Serenella Andrade nasceu em Nápoles, Itália, a  18 de Setembro de 1962. Filha da napolitana Maria Antonieta e do português Luís Andrade é a mais velha de três irmãos, depois nasceu Ricardo e a seguir Hugo (já em Portugal), ambos com percurso conhecido na RTP. 

A apresentadora de 62 anos conta-nos como os pais se conheceram: “Foi num paquete, em alto mar, muito romântico! A minha mãe estudava Português em Itália e queria vir com uma amiga a Portugal, porque tinha ganho uma Bolsa de Estudo, e o objetivo era virem passar uma temporada em Coimbra. O meu pai estudava canto lírico em Roma, e então eles encontram-se nesse barco quando ele vem de férias a Portugal e ela também embarca para vir ao nosso país”.  

Serenella diz que os pais devem ter trocado uns olhares, ter começado a falar um com o outro, mas não namoraram logo. “Os meus avós davam umas grandes festas quando o filho voltava, e então por sugestão dele, convidaram a minha mãe e amiga para a festa desse regresso”, confessa. “Até as convidaram para lá ficarem”, explica, “mas acho que eles só começaram a namorar mais tarde, numa outra festa”.  

 

Depois de casaram, Luís Andrade e Maria Antonieta vão viver para Nápoles, onde o pai de Serenella queria vingar como cantor lírico. “Mas como não ganhava o suficiente nesta profissão, decidiu tirar um curso de televisão, em França”.  Passados uns tempos a família vem então viver para Portugal. 

Serenella não tem muitas memórias de Nápoles, “vim de lá muito pequenina, mas voltei muitas vezes nas férias, e temos lá família”, explica, para acrescentar que “tendo tido uma infância feliz, não me lembro de muita coisa, até ser adolescente, aí já tenho várias recordações”. E diz que um dos seus sonhos era ser bailarina clássica, “e também queria muito aprender Inglês, porque quando viajávamos entre Portugal e a Itália, faziamo-lo de paquete, onde toda a gente conversava em inglês, por isso meti isso na cabeça”. Praticou ballet e estudou Inglês até, naturalmente, numa certa idade, ter deixado.  

Tendo escolhido a área de Humanidades a partir do 10.º ano, no Liceu Raínha Dona Leonor, “era melhor aluna nas Letras do que nas Ciências”, diz que não pensava na altura trabalhar em televisão, “acho que queria ser ilusionista, trapezista, numa altura hospedeira de bordo, até pensei ser arqueóloga”, confessa. 

Como falava bem o português, o italiano e o português, um dia a mãe disse-lhe por que não experimentar um curso na área do Turismo. “E foi assim que fui fazer o curso de Turismo, e cheguei a trabalhar como tradutora, estive na Embaixada de Itália, onde a minha mãe trabalhava, numa agência de viagens, ganhava muito bem. E fui uma das sócias fundadoras da agência de tradutores de conferências, ainda pago as quotas”, diz. 

Como sempre gostou do mundo da televisão, até por causa da profissão do pai, em meados dos anos 80 Serenella vê um anúncio no Diário de Notícias, “de um curso para assistentes de realização, e decidi concorrer”, explica. “Mas passou imenso tempo e perguntei ao meu pai se podia saber alguma coisa sobre o concurso”, refere, “ao que ele conseguiu apurar que já tinha fechado e que eu não tinha sido chamada. Mas o meu pai falou-me de um outro curso, para apresentadores, e perguntou-me por que não experimentar”, conta.

“Então arrisquei e fui chamada, e as aulas de dicção, postura, eram dadas pela grande atriz Glória de Matos, que nos falava no quão essencial era saber abstrairmo-nos do que estava à nossa volta quando apresentávamos alguma coisa.”

 A verdade é que foi selecionada, “fui uma das últimas, quem escolhia as pessoas era o Carlos Pinto Coelho, e tínhamos de inventar um programa, eu decidi fazer um de culinária”, recorda. “Lembro-me, depois de ter entrado, que me disseram que tinha de envelhecer 10 anos, devia ter um ar demasiado jovial para a época. Em 1986, Serenella Andrade começa a apresentar, juntamente com Vera Roquette, “Uma História ao Fim do Dia”, um segmento infantil que consistia na leitura de um conto para crianças.

“E a partir daí, logo nessa altura, comecei a ser reconhecida na rua, coisa que eu evitava, era muito envergonhada, chegava a ir ao supermercado de óculos escuros”, confessa.

Demorou algum tempo a habituar-se a esse reconhecimento público, mas depois o constrangimento passou e começou a lidar com as abordagens “simpáticas” das pessoas com naturalidade. “O mais curioso é que fui ganhar por mês na televisão o que ganhava num dia nos meus anteriores trabalhos, sobretudo de tradução simultânea, mas eu comecei a gostar deste novo mundo”. 

Serenella é conhecida por muitos programas que foi fazendo ao longo das últimas décadas, entre os quais “Jogo de Cartas”, “SMS”, “Casa Cheia”, “Domingo é Domingo”, “A Hora da Sorte”, “Portugal Azul”, “Verão Total”, “Casamentos de Santo António”, entre outros. “Gostei muito de fazer “A Casa de Artistas”, com o José Nuno Martins, lembro-me que numa temporada ganharam os irmãos Rosado, que viriam a formar os Anjos”, explica. 

Diz que o seu sonho era fazer televisão num programa realizado pelo seu pai, mas isso não aconteceu. “Eu acho que fazia televisão para o meu pai, se ele dissesse que estava bem não me importava com a opinião de mais ninguém”, confessa. 

Serenella só entrou nos quadros da RTP a 1 de Janeiro de 2000, aos 37 anos, mesmo na viragem do milénio. Passados uns anos também começou a pensar que podia fazer reportagem, e não só apresentação, “Ligaram-me do Porto a perguntar se não gostava de experimentar, e decidi arriscar… e adorei a sensação de estar na rua com pessoas, no meio delas, a ir à procura de histórias giras”, confessa. “No início encomendaram-me logo umas 14 pequenas reportagens para a “Praça da Alegria”. Depois mais tarde tive uma rubrica no “Agora Nós”, em que entrevistava uma pessoa, e agora estou a adorar a rubrica que faço com a Inês, “À Mesa com Elas””. Muita gente diz-lhe na rua que seguiram a dica delas e adoraram o Restaurante que elas aconselharam. 

Mulher de família, mãe de três filhos,  Miguel, Bernardo e Sofia (todos já adultos) Serenella conta-nos que conheceu o marido, José Carlos, através de uma amiga comum, e que foi amor à primeira vista. “Eu tinha 19 anos, e namorava desde os 15 com um outro rapaz, mas um dia fui com a minha amiga ao Café Roma e o Zé Carlos apareceu, e houve logo uma faísca entre nós”, relata.

“Não começámos logo a namorar, até porque eu tinha de acabar o namoro que tinha, mas depois a coisa concretizou-se e estamos juntos até hoje, somos um casal feliz”, explica. 

Serenella diz que é uma mãe descontraída, mas sempre preocupada. “Tento passar segurança aos meus filhos, claro que me preocupo, mas não sou tão ansiosa como o pai, ele é mais”, explica. Quando os filhos eram pequenos, o casal contou com uma grande ajuda da sogra de Serenella. “O meu marido perdeu o pai muito cedo, por isso a minha sogra tinha muita disponibilidade, e tanto eu como o Zé Carlos tínhamos vidas muito ocupadas, eu às vezes tinha de ir ao Porto uns dias por causa da Praça da Alegria”, recorda. 

A apresentadora diz-nos que “nunca fui muito dedicada ao lar, no sentido de estar sempre a cozinhar, a limpar, a passar a ferro, porque a minha vida profissional não me permitia”. “ O meu marido cozinha bem e eu sou ótima a fazer pratos italianos, a minha lasanha é muito apreciada cá em casa, um dia destes vou à Nossa Tarde cozinhar para vocês”, afirma. 

Diz ter uma ótima relação com os irmãos Ricardo e Hugo, apesar de não se telefonarem todos os dias, “temos aquele típico grupo de Whatsapp e até trocamos receitas italianas”, explica. Luís Andrade faleceu em 2013, e Maria Antonieta em 2021. A perda dos pais foi um golpe muito duro para os irmãos Andrade. “Mas fizemos uma coisa muito bonita”, confessa a apresentadora.

Passámos o Natal de 2021 em casa deles, a família toda, e a recordar os bons momentos que ali passámos com os nossos pais, fizemos os pratos que a minha mãe costumava fazer, tudo igual. Foi muito comovente”. 

Ainda hoje, Serenella olha para duas molduras que estão perto de um dos sofás de sua casa. Uma tem uma foto que lhe foi oferecida por Luís Aleluia, em que está o seu pai, o ator também já desaparecido, e José Carlos Malato, os três muito bem-dispostos. A outra tem uma fotografia da sua mãe.

“Todos os dias olho para estas duas fotografias e desejo um bom dia aos meus pais, gosto de os recordar assim, a sorrir”, conclui.