Nascida e criada no campo, é no meio dos animais e das árvores de fruto que se sente bem. O gosto pelo acordeão foi algo natural que começou aos 10 anos. O desejo de criança de ver uma sala de baile animada por si realizou-se. Conversamos olhos nos olhos com Rosinha, a cantora popular conhecida pelas letras marotas que animam festas por todo o país. 

Quando não está nos palcos, trata da sua horta das suas árvores de fruto, acompanhado pelos seus três cães e pelo seu porco de nome Chouriço que já tem 8 anos. É assumidamente uma mulher do campo, é aliás com os pés na terra que se sente bem. Vive na Colónia Agrícola de Pegões e conta a história. “Este é um terreno que pertence à Herdade de Pegões Velhos, que pertencia ao importante industrial e comerciante; depois a propriedade ficou para o estado uma vez que ele não tinha filhos. O objetivo era fixar a mão-de-obra nas grandes explorações da região. Então a herdade foi dividida em casais agrícolas, distribuídos pelas freguesias de Faias, Figueiras e Pegões Velhos, com uma média de 20 hectares cada, incluindo habitação, instalações agrícolas, etc. Na altura do estado novo houve uma espécie de concurso para quem quisesse viver nestas terras e trabalhá-las. Tinham que ser casais até aos 30 anos, com ou sem filhos. Veio uma prima da minha mãe que a trouxe, ainda adolescente, e a verdade é que por cá ficaram até hoje. A minha mãe casou e aqui ficou também. Sempre trabalhou e ainda trabalha no campo. Eu cresci aqui e é aqui que me sinto em casa. Houve uma altura em que juntei dinheiro e decidi comprar um apartamento no Pinhal Novo, mas como diz o ditado galinha do campo não gosta de estar presa e vinha aqui todos os dias ver a minha família e a restante família. Claro que não aguentei muito tempo. Vivi lá 3 anos e depois voltei.” (risos) 

Perto de si, Rosinha tem a mãe (o pai já faleceu) e as primas que são muito castiças. “Acabamos por viver em comunidade apesar de cada uma ter a sua casa. Quando estou fora, estou tranquila porque há sempre alguém que me olhe pelos animais e pela horta.” Rosinha, nasceu numa manhã fria de Inverno a 5 de Janeiro de 1971, no hospital do Montijo, mas a sua casa sempre foi em Pegões Velhos.  

Foi crescendo no campo, a assistir a bailaricos e a atuações de ranchos folclóricos, o que aos 10 anos de idade despertou em si o gosto pela música. “Eu adorava dançar e ir a bailes, ficava impressionada com a animação que a pessoa que estava em cima do palco conseguia dar a uma sala inteira. Pensava para mim que adorava fazer aquilo mas sem pensar propriamente em ser cantora.” Inscreve-se numa escola de música na localidade onde vive e aí começou a dar os primeiros passos. “O gosto pelo acordeão foi algo natural sem que ninguém lhe tivesse pressionado a tocar este instrumento musical. “Achava o instrumento maravilhoso e a verdade é que na altura nem havia ensino de acordeão no conservatório, não era um instrumento muito considerado.” Rosinha salienta que “não venho de uma família de músicos, ninguém toca na minha família, o gosto pelo acordeão e pela música são meus.” 


Depois de várias apresentações na escola de Pegões, com excelentes resultados, participou em vários concursos e festivais com sucesso. Depois de alguns anos de desenvolvimento e aprendizagem musical, decidiu entrar no Instituto Musical Vitorino Matono em Lisboa, para evoluir a sua técnica musical.
Foi então que Rosinha começou a atuar em bailes e festas, tornando-se numa acordeonista-vocalista sempre com ajuda da mãe. “As pessoas só me conhecem de há uns anos para cá mas eu estou na música há 35 anos! Foram muitos anos a fazer tudo sozinha com a minha mãe, a acartar material, a atuar e ela sempre comigo.” Maria Joana, mãe da cantora, tem atualmente 78 anos e é a primeira a ouvir as músicas da filha antes de saírem. O que é que ela diz? “Ò filha, valha-me Deus, estas ainda conseguem ser piores que as anteriores” (risos). 

A grande oportunidade de Rosinha surgiu no ano de 2007, o convite para gravar um álbum de originais surge da parte de um grande amigo, Paquito Braziel. “Conhecemo-nos desde miúdos, fomos colegas de escola e ele também tocava acordeão em bailes e foi ele que me desafiou. Pensei porque não?! O meu pai já andava muito doente e eu pensei que a minha mãe já não me podia acompanhar tanto!”  

Rosinha grava o seu álbum de originais, com um género musical muito brejeiro/popular bem ao gosto dos simpatizantes da música popular portuguesa, e “começo logo com o sucesso de eu levo no pacote e nunca mais parei.” (risos) As músicas têm uma componente muito divertida onde a malicia das letras é colocada conforme a interpretação que cada um lhes possa atribuir. “Cada vez que tenho um novo álbum peço à minha mãe para ouvir primeiro e ela diz sempre – aí filha que esta ainda consegue ser pior que a anterior!” (risos) A cantora conta desde o primeiro álbum que todos os anos se junta com o amigo Paquito e “ele escreve as letras, eu dou a minha opinião e entre os dois sai sempre música animada, sai tudo das nossas cabeças.”
Rosinha é atualmente um fenómeno de vendas de discos e uma das principais artistas de música popular. “O meu sucesso não é sorte, é fruto de muito trabalho.” 

A cantora tem uma irmã cerca de 5 anos mais nova que mora em Carcavelos e “que é completamente citadina. Somos muito diferentes nesse aspeto”. Foi com ela que decidiu apanhar a primeira bebedeira porque assume não bebe nem fuma. “Foi há poucos anos, nunca me tinha embebedado e gostava de saber qual era a sensação. Comecei a beber um uísque quando a fui buscar, depois fomos para o jardim da cerveja bebi outro, fomos para o Coconuts outro… ela mudou de uísque para cerveja e moral da história, a mistura embebedou-a a ela e tive eu que a levar a casa, sem me sentir sequer zonza!” (risos) 

Gosta de se aventurar, meteu na cabeça que queria ir a Fátima a pé, “não tinha nenhuma promessa para cumprir nem nada disso, queria ir para saber o que se sentia. “Fiz o caminho todo, cheguei lá um pouco antes do grupo, pedi na altura ao meu pai para me ir buscar e pronto. Fiquei a saber como era.” 

A imagem de marca com óculos também é algo de que fala sem problemas. “Não tenho, na vista direita, uma membrana que protege o olho da luz solar logo tenho que usar obrigatoriamente óculos escuros, e ao fim de tantos anos a usá-los ganhei uma sensibilidade maior ainda. Porque isso é mesmo uma necessidade”.  

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