A violência é uma arma


A partir de julho de 1975, as ações violentas contra sedes partidárias, militantes, ativistas, inclusive em estabelecimentos particulares, passam a ser recorrentes. As ações incidiram sobretudo em partidos e militantes reconhecidos como de esquerda, no Centro e no Norte de Portugal, tendo sido contabilizadas mais de duzentas ações. Para tal, o apoio de alguns setores da Igreja Católica fora essencial; o planeamento das ações fora efetuado em território espanhol; os militares contrários aos ideais que estiveram na origem do 25 de Abril mobilizaram-se em prol das ações e o anticomunismo presente na sociedade portuguesa possibilitou o apoio civil necessário para o sucesso das ações.


A contra-revolução (II), ou a violência como arma política

O 25 de abril provocou reações na sociedade portuguesa e na comunidade internacional que evoluíram à medida que o processo político se desenrolou. Num primeiro momento a reação vem dos que defendiam o Estado Novo, os seus interesses e a particularmente a sua política ultramarina. Esses grupos constituirão formações políticas de fraca implantação e efémera duração e estarão na base da manifestação da maioria silenciosa de 28 de Setembro, tendo o general Spínola como figura de referência. Derrotados no 28 de Setembro, com a renúncia de Spínola, esses grupos, tendo por base elementos da PID/DGS, da Legião Portuguesa, elementos das Forças Armadas, irão organizar-se para ações de tipo contrarrevolucionário, tendo em vista o derrube do regime implantado em Portugal. Instalam a sua sede em Madrid, contando com o apoio dos setores falangistas e dos serviços secretos franceses e criam um braço armado, o ELP. Recebem um primeiro reforço após o 11 de março de 1975, com a chegada do general Spínola e dos seus companheiros de aventura. Formam o MDLP no exterior e o Movimento Maria da Fonte no interior e contam com o apoio da Igreja Católica, em especial do norte e centro, que passa a ser a mais sólida e consequente organização de rejeição ao processo político. Todas estas organizações se afirmam defensoras de um regime democrático e pluralista – o que conflitua com o apoio recebido dos falangistas espanhóis – e são ferozmente anticomunistas. Ligam-se ainda em África aos dois movimentos contra o MPLA (FNLA e UNITA), não se coibindo de combaterem ao lado daqueles que tinham sido seus inimigos. Homens como Santos e Castro, comandante dos Comandos em Angola, serviram como mercenários às ordens de Holden Roberto da FNLA, assim como Alpoim Calvão.

Durante o verão de 1975, estes grupos reforçaram a sua organização, mais uma vez a partir de Madrid, com apoio de sectores da administração espanhola e de grupos de extrema-direita. Organizaram-se em três componentes, uma militar, outra política e uma terceira de informações. As ações concretas eram planeadas em Espanha e executadas depois da travessia da fronteira. De junho a novembro estes grupos executaram cerca de trinta ações bombistas. Contudo, apesar de toda a ajuda recebida, o MDLP teve dificuldades na execução destas ações, pelas disputas internas da sua liderança, às quais nem a intervenção pessoal de Spínola, conseguiu pôr fim.

Outras organizações desenvolveram-se no interior do país, em especial no Norte, sendo relevante o movimento Maria da Fonte, montado em torno de Jorge Jardim e Paradela de Abreu, com o apoio da Igreja de Braga, em especial através do Cónego Melo. São-lhe atribuídos mais de cem ataques a sedes dos partidos de esquerda, em especial o PCP. Contudo, sem objetivos próprios de tomada do poder, acabou por se extinguir, pouco depois do 25 de Novembro.

Contudo, alguns setores contrários à desmobilização vieram ainda a protagonizar violentos atentados no pós 25 de Novembro, causando vários mortos e muitos feridos, antes de serem desmantelados pelas novas autoridades e levados a julgamento no processo da rede bombista.

Fonte: Aniceto Afonso, Carlos Matos Gomes e Maria Inácia Rezola.

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