No “Agora, Memórias” de hoje recordamos a carreira de Manuela Marle na RTP. A atriz estreou-se como atriz em “Vila Faia”, tendo-se também evidenciado na série de época “Ricardina e Marta”.

Antes mesmo de ter enveredado pela representação, Manuela Marle foi bailarina até por volta dos 18 anos. Com apenas 10 anos, chegou a ser convidada para prestar provas na Ópera de Paris, perante Rudolf Nureyev. No final da prestação, a famosa lenda do ballet clássico aplaudiu-a e pegou-lhe ao colo e perguntou-lhe se ela sabia quem ele era. “És muito parecido com o Rudolf Nureyev”, respondeu…

Adversidades da vida (não vale a pena tocar neste assunto porque envolveu graves depressões da mãe que não aguentou a filha estar fora do país) obrigaram Manuela Marle a pôr as sapatilhas de lado. Sem curso nem formação de atriz, então como é que a ex-bailarina vai parar ao grande ecrã?

Tudo na vida da nossa convidada parece acontecer um pouco ao acaso mas sempre de forma especial e grandiosa. Durante uma estadia prolongada no Brasil foi, no dia antes de regressar a Portugal, assistir a um espetáculo de Jô Soares. Durante o mesmo, o humorista e apresentador de televisão meteu-se com Manuela e, ao perceber que ela era portuguesa a viver em Portugal, disse-lhe para no fim ir ao seu camarim. Jô precisava de entregar uma carta com a máxima urgência a Nicolau Breyner e encarregou Manuela Marle de o fazer.

Já em Portugal, e com a ajuda de uma jornalista amiga, chegou à EDIPIM para dar a carta em mãos a Nicolau

Breyner. Precisamente nesse dia estava a decorrer um casting para “Vila Faia”, aquela que viria a ser a primeira telenovela portuguesa. Sem perceber muito bem como acabou por se ver com uma folha A4 na mão e uma voz desconhecida a dizer-lhe para decorar o texto. A audição correu de tal forma que Nicolau não a deixou sair dos estúdios sem contrato assinado.

Em “Vila Faia” faz então o papel de Cristina, uma adolescente de 16 anos (quando na realidade tinha 26). A sua personagem vê-se envolvida num triângulo amoroso, ao qual se juntam a mãe (Ana Zanatti) e o namorado (Nuno Homem de Sá).

Depois disso começou a escrever história na RTP. Após participar na série “O Anel Mágico” (1986), integrou o elenco da 4ª telenovela portuguesa, “Palavras Cruzadas”, em 1987, onde volta a trabalhar com Nicolau Breyner, fazendo o papel de Isabel Salgado. Em 1988, entra em duas séries, “Sétimo Direito” e “Os Homens da Segurança”, neste último é Luísa, namorada de Tozé Martinho.

No ano a seguir, em 1989, protagonizou, ao lado de Filomena Gonçalves, a primeira telenovela portuguesa de época, “Ricardina e Marta”, adaptada partir de 2 romances de Camilo Castelo Branco. interpretando os papéis de Eugénia e Matilde. Esta série deu-lhe um especial prazer pela afinidade que o seu avó tinha com Camilo Castelo Branco, colecionador de um importante espólio do escritor de “Amor de Perdição”, que haveria de ceder à Câmara Municipal de Sintra, mas com a condição dos descendentes continuarem a servir de guardiões desse espólio. Todos os anos, a nossa convidada vai certificar-se que os requisitos do avó são cumpridos

Quando questionada sobre os trabalhos que mais gostou de fazer, Manuela Marle responde que “não há amor como o primeiro”, referindo-se obviamente a “Vila Faia”. E, claro está, elege também “Ricardina e Marta”, não só por razões

afetivas, mas também pela exigência que foi intercalar gravações de cenas com duas personagens tão distintas como Eugénia e Matilde.

Já em relação às personagens que mais gostou de interpretar, diz que o que gostava mesmo de ter feito, nunca chegou a fazer, ou seja, um papel de mendiga, de alcoólica ou de toxicodependente, pela exigência que os mesmos representam. “Sempre me deram papéis de menina bem ou mulher bem-sucedida”…

Em 1992, e depois do programa “Catavento”, Manuela Marle voou para outras paragens, para os canais da concorrência.