Aos 12 anos Hugo Soares teve o seu primeiro ataque de pânico, na faculdade a ansiedade e a agorofobia tomaram conta de si durante semanas e aos 36 anos esteve 2 meses fechado em casa devido a um bornout que trouxe ambas as fobias à tona. Uma história de superação que tem como objetivo falar de saúde mental e ajudar outros com os mesmos sintomas.

Os ataques de pânico são mais comuns do que se possa pensar. Nos casos em que são frequentes levam a uma mudança nos comportamentos e rotinas, o que afeta a saúde mental e física e a vida social e profissional. Hugo Soares, de 41 anos e professor do ensino profissional em três escolas de Lisboa na área da comunicação e dos eventos, é um desses casos.

Aos 12, durante um treino de futebol, teve o seu primeiro ataque de pânico e tem lidado com este problema desde então. E sabe porque se sentiu assim? “Não faço ideia, não sei de onde vinha aquela ansiedade no futebol, se era o medo de falhar, se era não estar à altura, na altura não tinha consciência. Hugo Soares assume que desde aí sempre teve “uma relação muito estreita com os medos”. Em criança e ao longo de toda a adolescência ficava frequentemente ansioso se tivesse de dormir fora de casa ou andar sozinho na rua. A mesma ideia assaltava-lhe o pensamento: se se sentisse mal, não teria ninguém próximo de si para o ajudar.

O desconforto foi-se “manifestando aos poucos”, à medida que crescia, sem que soubesse que nome dar ao que sentia, mas o problema agravou-se na idade adulta. “Imagine se ia ao cinema ou a um sítio qualquer procurava estar sempre junto da porta porque caso me sentisse mal tinha sempre ali uma escapatória. Concertos, por exemplo, era muito difícil porque estar rodeado de gente sem ver uma saída era algo que me transtornava logo!” Os pais de Hugo sempre o tentaram ajudar e teve sempre acompanhamento de psicólogo e psiquiatra bem como recursos a hipnose e outras terapias. No 3º ano da faculdade a ansiedade, o pânico e a agorofobia tomaram conta dele durante semanas.

“A ansiedade eu ia sempre tentando disfarçar mas naquela altura fui-me mesmo abaixo…”

Aos 36 anos, uma nova crise desta vez muito severa de agorafobia, precipitada por um burnout, “prendeu-o“ em casa durante dois meses inteiros. “Foi em 2018, ano em que tive a infelicidade de ter um burnout por excesso de trabalho, era brand manager na Solinca, e foi uma bola de neve! Quando tentava sair da porta do prédio para fora, começava a sentir uma ansiedade aguda, que me impedia de tomar decisões conscientes. Na realidade, racionalmente, eu sabia que não haveria problema nenhum, mas o bloqueio era muito forte”, conta Hugo Soares. Refere que tomava muita medicação, “esta ajudava mas por outro lado também não me fazia sentir eu completamente.” Foram precisos vários meses até Hugo conseguir voltar a andar sozinho na rua, completamente autónomo, um “processo muito lento”, construído, literalmente, passo a passo. Primeiro, “o objetivo era ir apenas até à caixa do correio, junto à porta do prédio, depois conseguir ir até ao fim da rua, mais tarde ao supermercado e assim sucessivamente, alargando, aos poucos, a sua “bolha de segurança”. A Joana, sua namorada há 17 anos e com quem está casado há três “fez toda a diferença na minha superação, se não fosse ela nem sei o que seria de mim… ela e os meus pais que sempre estiveram ali para o que fosse preciso.”

Conta que continua a fazer terapia e nunca descobriu exatamente a raiz do problema “mas consegui arrumar muitas gavetas que estavam muito mal organizadas. E naquele momento tão duro em que estive em casa prometi que assim que estivesse bom iria fazer um evento sobre saúde mental para ajudar todos aqueles que estão a passar pelo mesmo que passei ou para aqueles que ainda estão em recuperação. O evento serve ainda para pessoas que tenham familiares com algum tipo de condição mental menos favorável e /ou estudantes da área que queiram reforçar conhecimento junto dos profissionais e testemunhos que irão estar presentes.”

Hugo descreve o impacto que estas crises tiveram na sua vida, desde ter sido forçado a abandonar o desporto até ter deixado de sair de casa, com medo de voltar a sentir pânico. Hoje, mais estável fala abertamente sobre a sua condição porque defende ser imperativo normalizar as questões relacionadas com a saúde mental. “O meu objetivo é fazer da Trigger Conference o maior evento de saúde mental do país. Já precisei muito de ajuda. Agora é altura de ajudar os outros.”

Saiba mais em:
www.triggerconference.com