O fado e a poesia de mãos dadas na voz da Aldina Duarte e pelos dedos da pianista Madalena Palmeirim. Desfrutem…

O preço de um poema “É triste constatar que um poeta consegue fazer mais tostões escrevendo ou falando da sua arte, do que a praticá-la”. O lamento tem décadas e vem assinado por W.H.Auden, mas serve completamente para hoje. Se aceitássemos sem mais que o valor intrínseco de um bem é aquele determinado pelo seu potencial económico, a poesia já há muito teria desaparecido. Mas na situação actual, onde as questões de produção artística e cultural são mais ou menos remetidas par um limbo, não se pode garantir que a extinção não seja uma efectiva ameaça. Sabemos que uma carcaça anda à volta dos vinte cêntimos, que um litro de leite anda à roda dos sessenta e por aí fora. São números que muito justamente nos preocupam, enquanto indicadores das linhas de sobrevivência. Mas quanto custa um poema?

Quanto custa mesmo um poema? Quanto é que nos custou o nosso poema nacional, “Os Lusíadas”, e quanta pobreza custou a Camões? Quanto custou a obra de Álvaro de Campos, que é tão extraordinária como o claustro do mosteiro dos Jerónimos onda jaz o seu criador? Quanto custou “Um adeus português” do Alexandre O’Neill ou “Natureza morta com louva-a-deus”, de Fiama Hasse Pais Brandão? Que preço colectivamente nós pagamos por “A Magnólia” de Luiza Neto Jorge ou por “O Inominável” de Eugénio de Andrade? Sentimo-nos em dívida por Armando Silva Carvalho ter escrito no nosso tempo e a nosso lado um conjunto tão extraordinário de poemas como o do seu “De Amore”?

Mas os poetas precisam que a sociedade pergunte se tem a pagar alguma coisa.