O AUTOR

José Correia Guedes nasceu no Porto em 1946. Passou mais de metade da sua vida ao serviço da TAP, para onde entrou em 1971 como comissário de bordo. No ano seguinte deu início à formação como piloto de linha aérea na Flight Safety Academy, Florida.

Depois de uma breve passagem pela posição de mecânico de voo integrou o quadro de pilotos da companhia, função que desempenhou em vários tipos de aviões Boeing, Airbus e Lockheed. Quando se retirou, em 2006, era Comandante e Line Check Captain da frota Airbus A340 da TAP.

Fundador e Director Adjunto da revista aeronáutica Sirius, criada em Março de 1983, publicou em 2010 o romance “Na Rota do Yankee Clipper”, centrado no despenhamento histórico de um Boeing 314 da Pan American Airways, no Tejo, em 1943.

Em 2017, criou a página de facebook “O Aviador”, onde narra episódios da sua vida enquanto piloto.

SINOPSE

Histórias de uma vida passada dentro dos aviões da TAP.

Ser comissário de bordo não é fácil, mas comandante de aviões comerciais ainda menos. José Correia Guedes passou metade da sua vida a pilotar aviões. E aconteceu-lhe um pouco de tudo. À cabeça dos infortúnios, viu o avião que co-pilotava ser sequestrado – estávamos em 1980, Sá Carneiro era o então primeiro-ministro e a RTP o único canal de televisão.

Houve outros problemas, claro. Aterradores para quem viaja de avião, mas quase corriqueiros para quem os pilota – desde o trem de aterragem encravado até “passageiros” clandestinos, passando por… partos improvisados a 10 mil metros de altitude. E houve momentos gloriosos. Como o primeiro e único desfile de moda feito em pleno ar. Ou o voo dos campeões, que trouxe para Portugal um Mourinho vitorioso, com a taça da Liga dos Campões debaixo do braço.

O autor recorda-nos as suas muitas aventuras, que começaram nos tempos (ainda) dourados da aviação comercial, quando voar era um luxo, e Nova Iorque quase tão remota como a Lua. De então para cá houve o atentado às Torres Gémeas, nasceram as lowcost, o mundo ficou mais pequeno – e as ex-colónias, para onde o Comandante tantas vezes voou, ficaram estranhamente mais longe, ou pelo menos na memória.

Em “O Aviador” redescobrimos um Portugal em mudança, nas histórias ora divertidas, ora nostálgicas, de quem viu o nosso País lá de cima. E é um mundo à parte, onde o medo de voar ainda afeta muita gente. Este livro passa também por aí, mostrar aos leitores que não há nada a temer: o comandante tem tudo sob controlo.

Histórias no Livro:

Págs. 23 à 30 – “Marta”

A história de uma adolescente que quis abandonar a toda a força o avião por estar com um ataque de pânico. O comandante José Correia Guedes recusou-se a deixar a rapariga sair do avião e, para a acalmar, pediu que a trouxessem para o cockpit. Com muito jeitinho o nosso comandante lá acalmou a jovem que passou de um estado

de pânico para um estado de deslumbramento com a paisagem que desfrutava na frente do avião, com direito “a uma fartura de relâmpagos” e tudo.

Págs. 41 à 48 – “Proibido Fumar”

O comandante José Correia Guedes acolheu no seu cockpit ilustres fumadores como é o caso de Miguel Sousa Tavares – pessoa que escreveu o prefácio do livro – ou de José Castelo Branco, que se agarrou com intensidade ao braço de Correia Guedes, suplicando-lhe para fumar um cigarro. Outra figura do nosso Jet Set, que o escritor decidiu preservar o anonimato, foi encontrada “de joelhos com a cabeça dentro da retrete, na mão esquerda segurava um cigarro enquanto com a direita acionava o botão de descarga”.

Já o arquiteto Siza Vieira que, segundo o nosso convidado, “dá 10 a zero ao Miguel Sousa Tavares em matéria de consumo de cigarros, sempre resistiu, agradecia, reconhecido, o convite de ir ao cockpit fumar mas dizia que preferia aguentar”.

Págs. 49 à 54 – “Puta que pariu. O português fugiu!”

José Correia Guedes fala de como era o ambiente e o estado de espirito dos passageiros logo a seguir aos atentados do 11 de Setembro às Torres Gémeas, em Nova Iorque. Num voo entre Lisboa e São Paulo, no final desse fatídico mês, deu-se “uma enorme cena de pancadaria entre passageiros estrangeiros, com sangue nas roupas, cadeiras e bagageiras”. Temeu-se o pior, a primeira ideia que assolou à cabeça de muita gente, piloto incluído, foi de poder tratar-se de terroristas. Afinal, eram holandeses… e acabaram por ser dominados pelos passageiros e pela tripulação. O avião aterrou de emergência em Fortaleza. A polícia federal tomou conta da ocorrência mas para os arruaceiros não serem novamente embarcados, para o destino final de São Paulo, todos os passageiros (cerca de 300) teriam de ser entrevistados pela polícia na condição de testemunhas… Correia Guedes desesperou com tamanha burocracia e o delegado brasileiro ao perceber isso mesmo, engendrou o seguinte plano: “Daqui a uns minutos (quando acabar o cigarro e o cafezinho) eu volto para o gabinete onde decorre o interrogatório. Entretanto o senhor fecha as portas do avião, arranca os motores e vai para a pista. Quando descolar eu aponto para a janela e grito bem alto: Puta que pariu, o português fugiu!”

E assim foi….

Págs. 63 à 71 – “Voar à campeão”

24 de Maio de 2004. O FC Porto está na Alemanha para disputar, pela segunda vez na história do clube, a final da Liga dos Campeões. Quem levou e trouxe a comitiva (equipa técnica, jogadores, dirigentes, convidados, num total de 270 pessoas) foi José Correia Guedes, pois claro, nascido no Porto e dragão de clube. Após a conquita da taça, e a pedido do nosso piloto, o Controlo de Trafego Aéreo alterou o call sign do voo de regresso para “CHAMPS” de champions. “Pela primeira vez na história da aviação comercial um avião cruzou os céus da velha europa identificado pela sigla CHAMPS”. O ambiente dentro do avião, como seria de imaginar, era de arromba, de festa, de euforia, regada a champanhe. Ao que consta, o único sóbrio, tirando os tripulantes do avião, era o treinador José Mourinho, que se fazia acompanhar da mulher e dos filhos pequenos.

Págs. 99 à 105 – “A bomba”

Época houve em que uma ameaça de bomba tinha honras de abertura no telejornal. Era fácil, e para muito uma diversão, bastava ter umas moedas no bolso e uma cabine telefónica à mão. O nosso convidado foi vítima das mesmas, das ameaças, não das bombas. Felizmente, o resultado, invariavelmente, era… nada. Ainda assim teve de aterrar, por altura do Natal, na Base das Lages para despiste de uma dessas ameaças. “Não conheço um único caso em que tenha sido encontrada uma bomba a bordo de um avião na sequência de uma busca desencadeada por um aviso”, relata o comandante no livro “O Aviador”.

Págs. 123 à 125 – “Clandestino a bordo”

Não era pessoa. Era animal. Rato. “Grande, gordo e anafado”. Ainda para mais, na classe executiva. E os passageiros? “Em pânico, principalmente as senhoras. Houve quem subisse para cima dos assentos”. E o roedor americano lá fez a viagem entre Nova Iorque e Lisboa.

Págs. 135 à 137 – “Passagem de modelos”

A história, o evento desenrolou-se a caminho dos Açores. O estilista “Augustus tinha comprado todos os lugares do voo para os oferecer a jornalistas e convidados de forma a que estes pudessem assistir à apresentação da sua nova coleção”. O camarim improvisado para as modelos se vestirem e serem maquilhadas ficou na zona adjacente ao cockpit. O piloto tratou logo de deixar o então co-piloto José Correia Guedes no comando das operações para poder ir ver outras vistas… O próprio do nosso convidado também ia lavar a vista de quando em vez. De tal forma, que o cabeleireiro Zé Carlos (que mais tarde viria a ser estilista) lhes atirou: “Pelo amor de Deus. Já viram as meninas 3 ou 4 vezes, agora virem-se para a frente e concentrem-se na pilotagem”.

Págs. 145 à 150 – “Afinal eram dois”

Num voo de Luanda para Lisboa uma mulher entrou em trabalho de parto. Além de prematuro, o parto não gerou um só bebé mas sim dois! Entre os passageiros não havia um único médico ou enfermeiro. Mas tudo correu pelo melhor. Para quem não saiba, “as hospedeiras eram obrigadas a fazer um curso na maternidade Alfredo da Costa”. Nesta ocasião também se juntou “o mecânico de voo que tinha assistido a 2 ou 3 partos enquanto prestava serviço militar em África”. Infelizmente, os gémeos prematuros viriam a perder a vida no hospital.