Patrícia Fonseca é Psicóloga Clínica e da Saúde há 15 anos, nomeadamente na área infantil e da saúde. Há 3 anos teve a ideia de criar um livro, para a faixa dos 5 aos 10 anos, que falasse – e pusesse as crianças a falar – de emoções. Percebeu que no mercado havia muitos livros de “apoio” para os adultos, que os ajudavam a falar com os filhos sobre os temas mais “difíceis” (como explicar às crianças alguma coisa), mas não havia nenhuma obra que pusesse as crianças a falar do que sentiam sobre esses temas. Então, criou “O Martim mora em duas casas” que, escrito de uma forma positiva, ajuda a comunicar com a criança sobre o tema de viver com pais separados. E, acima de tudo, ajuda-a a reconhecer e a gerir algumas emoções.
Apesar do tema deste livro, a obra fala muito mais que ser filho de pais separados; pretende ser, acima de tudo, um livro que fale da relação entre pessoas. Com uma história leve, os pais e professores podem escrutinar várias questões. Como profissional e mãe, assiste a uma mudança significativa da vivência familiar nos últimos anos, visto que a família tradicional está a dar lugar a outras experiências parentais e familiares.
Os pais poderão adequar a história à sua realidade familiar, ajudando a comunicar sobre o tema, a gerir sentimentos e a partilhar momentos. É ainda um livro que privilegia a aceitação da diferença. Todas as crianças devem conhecer e entender que não há famílias perfeitas e que podem ser felizes mesmo com as diferenças que as rodeiam.
Para este livro, Patrícia levou muito da sua experiência pessoal e profissional. Profissionalmente ligada à infantilidade – trabalhou em escolas e Centros de Saúde -, há situações que vivenciou que levou para a história.
No Hospital D. Estefânia, Patrícia teve uma criança que não falava, não comunicava com ela. A única coisa que fazia era desenhar. E desenhava sempre o mesmo: um animal. Mas Patrícia não percebia que animal era esse e, através da mãe da criança, soube tratar-se de um Porquinho-da-Índia. Foi, então, que Patrícia pediu para a mãe levar o animal para o consultório e, através dele, conseguiu estabelecer uma relação de confiança com a criança.
A importância do animal levou a que a história também tivesse um. E também porque recentemente adotou uma cadela para o filho de 8 anos (a obra colabora com a Abrigo Associação).
O filho, também Martim, acaba por estar espelhado na história e não é só pelo nome da personagem: também ele é filho de pais separados. Desta forma, Patrícia retrata um pouco da sua vida na obra, além de que a mesma também contribuiu para a ajudar a ouvir o filho (ele acabou por ser “cobaia” à utilidade do livro).
O livro é uma forma de ajudar os pais a perceber a forma como as crianças pensam e que muitas vezes não verbalizam com perguntas diretas que lhes são feitas. E Patrícia já teve feedback de que isso é mesmo possível.
Num determinado momento da história, a criança diz algo como “Eu quando estou com a mãe gosto de fazer isto; quando estou com o pai faço-o de outra forma”. Uma mãe, em consultório, confidenciou a Patrícia que essa passagem do livro fê-la perceber que tinha que mudar a forma como brincava com o filho.
“O Martim mora em duas casas” é o primeiro livro de uma coleção que Patrícia quer criar para retratar as novas vivências familiares. O próximo livro, que, se possível, quer lançar na altura do Natal, já tem protagonista e título: “Carolina tem uma nova família”. Esta história vai retratar a vida de uma menina que é adotada, mostrando os seus medos e inseguranças.
Além da sua atividade profissional e da escrita desta livro (e dos que virão), Patrícia criou também um blogue, “O balão das emoções”, que fala das crianças e da parentalidade, direcionado para o público adulto.