Excursões Air Lino, enganam até no destino!
Lino é um visionário que não promove excursões – oferece experiências inolvidáveis; não vende woks que até podem ser usados como pá no campismo – é o profeta de um novo estilo de vida. Os excursionistas são sobretudo idosos que aproveitam para conhecer o país por poucos euros (ou menos do que isso) e com tudo incluído: viagem, refeições e brindes diferenciados para as senhoras e cavalheiros.
O chefe de operações e mestre-de-cerimónias é este homem de bigode bem aparado, o Lino, que tomou como missão de vida a apresentação de Portugal aos portugueses. Anita é a motorista do autocarro e carrega a cruz de salvar os idosos da catadupa constante de avarias da viatura. Todos juntos, empresários e clientes, passam a ser uma família disfuncional repleta de avós.
Lino (Rui Unas)
Lino faz tudo. Distribui os folhetos promocionais pelas caixas de correio, anima as viagens, apresenta e vende os produtos. É conselheiro matrimonial, técnico de som, bombeiro, o que for preciso. Só evita conduzir o autocarro porque é o pior condutor da história.
Lino tem um sonho: comprar a TAP. É uma pessoa cheia de qualidades com o talento de gerar problemas nas coisas mais simples. É capaz de vender um cobertor elétrico muito acima do preço de mercado, mas também de ser o único amigo dos idosos quando eles sentem fugir-lhes a esperança.
Anita (Dânia Neto)
Anita é uma ciclista que o autocarro excursionista atira para a berma da estrada. Lino tem de socorrê-la e leva-a de boleia. Anita enfrentou uma sucessão de desencantos e tristezas. Foi casada, mas separou-se há poucos anos por culpa da troika, diz ela. Encontra nos clientes habituais da excursão uma nova família que a recebe de braços abertos.
As circunstâncias fazem de Anita a nova motorista das excursões e o contraponto simpático e acessível à lendária rezinguice linesca. Onde Lino é o caos, Anita é a solução; quando Lino amua, Anita lidera, mas se Lino ronrona, Anita aninha.
Liberto Pacheco (José Eduardo)
Liberto e a esposa, Maria das Dores, nunca falham uma excursão, mas chegam sempre atrasados. Em todos os episódios, sem exceção, têm de apanhar um taxi e embarcar no autocarro uns quilómetros à frente. A desculpa é sempre a mesma: ficaram a dar largas à vida sexual, que é para lá de muito ativa. Até a meio das excursões Liberto e Maria das Dores fogem para sítios recatados.
Liberto é reformado da Marinha Mercante e prometeu à mulher que ia mostrar-lhe o mundo, começando pelas terras das excursões de Lino.
Maria das Dores Pacheco (Natália de Sousa)
A mulher de Liberto é cleptomaníaca e rouba de tudo, desde pacotes de açúcar nos cafés a objetos mais elaborados. Liberto sabe mas não diz nada com medo que ela vá presa. Vive com o marido um caso genuíno de amor há décadas e mantém uma relação tórrida que arrelia os amigos. Um deles, Mascarenhas, culpa o comprimido azul.
Mascarenhas (Alfredo Brito)
Mascarenhas talvez tenha 80 anos, pode ser que sejam apenas 70, mas Lino dá-lhe 120. Sofre do complexo de Diógenes: não deita nada fora, é um acumulador “das coisas boas que as pessoas deitam fora”. Anda sempre com sacos plásticos atrás, com aquilo que lhe recolheu e de que não se quer desfazer.
Vive sozinho e resiste a ir para um lar. Mascarenhas devia pagar dois bilhetes no autocarro da AirLino: um para ele e outro para o lixo que nunca larga. “O que é lixo para uns é um tesouro para outros”. Talvez esteja a falar de si próprio.
Lúcia (Ângela Pinto)
Lúcia leva os netos às excursões. Os netos nunca dizem nada, de caras enfiadas nos telemóveis ou a ouvir música. Lúcia é um bom exemplo do outro lado da velhice: os avós que tomam conta dos netos porque os pais estão a trabalhar e não há escola nesse dia ou há um período de férias para preencher.
Lúcia é a única que faz frente a Lino, com quem embirra. Mesmo assim, sabe que ele tem bom fundo e incentiva Anita. A memória começa a pregar-lhe partidas mas, em vez de se agarrar à perda do passado, prefere olhar para a estrada em frente.
Secundina (Vera Mónica)
A beata. Anda com uma fotografia de Freitas do Amaral na carteira desde 1976, porque acha que ele foi o homem que salvou Portugal do comunismo. Beija a fotografia dele ao lado da imagem de Nossa Senhora, como se fosse um santo.
Apesar de ser muito religiosa, roga pragas e reza ajoelhada por um raio que fulmine a irmã com quem tem uma disputa antiga. Faz a mesma coisa com os outros excursionistas ou com Lino, quando embirra com eles. É a primeira a exigir a Lino tudo aquilo a que tem direito e que o folheto da excursão promete.
Damião (Orlando Costa)
O veterano da guerra do Ultramar. Nunca fala do que se passou: “o que se passou no mato ficou no mato”.
Forma uma dupla de grande camaradagem com Mascarenhas. É casado, mas a mulher nunca o acompanha. Torna-se próximo de Lino, a quem dá conselhos para fazer dele um homem. Compra os produtos que Lino vende depois de duras negociações que acabam sempre no preço inicial.
Sente uma atração física por Maria das Dores, como todos os homens da excursão.
Sr. Tainha (Cândido Ferreira)
Começa por ser o motorista do autocarro mas é despedido devido a uma incompatibilidade entre a sua profissão e o facto de ser narcoléptico: adormece ao volante com o autocarro em andamento. Aliás, adormece em todas as situações: a meio de uma conversa, a levar o garfo à boca, numa pergunta a Lino sobre um produto…
Passa a ser um dos excursionistas e acompanha o grupo em todas as viagens. É tratado por todos por “Sr. Tainha” como se “Senhor” fosse nome próprio.