Durante vários anos, Elisabete Jacinto, desafiou o universo masculino, competindo em moto nas mais difíceis competições de todo-o-terreno, disputadas em diversos continentes. Todavia, para esta professora de Geografia que apenas aos 21/ 22 anos de idade aprendeu a pilotar uma máquina de duas rodas e apenas com o intuito de dela se servir para o dia-a-dia, o maior desafio foi sempre consigo própria, acreditando que a vontade e tenacidade superam todas as barreiras.
E foi sob esse lema que, passando por cima de todas as dificuldades, não só se atreveu a ser a primeira portuguesa a enfrentar o mítico Paris-Dakar em moto, acrescentando-lhe a proeza de concluir a prova mas, mais do que isso, conseguindo triunfar entre as Senhoras, contra adversárias detentoras de um enorme palmarés e integradas em equipas profissionais.
Às motos, sucederam-se os carros e o retomar das vitórias internacionais entre as Senhoras.
Mas os grandes desafios continuam a encontrar eco na tenacidade internacionalmente reconhecida de Elisabete Jacinto e, três meses depois de ter obtido a carta de condução de pesados, apresentou-se à partida, para a edição das bodas de prata do Dakar (2003), instalada aos comandos de um camião, um tipo de máquina que encontra na prova africana um magnífico espaço para competição, mas da qual as mulheres se mantiveram afastadas durante largos anos.
É em 2004 que Elisabete não só se torna numa das primeiras mulheres do Mundo a concluir o rali Paris-Dakar conduzindo um camião, como se transforma na primeira mulher a ganhar uma especial nesta categoria no Rallye Optic Tunisie 2000.
Desde então, tem levado a cabo um trabalho contínuo, tendo feito progressos ao nível da condução, preparação técnica do seu camião e organização de equipa do qual muito se orgulha. Cerca de 40% da preparação técnica do seu camião é, actualmente, feita em Portugal.
Apesar da sua experiência na competição ter sido, também, marcada por alguns momentos particularmente difíceis, Elisabete não baixa os braços e ruma em direcção ao topo da classificação geral das mais variadas competições onde participa.
Entre os dias 4 e 10 deste mês, decorreu a Taça do Mundo Todo-o-Terreno em Marrocos.
“No dia 8 virei o camião. Ia com muito gasóleo atrás e isso fez com que ele se desequilibra-se, pois conduzir nas dunas não é fácil… Normalmente, vem sempre o chamado “carro vassoura” acompanhar, mas desta vez isso não aconteceu- Vimo-nos, completamente, sozinhos no meio do deserto”, conta.
Elisabete pediu ajuda às 16h00, às 19h00 voltou a pedir e disseram-lhe que estava a chegar.
“Às 5h da manhã disseram-me que já não conseguiam levar ajuda até nós. Então, percebemos que teríamos de resolver a situação pelos nossos próprios meios. Entretanto, chegou um trator que não tinha potência suficiente para puxar o camião. Cavámos muito e tirámos muita areia e, ao fim de dois dias, conseguimos meter o camião de pé”, afirma.