Foi há 77 anos que Francisco Teles nasceu na vila do Vimieiro, concelho de Arraiolos. Aos 7 anos foi para a escola, onde esteve até aos 11, altura em que o pai lhe perguntou se queria ser pedreiro, barbeiro ou sapateiro? “Barbeiro não gosto, pedreiro com o calor no Verão não dá para mim, prefiro ir para sapateiro porque estou dentro de casa e não me molho”, foi esta a resposta. “Na altura, havia 109 sapateiros na minha terra. Fazíamos o calçado e vendíamos nas feiras. Havia sempre muito trabalho. Assim que fiz a 4ª classe, com 11 anos, comecei logo a aprender o ofício de sapateiro e a dedicar-me à música”. Começou a ser aprendiz de sapateiro e simultaneamente aprender música. “A música andou sempre a par e passo com a arte de consertar sapatos.”
Aos 12 anos, integrou a banda da terra, numa altura em que muita gente estudava música, o pequeno Francisco meteu na cabeça que ia evoluir e enquanto não foi para 1º clarinete não sossegou. “Quando era gaiato o maestro zangava-se e dava-nos uma estaladinha, tínhamos que estudar a lição e ter muito respeitinho!”
Aos 13 anos, era considerado mestre na arte de consertar sapatos. “Aos 13 já fazia botas e sapatos sozinho”
Durante praticamente dois anos exerceu a profissão, porém a falta de trabalho, fizeram com que aos 15 anos fosse aprender a trabalhar no campo, actividade que executou durante toda a adolescência.
Vimieiro era terra de sapateiros e músicos. Para não ir para a guerra em Angola, aos 19 anos quis ir para uma banda militar e acabou por vir para Lisboa. Chegou a tocar em 25 bandas ao mesmo tempo. O curso de maestro foi tirado no exército, mas também frequentou o conservatório.
Francisco casou-se aos 24 anos, altura em que trabalhava na Carris, empresa em que desempenhou várias funções, entre elas, a de cobrador. “Fui estofador, correeiro, guarda freiro e ao mesmo tempo era tocava clarinete na banda da carris e era solista”. Apesar de durante algum tempo a sua actividade principal não ter sido a de sapateiro, nunca deixou de fazer biscates e aceder aos pedidos de conhecidos, amigos e familiares.
Francisco é bastante exigente em todos os papéis que desempenha. “Como músico exijo que os músicos não se enganem e com os sapatos também não me posso enganar! Dizem que faço milagres mas o que faço é tentar facilitar a vida às pessoas para não gastarem muito dinheiro que a vida não está fácil.”
Há mais de vinte anos, Francisco montou uma loja no mercado de Oeiras. Estabelecer-se como sapateiro foi das melhores decisões da sua vida, pois desde então que tem bastante trabalho como sapateiro. Trabalha todos os dias, pelo menos sete horas. “Adoro o que faço. Gosto de todas as coisas mas o que me dá mais trabalho são as capas dos sapatos fininhos das senhoras. Sou um sapateiro à moda antiga, sei fazer de tudo, mas agora já tenho as máquinas necessárias! Faço sandálias, ainda arranjo sapatos, carteiras, apliques para botas!”