O ciclo de vida do amor

Todas as relações se constroem através das decisões que tomamos. Contudo, nem sempre somos suficientemente experientes para tomar a decisão certa, na altura certa. E a fase em que a decisão é tomada pode condicionar o sucesso de uma relação.

Para evitar falsas ilusões, é importante conhecer-se o “ciclo de vida do amor”, ou seja, as diferentes fases da relação do casal e os pontos que determinam se a próxima etapa será feita de amor ou tristeza.

A paixão, se for correspondida, dura entre seis meses e três anos no máximo. Não nos apaixonamos por um ser humano real, mas pela imagem daquele homem (ou mulher) e nele projetamos as nossas fantasias e sonhos. No fundo, o homem por quem estamos apaixonados não é a pessoa real, mas aquela que queremos que seja.

A paixão é um processo obsessivo idêntico à “loucura”. Quem está apaixonado só na presença do objeto da “paixão” é que encontra a satisfação. Regista uma baixa de serotonina (que é o que acontece também nas alterações psiquiátricas) e um aumento da produção de outras substâncias como a dopamina e norepinefrina. Estes neurotransmissores ativam a memória e fazem com que as pessoas fixem os pormenores da relação. São ainda responsáveis por reações físicas como corar, não conseguir pensar bem, ficar sem saber o que dizer ou ter as tais borboletas no estômago.

Esse estado irracional é uma das causas do frequente fim de relações quando saem do pico da paixão. Por isso, uma das sabedorias passa pela capacidade de “saltar” para a etapa do amor.

O amor é a fase tranquila da paixão e pode durar uma vida inteira. Se existir cumplicidade, compreensão, tolerância, imaginação, a paixão transita para amor, menos excitante, mas muito mais tranquilo e estruturante.

As pessoas mudam muito ao longo da idade adulta, apresentando novas necessidades a satisfazer e variadas ambições pessoais. Se não existir uma partilha desses caminhos, o mais natural é que ao fim de algum tempo cada um sinta que vive com a pessoa errada. É então necessário “nascer e morrer” ao longo de todo o período de amor, reinventando o casal e a sua forma de sentir e aproveitar a relação.

Outro dos momentos cruciais de uma relação a dois surge por volta dos 50 anos, idade coincidente com o início da menopausa nas mulheres. Nesta fase, a relação pode acabar, mas também pode melhorar. As circunstâncias que a fazem tremer são as mesmas que lhe dão espaço para continuar: a saída de casa dos filhos, mais tempo disponível para alimentar a relação, para cuidarem um do outro.

O universo do casal

Um casal interage, quase sempre, com as seguintes áreas ou elementos:

Profissão – Quando um dos membros do casal é mais “apaixonado” pela profissão do que o outro, é preciso ter cuidado, para que a relação não sofra excessivamente com isso. É muito importante que os que vivem uma profissão ativa criem laços intensos para fortalecer a relação e fazer com que ela resista ao tempo e aos muitos obstáculos que surgem. O essencial é que ambos se admirem e construam um futuro juntos.

Família – Quando se constrói uma relação, envolve-se inevitavelmente com a família dessa pessoa. O que é importante é saber gerir a relação com a família do parceiro da melhor maneira, sem promover ruturas ou colocar o parceiro “entre a espada e a parede”, forçando-o a tomar partido.

Amigos – Para alguém que numa determinada fase entra noutra vida, é sempre difícil compreender e aceitar alguns daqueles amigos de um passado que não é o nosso, mas que são importantes para a pessoa com que vivemos. Deve-se tentar aceitar sem criticar e evitar situações que obriguem o seu parceiro a escolher entre a nossa companhia e a de um amigo. O ciúme é saudável, podendo manifestar até uma prova de amor, desde que não se transforme num processo obsessivo que se pode agravar, mesmo sem razão.

Lazer – É normal haver gostos diferentes, mas é importante alguém ir cedendo. O importante é desfrutar do tempo de lazer em atividades que agradem aos dois e, dentro do possível, realizar as que só interessam a um no tempo em que estão sozinhos.

Do amor ao pesadelo

O primeiro sinal de pesadelo é a falta de comunicação. Quando um casal já não conversa, não partilha as suas ansiedades e emoções, é porque já permitiu que alguma indiferença e desgaste se instalassem.

Os fatores que condenam uma relação ao fracasso estão geralmente presentes nos seguintes cenários:

– Os membros do casal não têm interesses comuns

– Estão em diferentes fases da vida em termos profissionais

– Competem um com o outro: quando numa relação a dois ambos se devem apoiar e não competir

– Têm personalidades muito diferentes, mas que não se completam

– São pessoas muito centradas em si próprias e egoístas, que não se esforçam para partilhar uma vida a dois

– Passam 24/24 horas juntas.

Manter o sonho e o amor

Quando a relação começa tudo corre às mil maravilhas. É a descoberta, a ansiedade, a ilusão de um amor perfeito que alimente uma vida inteira. Mas, para que a relação resulte, transformando a paixão em amor já numa fase mais madura do relacionamento, é necessário que haja:

– Tolerância

– Cumplicidade

– Atenção

– Confiança

– Sexualidade estimulante

Algumas das queixas das mulheres em relação aos seus parceiros passam por:

– Falta de preliminares

– Falta de carinhos diários sem relação sexual

– O cansaço

Já os homens queixam-se de:

– Falta de disposição para tudo (sexo inclusive)

– Imagem desleixada

Paixão: a aventura dos sentidos

Na fase da paixão, não há grandes problemas a nível de sexualidade e, os que surgem, são geralmente superados. No entanto, do ponto de vista sexual, nem sempre esta fase é a mais satisfatória para a mulher.

De um modo geral, sobre a mulher apaixonada é possível dizer que:

– O desejo é muito intenso

– A excitação é também muito elevada

– O orgasmo pode não acontecer mas não é muito relevante

– A dispareunia (dor) pode existir

O mais fascinante na fase da paixão é a permanente descoberta. O casal faz tudo para estar junto e fazer amor não tem local nem hora.

Os sinais do fracasso

A sexualidade pode ser ainda mais afetada quando as restantes áreas da relação estão fragilizadas.

Há que estar atento quando:

– O casal não comunica

– Não partilha projetos

– Discute excessivamente

– Não faz cedências em relação ao outro

– Já não se preocupa com a opinião do parceiro

– Têm uma recordação negativa do tempo em que estão juntos

– Já não têm um projeto de vida em comum

Fantasias: reais ou virtuais?

No que toca a fantasias, homens e mulheres são também diferentes mas aqui unem-se num ponto: nem sempre querem que as suas fantasias se realizem.

No entanto, há fantasias que as pessoas querem mesmo realizar. O fundamental é que haja consenso: ninguém deve submeter-se a uma prática sexual sem que tenha vontade. A sexualidade deve ser uma fonte de prazer e não de sofrimento ou culpa. De qualquer modo, por querer agradar o parceiro, as pessoas tentam pelo menos equacionar a possibilidade de concretizar a fantasia.

Deve evitar-se preconceitos e juízos precipitados. Mesmo que as fantasias não combinem, é necessário conversar e tentar perceber se se trata de uma oportunidade para fazer evoluir a sexualidade do casal.

Outra das questões que as mulheres colocam prende-se com o consumo de pornografia por parte dos homens. Que as mulheres gostem mais ou menos da ideia, a verdade é esta: a maioria dos homens vê filmes pornográficos, porque eles são mais estimulados visualmente do que as mulheres.

Os filhos

Um casal que tenha um ou mais filhos está sujeito a outros desafios, que começam logo desde a notícia da gravidez. A partir do momento em que começam a ser três (ou mais),

homem e mulher passam a ter novas tarefas, prioridades e atenções. Há que ter consciência das exigências impostas pelo nascimento de um filho, programado ou não, surgindo na fase da paixão ou do amor.

Pode dizer-se que o risco é mais elevado quando se tem um filho na fase da paixão. O casal está numa fase de crescimento da relação e ainda se encontra num momento exploratório, de descoberta e de encantamento. Se, por um lado, ambos acharão maravilhoso ter um filho de alguém que tão intensamente os encanta, por outro, ainda não estão preparados para a realidade que envolve criar e educar uma criança.

Se o filho nascer na tal fase do amor, a probabilidade da relação superar o desafio é bastante maior, pois a paixão diminui e o “príncipe encantado” já é um homem normal sem se ter transformado em “sapo”, cheio de defeitos. Com um amor tranquilo entre os dois, o casal consegue mais facilmente sobreviver à existência de uma criança.