pode estar afetada a capacidade de falar, de escrever, de conhecer objetos, de se orientar no espaço, de memória, de atenção, a força ou a sensibilidade, a marcha e as alterações emocionais – como a ansiedade e a depressão – que podem ser uma consequência direta da lesão.
É fundamental a intervenção de uma equipa multidisciplinar em todo o processo.
A regra dos 5 F’s:
Face: A face pode ficar assimétrica de uma forma súbita, parecendo um “canto da boca” ou uma das pálpebras estarem descaídos.
Força: É comum um braço ou uma perna perderem subitamente a força ou ocorrer uma súbita falta de equilíbrio
Fala: A fala pode parecer estranha ou incompreensível e o discurso não fazer sentido. Com frequência, a pessoa parece não compreender o que se lhe diz.
Falta de visão súbita: A perda súbita de visão, de um ou de ambos os olhos, é um sintoma frequente num AVC, bem como a visão dupla.
Forte dor de cabeça: Igualmente, é importante valorizar uma dor de cabeça súbita e muito intensa, diferente do padrão habitual e sem causa aparente.